Oiço na TVI 24 um
economista da Universidade Nova (penso que se chama Luís Rato) enumerar meia
dúzia de factos sobre o “Estado social” português. Exemplos. Nos últimos
três anos, foram transferidos do Orçamento do Estado (OE) 3,4 mil milhões de
euros para cobrir os défices da segurança social. O fundo de estabilização (um
subsistema de capitalização da segurança social) cifrava-se em 2014 em pouco
mais de 3 mil milhões, o suficiente para pagar seis ou sete de meses de pensões
em caso de emergência. Além disso, foi necessário transferir, em 2014, mais
de quatro mil milhões do OE para a Caixa Geral de Aposentações. Neste momento,
há 1,5 activos para 1 pensionista. Segundo um estudo recente da Comissão
Europeia, em 2060, mantendo-se as actuais tendências (e consideraram nesse
estudo uma taxa média de 8% de desemprego), cada português receberá apenas 30%
do seu último salário.
Não falta muito tempo para
que haja apenas um activo para um pensionista, ou seja, não tarda muito que
cada pensionista receba, grosso modo, apenas os cerca de 34% do salário (correspondente à chamada TSU) de cada
activo (ou 26%, se o PS, caso ganhe as eleições, avançar com a sua proposta
abstrusa de cortar 8 pontos na TSU, 4 para os trabalhadores e 4 para as
empresas).
Atenção, e estes
números do desespero existem apesar de todas as medidas e reformas que foram
tomadas nos últimos 15 anos: introdução de um factor de sustentabilidade (na reforma
de Vieira da Silva em 2007) e o concomitante aumento da idade da reforma (o tal
economista, que aparenta estar na casa dos 40, fez os cálculos e só se poderá
reformar aos 68,4 anos), a contribuição extraordinária de solidariedade, etc.
Estes números
esclarecedores, que bastam para fazer disparar todos os alarmes, não parecem,
todavia, preocupar muito comentadores/pensionistas como Bagão Félix ou Manuela
Ferreira Leite, que desvalorizam o problema. Percebe-se. Também se percebe que
os partidos não queiram falar no assunto. Os pensionistas votam e os que vão
receber a reforma em 2060 andam por aí a estudar, a divertir-se ou a tratar da vida e têm mais que
fazer do que se preocupar com o futuro daqui a meia dúzia de meses quanto mais
daqui a 10, 20, 30 ou 40 anos.
Esta gente (partidos e
a maioria dos comentadores), uma cambada de irresponsáveis, com o argumento de que
discutir o problema equivale a alimentar um conflito geracional, está a empurrar
com a barriga e a arranjar um conflito geracional explosivo no futuro.
A demografia de Portugal causa-me pesadelos e depressão. É horrível. Eu digo muitas vezes que em Portugal, há a tendência para fazer análises estáticas a problemas que são dinâmicos.
ResponderEliminarNum sistema de repartição como é o português a demografia é o factor-chave. O crescimento económico, quando muito, atenua o problema mas não altera nada do que está escrito no post. Se há um activo para um pensionista, este recebe, grosso modo, os tais 34% do salário do activo - a TSU. Quer dizer, em bom rigor, nem isso recebe, porque o dinheiro da TSU não é só para financiar as pensões, serve para financiar todas as outras prestações sociais. Curiosamente, o tal economista que refiro, diz que nos EUA todos os relatórios sobre este assunto trabalham num cenário de 75 anos, repito, 75 anos, ou seja, têm em conta pelo menos três gerações.
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