segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Sintonia de pensamentos

No outro dia, quando estava a a ler o Expresso online, foi-me sugerido um artigo que eu desconhecia.Li-o; é chocante, mas não surpreendente: relata a forma como no século XVI os mouros eram mantidos como escravos, havendo mesmo uma indústria de reprodução dos mesmos. Ou seja, as pessoas de origem moura eram tratadas assim como nós tratamos os animais hoje.

Fiquei chateada de não ter lido o artigo no ano passado, pois poderia ter dito qualquer coisa aqui no blogue. Hesitei em fazê-lo quase um ano depois da sua publicação, mas mantive o artigo aberto numa tab do meu browser porque não conseguia esquecer-me do assunto. Como a Sara me fez o favor de introduzir o tema dos mouros (e nem tínhamos combinado!), vou aproveitar a boleia dela para vos recomendar a leitura ou re-leitura do tal artigo.

Quando eu leio estas coisas, penso no que será a vida daqui a 500 anos...

O Segredo dos Escravos Reprodutores

A passagem foi escrita em italiano, no século XVI, e é assim que surge no espólio da Biblioteca da Ajuda. Traduzida, revela um português estranho aos leitores contemporâneos e uma realidade difícil de acreditar. “Tem criação de escravos mouros, alguns dos quais reservados unicamente para fecundação de grande número de mulheres, como garanhões, tomando-se registo deles como das raças de cavalos em Itália. Deixam essas mulheres ser montadas por quem quiserem, pois a cria pertence sempre ao dono da escrava e diz-se que são bastantes as grávidas. Não é permitido ao mouro garanhão cobrir as grávidas, sob a pena de 50 açoites, apenas cobre as que o não estão, porque depois as respetivas crias são vendidas por 30 ou 40 escudos cada uma. Destes rebanhos de fêmeas há muitos em Portugal e nas Índias, somente para a venda de crias.”

~ Ler mais no Expresso, 8/12/2015

12 comentários:

  1. Às vezes penso que daqui a 500 anos vamos olhar para a vida dos cães actuais como agora olhamos para a vida dos escravos.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Eu tenho a certeza que não demorará 500 anos...

      Eliminar
    2. Já olhamos para a vida dos velhos como nem olhamos para a vida dos cães

      Eliminar
  2. Convem ter isto em perspectiva: sec XVI. Nessa altura toda a gente era um bando de selvagens. Todos uns para os outros. Os mouros na terra deles tambem tratavam os seus escravos da mesma forma.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Pois é! Mas já pensaste que, daqui a 500 anos, o que nós hoje achamos civilizado será considerado selvagem?

      Eliminar
    2. Se formos para fora do mundo ocidental, bom, ainda hoje existem escravos. E nem é preciso ir muito longe de Portugal para os encontrar. Na Mauritânia há escravos ainda hoje em dia. Por lei a escravatura está proibida mas há muito pouco tempo. Menos de dez anos, talvez. Na prática continua a existir e é tolerada pelas autoridades. É algo, de resto, que existe em todo o Sahel, nuns países mais, noutros menos, nuns mais tolerada, noutros menos, mas existe em toda a região. Até no Ghana, um país avançado para os padrões regionais, existe escravatura.

      Há muitas culturas tribais para as quais o conceito de escravatura é normal e não concebem, sequer, o mundo sem a sua existencia.

      Eliminar
    3. Já nos anos 80 em reportagens sobre a escravatura na Mauritânia dizia-se que era ilegal mas continuava a ser praticada - creio que o que se passa é que, como as proibições são ignoradas, cada novo regime político que sobe ao poder publica o seu decreto de ilegalização a escravatura, dizendo que agora é que é.

      Eliminar
    4. Não excluo essa possibilidade, de todo, embora me faça alguma confusão dado o que realmente é a Mauritânia.

      Isso de cada governo fazer leis iguais a anteriores e dizer que agora é que é, é um modo de vida em boa parte de África. Na realidade, e isto em quase todos os países do continente, os Estados não conseguem impôr a sua autoridade em vastas partes dos seus territórios e, aliás, dada a estrutura social nem isso é desejavel dado levar muito facilmente a guerras civis. Que não são mais do que as guerras tribais de tempos ancestrais com nome e armas modernos. Por outro lado muitas vezes não há, sequer, quaisquer intenções dos governos em aplicar essas leis. Publicam-nas porque os Europeus e os Americanos, para lhes darem dinheiro, exigem uma série de coisas, grande parte delas sem qualquer sentido dados os contextos locais. Ora, o que se faz em muitos países é simplesmente escrever e publicar para lá umas coisas mas não há, depois, qualquer consequência disso. Esta coisa tem diminuído muito dado os Chineses estarem a substituir os Ocidentais nos dinheiros - e influência - no continente. Onde estes são chatos e picuinhas, aqueles não se intrometem o mais mínimo nos assuntos internos dos países.

      Eliminar
  3. Rita, não é necessário ir tão atrás para encontrar essa prática. Foi comum, aliás, em todos os sítios onde a escravatura existiu e era algo tão normal como os escravos serem forçados a trabalhar ou as suas punições. A reprodução forçada de escravos é algo tão antigo como a escravatura e inerente à escravatura em si mesma. Aliás, foi precisamente essa actividade que permitiu à escravatura continuar a existir nos EUA até 1865 quando o transporte internacional de escravos tinha sido abolido no início do século. Há ainda uma questão económica que nunca passou desapercebida a ninguém. É muito mais barato reproduzir escravos na própria fazenda do que ter que andar a compra-los de tempos a tempos. Sendo que, se houvesse parideiras em quantidade suficiente podiam até vender-se os excessos e fazer negócio negreiro.

    ResponderEliminar
  4. "Escudos"? No século XVI já haviam escudos?

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Talvez aquando da tradução, tenham convertido para escudos, o que é um bocado estranho. O texto original estava em italiano.

      Eliminar

Não são permitidos comentários anónimos.