quinta-feira, 8 de junho de 2017

Contradição nos mercados

Ouvi a entrevista de Bill Gross no podcast da Business Surveillance e achei que havia muitas ideias interessantes. Diz ele que vivemos um período de baixa volatilidade que é anormal, o que tem repercussões na forma como se investe e se poupa. Gross explica que períodos de baixa volatilidade requerem baixo retorno (a volatilidade é uma medida de risco). No entanto, o mercado accionista apreciou bastante num curto espaço de tempo. Por exemplo, o S&P 500 apreciou 8,71% desde o início do ano e 14,85% nos últimos 12 meses, o que é, para além de anormal, insustentável.

Se isto fosse uma situação sustentável e de baixo risco, então nada impediria alguém de se endividar a baixas taxas de juro para investir no mercado accionista e aproveitar o diferencial entre as taxas de retorno da bolsa e as taxas de juro de empréstimos, o que aumentaria as taxas de juro até que se eliminasse esta oportunidade, pois cada vez seria mais difícil obter empréstimos para comprar as acções e apreciar o preço destas. Foi o que sucedeu com a crise dos empréstimos subprime.

Uma das preocupações actuais é mesmo o de haver empresas a endividar-se para financiar a compra das próprias acções, o que aumenta artificialmente o preço das acções -- satisfaz os accionistas e beneficia a administração, mas não melhora a performance da empresa -- e devia também aumentar a taxa de juro, travando a exequibilidade desta estratégia a longo prazo; mas as taxas de juro continuam bastante baixas. Gross acha que as baixas taxas de juro são culpa dos bancos centrais, que distorcem a percepção de risco.

Em períodos de taxas de juro baixas, há o risco de se aumentar a dívida além da capacidade de manutenção da mesma caso as taxas de juro aumentem. A estratégia aconselhada nestes períodos é refinanciar dívida antiga para aproveitar a baixa da taxa de juro, mas evitar a emissão de nova dívida para assim limitar os custos de manutenção da dívida caso as taxas de juro comecem a aumentar.

Gross é bastante pessimista, afirmando que vivemos um período de alto risco comparável ao de 2008, pois os investidores estão a pagar preços muito altos para o risco a que se estão a expor -- se o preço é muito alto, então é cada vez menos provável que consiga aumentar indefinidamente, logo os investidores sofrerão duplamente quando os preços pararem de aumentar (ou diminuírem) e as taxas de juro aumentarem, se financiaram a compra com emissão de dívida a curto prazo.

1 comentário:

  1. Pelos vistos a velha técnica de comprar acções próprias continua a resultar, e à vista (não tanto, porque poucas pessoas vão fazendo este alerta. Chapeaux!)

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