Normalmente, quando se fala em aumentar salários, o trabalhador demonstra ser competente e o salário é aumentado de acordo com a performance do trabalhador: é a boa performance do trabalhador que causa o aumento de salário. Em Portugal, os governos acham que se aumentarem o salário aos trabalhadores, muitas vezes por pressão dos sindicatos, a performance vem atrás. Ainda por cima aumentam os salários igualmente, independentemente da performance individual. É isso que acontece quando se aumenta os salários da função pública acima da produtividade, é isso que acontece quando se decide cortar o horário de trabalho da função pública de 40 para 35 horas (se a pessoa não trabalhar o mesmo em 35 horas que trabalhava em 40, isto é o equivalente a um aumento de salário). Que incentivo tem um trabalhador incompetente para melhorar a sua performance, se vai receber o mesmo que quem é competente?
Com os gestores da Caixa Geral de Depósitos, já estamos prontos para aumentar os salários -- será que eles só aceitaram ir para estas posições com aumento de salário? Já agora, publiquem o currículo destas pessoas e a sua última compensação para nós termos melhor noção do valor destas pessoas. Nem sabemos se esta gente vai ser competente e gerir a CGD sustentavelmente. Sim, sustentavelmente, porque se gerirem para optimizar o curto prazo, maximizam a sua compensação, mas sacrificam a viabilidade da organização no longo prazo. Como é uma entidade estatal, se "parecer bem" no curto prazo, os gerentes são compensados por isso; se estiver mal no longo prazo, o contribuinte é que paga, isto é, privatizam-se os "lucros" e socializam-se as perdas.
Que incentivo têm os gerentes para efectuar uma boa gestão? Nenhuma!!!
Com a minha experiência de vida - e também, admito, depois de ler Stiglitz profusamente -, tenho sérias reservas em dizer que os salários refletem a perfomance. Nem em Portugal, nem em lado nenhum. Seguramente, os CEOs não ganham muito porque são bons; ganham muito para que tenham medinho de serem despedidos se não se portarem bem. É um mercado que não fecha (clears). É aliás a cartilha que o Banco Mundial usa quando aconselha os países pobres a aumentar os salários de alguns funcionários públicos mais sujeitos à corrupção.
ResponderEliminarÉ uma análise positiva, não normativa. Eu não sei se concordo que se paguem valores astronónimos a gestores, mais não seja porque isso também reduz a motivação dos trabalhadores abaixo. Algo que muita gente ignora.
"é a boa performance do trabalhador que causa o aumento de salário."
ResponderEliminarRita, tem de fazer uma sessões de esclarecimentos sobre essa teoria de manual aos trabalhadores do calçado e vestuário, que calçam e vestem a realeza europeia e ganham o salário mínimo, porque legalmente o patrão não pode pagar menos. Pares de sapatos vendidos por 300 euros, feitos por trabalhadores a ganhar 500 por mês. Ou aos milhares que fazem um excelente trabalho para o patrão, a recibos verdes, a ganhar menos do que o valor do salário mínimo. Podemos estar por aqui muito tempo a falar nisto.
Eu gosto muito de ver as sapateiras e os sapateiros nos anúncios de publicidade de sapatos da Vogue. Parece que só quem faz os sapatos é responsável pelos sapatos: quem os desenha, os supervisores de manufactura, os compradores de pele, as modelos da publicidade, os fotógrafos da publicidade, os designers de página, os fulaninhos do marketing, os outros fulaninhos que levam os clientes a jantar fora para ver se eles compram sapatos para as suas lojas, o vendedor da sapataria que nós temos de aturar, etc., todos esses vivem do ar, logo quem deve ganhar o salário todo da manufactura dos sapatos são os sapateiros.
EliminarO salário todo? Rita, não se preocupe, que nessa indústria de milhões, os operários que fabricam os sapatos apenas ficam com o que lhes dão, que mal dá para pagar a renda de casa e criar os filhos. E é um trabalho técnica e fisicamente difícil que exige anos de formação e prática. Se conhecer algum caso que sustente a sua tese de que a sua boa performance lhes permite negociar melhor salário, avise. Mas posso indicar-lhe muitos outros casos de profissões em que isso não é verdade, deixe-lhe apenas um exemplo.
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