Esta crise, que dura há vários anos e que começou nos EUA, é, em muitos aspectos, terreno desconhecido para todos nós. Sendo assim, é natural que muitos de nós tenhamos errado em diversos pontos nas nossas análises passadas e que tenhamos omitido opiniões de que hoje discordamos. É um sinal de inteligência reconhecer erros passados.
Foi com um espanto imenso que ontem ouvi, numa entrevista a Maria de Flor Pedroso, Carlos César dizer que hoje voltaria a assinar o Manifesto dos 74. Maria de Flor Pedroso, talvez por não acreditar na resposta, insistiu na pergunta sublinhando a palavra hoje. Carlos César manteve a resposta. Estamos a falar do presidente do Partido Socialista, não estamos a falar de um syrizico qualquer que esteja no PS, em vez do BE ou do Livre, por engano.
Vale a pena lembrar os dois principais riscos que foram apontados ao Manifesto dos 74, no ano passado. Primeiro, foi dito que gritar aos quatro ventos que não se podia/queria pagar a divida podia levar a uma subida das taxas de juro, com todas as consequências trágicas para a sustentabilidade da dívida que daí poderia vir. O que vemos na Grécia sugere que este risco não era despiciendo. Segundo, alertou-se para o risco de o Banco Central Europeu deixar de aceitar a dívida como colateral dos bancos, pondo em causa a muito frágil estabilidade do sector bancário. Mais uma vez, o que vemos na Grécia devia-nos fazer lembrar que estes riscos eram bem reais.
Esse manifesto foi também subscrito por 74 economistas estrangeiros. Entre os 74, estava uma das estrelas do actual governo grego: o ministro das finanças, e especialista em Teoria dos Jogos, Yannis Varoufakis. Não que Varoufakis seja má companhia, mas parece-me que já deu provas suficientes dos riscos que as suas estratégias encerram.
O presidente do Partido Socialista dizer que, se fosse hoje, tornava a assinar tal manifesto mostra que o PS é liderado por pessoas empenhadamente levianas.
António Costa, ontem, continuava a falar da necessidade do governo português estar ao lado dos gregos contra a austeridade. O objectivo do PS para Portugal parece cada vez mais assentar em conseguir mais recursos da UE. Mas mesmo que fosse esse o melhor caminho (que não é), a estratégia que seguem, colando Portugal à situação grega, é errada, e perigosa.
ResponderEliminarAntónio Costa anda por aí sozinho pelo país a pregar, mas quando algum socialista abre a boca uma pessoa fica apreensiva. A seguir à apresentação da Agenda para a Década, pensei que pessoas como o Mário Centeno e o nosso estimado colega de blogue Manuel Cabral passassem a intervir mais. Posso discordar ou pelo menos desconfiar de algumas das suas propostas (numa palavra: revejo-me na análise que o Luís fez ao documento), mas são pessoas moderadas, com bom senso, sérias. Infelizmente, o PS está cheio de lunáticos.
ResponderEliminarMas também é capaz de ser a única posição que lhes dá alguma chance de vitória contra o governo actual, não?
ResponderEliminarNão sei quantos votos ganharão. O meu, perderam.
EliminarO que eu queria dizer era que em termos políticos, pode fazer (algum) sentido, por muito disparatado que seja: Se em termos económicos as coisas estão a melhorar (por devagar que seja), será mais difícil ao PS atrair swing voters do centro para o seu lado, dado que o PSD pode usar esses resultados, o sucesso (grande ou menos grande, dependendo das opiniões) do programa de ajustamento, e os benefícios da estabilidade política como argumentos para seduzir esses eleitores. Nesse caso, a única esperança do PS para ganhar as eleições será atrair swing voters do outro lado espectro político, e nesse sentido defender medidas ou posições mais Varoufakianas pode não ser a pior opção.
EliminarIsto tudo assumindo - ou melhor, aceitando relutantemente - que quando o bom senso, e o oportunismo político vão a jogo, o resultado é quase sempre o mesmo:
https://www.youtube.com/watch?v=GSokT4XoMS0
Não sei como o caro Aguiar Conraria se queda tão surpreendido!!
ResponderEliminarPorque sou parvo, porque sou parvo.
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