A segunda temporada de "True
detective" é ainda melhor do que a primeira. Três detectives de três diferentes
polícias (local, estadual e federal) juntam-se para deslindar um homicídio.
Pelo meio, há políticos mafiosos, mafiosos que querem deixar de o ser, mas que
são arrastados pelas contingências para as origens. Todas as personagens andam
perdidas no mundo. No quarto episódio, um dos detectives (Taylor Kitch)
desabafa para o colega (Colin Farrell):
- Não sei viver neste mundo.
- Olha lá para fora. Olha para mim.
Ninguém sabe.
Este desabafo de um “true detective” fez-me lembrar uma das ideias centrais da “teoria geral da vida humana” (ou metafísica) de Ortega y Gasset. A vida é um caos onde cada um está perdido. O homem suspeita dessa verdade, mas aterroriza-o ficar cara-a-cara com essa terrível realidade. Procura ocultar a realidade com uma “cortina fantasmagórica”. No fundo, sente que as suas “ideias” não são verdadeiras, mas utiliza-as como trincheiras para se defender da sua vida e afugentar a realidade. Ao contrário, um homem lúcido e de “cabeça clara” é aquele que se liberta das “ideias fantasmagóricas” e observa de frente a vida; percebe que tudo nela é problemático e difícil, e sente-se perdido. Aquele que não se sente verdadeiramente perdido está condenado a perder-se e jamais se encontrará. Como isto é a mais pura das verdades – a saber, que viver é sentir-se perdido – aquele que o aceita já começou a encontrar-se e a descobrir a sua realidade autêntica. Instintivamente, como um náufrago, procura agarrar-se a alguma coisa. Esta “visão trágica, peremptória, absolutamente verdadeira, porque se trata de salvar-se, far-lhe-á ordenar o caos da sua vida.” Estas são as únicas ideias verdadeiras: as ideias dos náufragos. O resto, dizia Gasset, é retórica, pose e farsa.
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