domingo, 22 de setembro de 2019

Método científico actualizado

A Universidade de Coimbra decidiu que, para iniciar um programa de combate às mudanças climáticas, a melhor medida seria eliminar o consumo de carne bovina. A medida ainda irá ser estudada porque ao eliminar-se a carne de vaca, os seus nutrientes terão de ser substituídos por outras coisas, que ainda não se sabe o que irão ser. Porquê a carne de vaca? Porque a produção de carne bovina é maior fonte de produção de dióxido de carbono.

Exactamente de que estamos a falar, perguntam? Ora, nas cantinas da Universidade de Coimbra consomem-se anualmente 20 toneladas de carne de vaca. A Universidade de Coimbra tinha, em 2015, 24.817 alunos, o que nos dá uma média de um consumo de carne de vaca per capita anual de 806 gramas. Pronto, se calhar, só menos de metade dos alunos é que come nas cantinas e o consumo de carne de vaca é mais próximo de 2 Kg/pessoa/ano.


O consumo de carne per capita em Portugal era de 88.35 Kg/ano em 2013. Ou seja, os alunos da UC não comem muita carne de vaca, nem sequer o consumo de carne de vaca deve ser a pior ofensa ao ambiente da Universidade. Não sabemos qual a pior ofensa porque o Reitor achou por bem delinear as medidas primeiro do que queria implementar para que a UC fosse a primeira universidade neutra em emissões de carbono do país.

Normalmente, em universidades onde predomina o método científico, ir-se-ia fazer uma recolha dos dados, que se analisariam para ver que medidas teriam mais impacto e teria de se controlar efeitos secundários. Por exemplo, no caso do consumo de carne de vaca, suponha-se que há alunos que não querem deixar de comer carne bovina e que passam a ir a restuarantes fora da universidade mais vezes. Será que a Universidade conseguiu reduzir a pegada ambiental ou apenas a passou para outra entidade?

De acordo com a página do Banco Mundial, em 2008, quando a economia ainda estava em crescimento, a agricultura em Portugal emitiu metano equivalente a 4.398 mil toneladas de dióxido de carbono (não há dados mais recentes, mas a fonte original é a Comissão Europeia). Já o uso de combustíveis líquidos contribuiu, em 2014, quando a economia estava em mau estado, com 24.232 mil toneladas de dióxido de carbono em Portugal (não há dados mais recentes). Dado que os alunos não parecem comer muita carne de vaca e vivem num local urbano, eu apostaria que o modo como se deslocam para as aulas contribui muito mais do que o que comem na cantina.

Com esta medida, o reitor apenas indicou que não conhece o método científico, não acredita na liberdade de escolha, desconhece os problemas ambientais, e nem tem conficança na capacidade analítica dos investigadores da universidade que lidera. Um óptimo líder português, portanto.

Declaração de conflito de interesse: formei-me na Universidade de Coimbra, mas, felizmente, o Reitor era outro.

3 comentários:

  1. Pergunto: o que é que o CO2 faz de mal ao planeta?
    Nem cheiro tem...

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    1. "Nem cheiro tem..."

      O que mais há para aí é gases perigosos com cheiro (por alguma razão se usava canários nas minas - para detetar gases perigosos mas inodoros)

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    2. "Dado que os alunos não parecem comer muita carne de vaca e vivem num local urbano, eu apostaria que o modo como se deslocam para as aulas contribui muito mais do que o que comem na cantina. "

      Não estou certo se hoje em dia quem vive em locais urbanos não poluirá menos com as suas deslocações do quem vive em meios rurais.

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