domingo, 4 de junho de 2017

Closed circuit

Saí há cerca de uma hora do cinema, que fica mesmo ao lado do estádio olímpico - onde houve um concerto dos Depeche Mode. Por causa do concerto, o metro estava à pinha. No altifalante, avisava-se que o comboio não ia parar em London Bridge, por causa de um "incidente policial". Houve quem ficasse chateado pelo incómodo - London Bridge é uma das estações de comboios mais importantes da cidade, e sem dúvida a mais importante a sul do rio -, mas a maioria ria-se e trocavam impressões sobre o concerto. Quase pareceria que não sabiam o que tinha acontecido. Mas sabiam. 

É difícil de traduzir para português, mas admito que eu próprio tenho uma tendência para racionalizar a coisa. Esta é uma cidade enorme, de 9 milhões de habitantes. No ano passado, houve mais de 10 mil esfaqueamentos na cidade. A estatística é o que é, e pode soar um pouco bruta. E é. Mas é preciso que a vida continue, sempre. É um cliché, claro, mas se a vida não continuar, não nos sobra nada. Onde estremeço nesta tentativa de racionalização é na tomada de consciência dos locais onde os ataques aconteceram. O meu local de trabalho nos últimos 3 anos e meio está para aí a 2 ou 3 minutos a pé do Borough Market e de London Bridge, fazendo com eles uma espécie de triângulo. A rua que agora está cheia de jornalistas é onde durante 2 anos apanhei diariamente o autocarro, e onde hoje apanho o comboio para ir e vir de casa. O Borough Market é onde vou beber copos com os colegas do trabalho. Estive lá ontem. Vauxhall, já agora, é no coração do bairro onde a comunidade portuguesa, sobretudo emigrada nos anos 70 e 80, vive. Chama-se Little Portugal. Fica mais longe. 

Outra coisa que poderá interessar aos jornalistas é que houve um filme há uns anos precisamente sobre um ataque terrorista em Borough Market.

11 comentários:

  1. Como é possível haver gente que tenta compreender e desculpar estes terroristas?

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    1. Por acaso não entendi o seu ponto e é uma observação genuína, porque sei que não sei alguns pontos que gostaria de saber e, na verdade, julgo-me certo de saber que ninguém verdadeiramente sabe (passe as repetições e os trocadilhos).

      O Luís não sabe explicitar e não é vergonha nenhuma, porque o core business dele é Microeconomia. Por isso, eu substituo-me a ele, explicitando o que está implícito e a que a sua ciência não pode chegar.

      É que o autor do postal parece referir a sua mentalização para não ser vencido pelo terror e, não menos, os pormenores que o fazem abanar, porque, sendo demasiado próximos, não tem maneira de distanciá-los. Se isto não é dizer, de maneira muito humana, e clara, que apenas não prescinde de ser capaz de continuar a pensar, então é mesmo porque eu não entendi nada, e não é uma figura de estilo, é a certeza de que falhei em algo.

      Mais, há por aí gente a dizer inanidades sobre os terrorismos e muito poucas que tenham aprendido o mínimo sobre o estado da arte de percepção das personalidades sombrias

      Palavra chave: "Dark Tetrad" [com cautela e caldos de galinha, racionalidade limitada, ou não, evitar concluir pelo riso, pela roupa, pelas falinhas e o raio que os parta, ou até a PqosP, principalmente se estiverem a usar títulos para venderem ficções de trazer por casa, quer dizer, por um sótão bolorento]

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    2. Quem é que desculpabiliza os terroristas, tiro o mais possível ao lado do alvo?

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  2. E também há gente [tão limitada de raciocínio e tão próxima da forma maniqueísta e fundamentalista de olhar para o mundo, direi, tão fanática ideologicamente como são os terroristas - os islâmicos e todos os outros - de todos os matizes] que consegue ler coisas que não estão no texto do Luís Gaspar.
    É gente que só sabe debitar a cassete.
    É gente que ainda se não deu conta de que, depois das cassetes, já houve os CD, as PEN, agora há a Nuvem (informática, é melhor explicar para que compreendam) e essa gente continua a debitar a velha cassete bolorenta.
    Eu tive um leitor de cassetes cá em casa, como quase toda a gente, deitei-o fora quando surgiram os primeiros computadores Micro e Spectrum, em meados dos anos de 1980.
    Safa, não há pachorra para estes cromos.

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    1. Mas para o computador Spectrum, precisávamos de um leitor de cassetes para carregar os jogos (que vinham em cassetes), não era? Pelo menos o meu 48K precisava.
      Um amigo meu, mais endinheirado, tinha um 128K que tinha leitor de cassetes incluído.

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    2. Luís Aguiar-Conraria:
      Já não me lembrava desse pormenor, eu tive, precisamente, um 128K.
      Eu referia-me, metaforicamente, às velhas cassetes nas quais cristalizaram certos discursos, como o de um bem conhecido partido português nos dias de hoje.
      Que exigiam um leitor das ditas, que eram em fita de enrolar.
      Mas se os desse partido têm a fama e o proveito, há muito boa gente que tem o proveito sem a fama.

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    3. Lembro uma vez de um tipo se queixar ao meu pai de que o Cunhal tinha sempre a mesma cassete. Ao que o meu pai lhe respondeu: e vê lá tu que nem assim aprendes.

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    4. Ahahah, grande resposta essa, Luís.

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  3. Luís Aguiar-Conraria:
    E o seu pai saberia se o homem queria comprar aquele produto, já nesse tempo, fora de prazo?

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    1. Não faço ideia. Apenas a resposta me ficou na cabeça, por ter achado uma resposta com piada.

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  4. "O meu local de trabalho nos últimos 3 anos e meio está para aí a 2 ou 3 minutos a pé do Borough Market e de London Bridge, fazendo com eles uma espécie de triângulo."
    Três pontos, desde que não colineares, formam sempre um triângulo. Ainda bem que estás bem.

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