quarta-feira, 1 de julho de 2015

O que a Grécia e o euro precisam

Kenneth Rogoff explica aqui o falhanço do plano de resgate da troica à Grécia. De facto, são condições necessárias para o sucesso de um programa de resgate a determinação do governo (que Portugal deve acima de tudo ao Primeiro Ministro Pedro Passos Coelho) e, em segundo lugar, uma base de apoio alargada da sociedade (com que Portugal também contou). Lembro-me da primeira leitura que fiz do memorando de entendimento e de ter pensado que muitas das medidas que lá estavam há muito tinham sido identificadas como necessárias. Muitas das medidas nunca tinham sido aplicadas por falta de determinação dos nossos governos. 
Como diz Rogoff, tendo falhado o plano de resgate na Grécia é preciso procurar outras formas de actuação que impeçam o seu afastamento da UE e uma tragédia humanitária.
De forma a proteger o euro, este novo programa deveria ser desenhado em novos moldes, sem a participação do FMI.  

6 comentários:

  1. Concordo em absoluto com a tua última frase. É uma grande vergonha ter o FMI metido na embrulhada da UE. A UE tem alguns dos países mais ricos do mundo e o FMI tem alguns dos países mais pobres. Que os ricos se dêem ao luxo de não pagar dívidas a uma entidade que lhes empresta dinheiro dos pobres é escandaloso.

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  2. para além dessa razão, seria também uma forma de distinguir o novo programa dos anteriores, porque já não estamos a falar da mesma crise.

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  3. Concordo com a ideia de que a ownership é um aspecto importante para o sucesso de um programa de ajustamento.
    No entanto, tenho fortes dúvidas de que este tenha sido o principal problema da Grécia.
    As duas maiores diferenças do caso português para o Grego foram :
    1) que os desequilíbrios eram mais acentuados na Grécia do que em Portugal (em 2009 Portugal tinha uma dívida próxima da média da Zona Euro, a Grécia já estava entre os mais endividados)
    2) O sector exportador português tinha maior peso e estava a crescer a bom ritmo antes da crise de 2009, recuperou bem nos anos seguintes (2010 e 2011) e conseguiu manter-se a crescer entre 2012 e 2015.
    Os Gregos, em termos de ajustamento, não fizeram menos do que Portugal. Quando se olha para a procura interna, os gastos públicos, os salários, as pensões, etc,vê-se que estes contraíram mais na Grécia do que em Portugal. O problema do ajustamento grego foi que o PIB também contraiu muito mais. E isso não teve tanto a ver com opções que fizeram ou não fizeram, mas antes com a estrutura da economia, que já antes da crise tinha um sector exportador com menor peso do que o nosso, e que não estava a ter a mesma dinâmica do português. A falta de um sector exportador que compensasse parcialmente a diminuição da procura interna foi o que determinou a forte recessão que a Grécia sofreu, que fez com que a austeridade que aplicaram não tivesse conseguido diminuir a divida no PIB (pois diminuiu mais o PIB do que equilibrou o saldo).

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  4. Tenho também as minhas dúvidas sobre o sucesso do ajustamento português e ao efeito do ownership no nosso caso.
    Uma perda de PIB de 8%, uma recuperação tardia e que só agora está a ganhar algum ritmo, uma perda de PIB potencial muito forte (com diminuição da população activa e do stock de capital, e uma perda de activos e de confiança nas instituições), em que persistem desequilíbrios e níveis de endividamento muito superiores aos inicialmente previstos, não me parece um enorme sucesso. O ajustamento, e a aplicação da austeridade em toda a Zona Euro foram muito mal conduzidos.
    No caso português o ownership, com a ideia de ir para além da Troika, ajudou a criar alguma credibilidade no empenho do Governo, mas também contribuiu para acentuar a recessão em 2012 e 2013, com efeitos muito limitados na melhoria das contas públicas, e efeitos muito negativos no desemprego e na saída de trabalhadores do país. No final, a crise do Governo de 2013 destruiu muitos dos ganhos de credibilidade, e acabou por ser a inversão de politica do BCE desde 2012 (fazendo o mesmo que os EUA já estavam a fazer), que gerou um aumento de confiança, que permitiu que esmo com essa crise Portugal tenha conseguido financiar-se.
    Se compararmos o ajustamento português com o irlandês, ou mesmo com o Espanhol, em vez do Grego. Ou se compararmos o ajustamento da Zona Euro com o dos EUA, dificilmente podemos aplaudir seja o que for.
    Com mais dívida, menos PIB, e muito pior avaliação em termos de rating, Portugal hoje financia-se nos mercados. Tudo leva a crer que, se em 2011, o BCE estivesse a implementar as mesma politicas, tal também teria sido possível, eventualmente até em melhores condições.
    Por ultimo, pergunto apenas, quais eram as grandes diferenças entre o memorando e o PEC 4?
    É que tirando a questão da baixa da TSU (que não chegou a ser aplicada) o que ficou no memorando foi muito semelhante ao que já estava no PEC4 e nas 50 medidas anunciadas em Dezembro de 2010.

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    1. Comparar os EUA com a Europa não parece muito justo - os mecanismos são muito distintos e é difícil comparar as situações. Detroit entrou em default e Porto Rico parece estar a caminho. A Grécia fez o mesmo mas depois de assegurar a continuidade do financiamento.
      Depois, o BCE só conseguiu força política para ir além do seu mandato porque os países intervencionados estavam a fazer um ajustamento - mesmo a Grécia estava a tentar cumprir - pelo que me parece redutor olhar para o passado e dizer que podia ter sido melhor. A UE é constituída por uma data de democracias (não é só na Grécia que há necessidade de respeitar a vontade democrática) e os governos têm que responder aos seus eleitorados.
      O problema do PEC 4 está precisamente no 4.

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  5. Manuel, em relação ao teu primeiro comentário apenas acrescentaria que Portugal tinha um endividamento privado mais elevado. Sempre achei que Portugal não era a Grécia.
    Em relação ao segundo comentário: não falei em enorme sucesso do processo português. Depois de termos parado de crescer em 2001, tendo acumulado desequilíbrios muito sérios desde a década de 90, que apenas o Governo de Durão Barroso tentei corrigir (mas nessa altura vingou a tese de que havia mais vida para além do défice), eu não esperaria taxas de crescimento muito elevadas. Mas assinalo a diminuição do desemprego, a correção do desequilíbrio externo e dos défices orçamentais. Acho que estamos em condições de crescer mais (como o PS também reconhece, até de forma mais optimista que a coligação) porque apesar das dificuldades do nosso programa de ajustamento houve, como também salientaste, aspectos positivos na recuperação que se iniciou em 2013 (alguns que vinham de trás como o aumento das exportações).
    Não me parece que o anterior Governo tivesse condições para implementar este programa (apesar de o ter negociado) - mas aqui vamos de certeza discordar!

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