domingo, 24 de janeiro de 2021

Version 2.265

No outro dia explicaram-me que os americanos são muito burros, com uma cultura geral muito má. Mais do que uma pessoa já me tentou explicar isto, então depois do Presidente Trump aparecer é bastante frequente. Quem tem mais tacto, diz também que é um povo muito capaz, com muita investigação e desenvolvimento tecnológico, coisas assim, mas que isso não invalida ser um povo burro ou ignorante, como preferirem.

Por minha vez, como tenho uma certa atração por coisas simétricas, gosto de virar a coisa ao contrário e expressar que os portugueses não são lá muito inteligentes. É obviamente uma generalização. Sou frequentemente acusada de usar muitas generalizações, o que é sempre péssimo quando dão mau aspecto aos portugueses, mas muito bem apontadas quando é a propósito dos americanos.

Eu acho os americanos muito malucos, varridos mesmo, basta ver o circo que foi o Trump. Para mim não é muito mau ser maluco; tento ser pelo menos um bocadinho chanfrada, o que até abona a favor de eu ser americana. As minhas generalizações não são tão diferentes das generalizações dos meus conterrâneos portugueses, o que, a meu ver, evidencia que ainda sou muito portuguesa.

Uma das formas de refutar um argumento em Portugal é dizer que generalizações são inválidas, o que por si só é uma generalização e até invalida certas figuras de estilo, como a sinédoque e a hipérbole. Mas nós portugueses contemporâneos estamos em boa companhia porque a questão já era problemática para o Camões, que também cometia o pecado de ser português, de generalizar e exagerar. Aliás, os Lusíadas começam logo mal: "As armas e os barões assinalados, que da ocidental praia lusitana..."

Estas questões são muito divertidas porque imaginemos que Portugal e EUA têm a mesma prevalência de pessoas menos dotadas ou malucas. Dado que há 328 milhões de americanos e 10,2 milhões de portugueses, cada português que encontramos representa mais de 30 americanos. Ora, se eu encontro um programa de TV em que 30 americanos mais um português são ridicularizados, é natural que eu pense que o problema é mais comum nos EUA do que em Portugal, mas não é. E não conseguir discernir o cerne da questão é parte do problema.

1 comentário:

  1. https://www.publico.pt/2021/01/25/opiniao/opiniao/explicar-andre-ventura-aviso-navegacao-1947784

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