domingo, 31 de julho de 2016

Península roubada

Ontem à noite, um grupo de quatro argelinos tentou fugir ao controlo de passaportes usando a pista do aeroporto. Este foi fechado e rapidamente se instalou o receio de que fosse o cumprimento da promessa reiterada do Daesh de recuperar a Península Ibérica. Parece que ainda não foi desta, mas é preciso compreender que o ISIS nunca vai aceitar que o Al-Andalus lhes tenha sido roubado por uma coligação dos reinos de Portugal, de Castela, de Leão, de Navarra e de Aragão, que, como se sabe, andavam sempre em batalhas uns contra os outros e só foram capazes de se entender para dar porrada nos mouros.

31 comentários:

  1. Lá está... É por causa da predominância da memória de longo prazo!

    Algumas pessoas mais velhas até dizem que "Lembro-me de há 90 anos como se fosse ontem. Ah... Se eu me lembrasse tão bem do ano passado!

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  2. Não tinham nada a recuperar. Antes deles já a Peninsula Ibérica era católica.

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  3. De vez em quando fala-se muito desse desejo de reconquistar o Al-Andalous (até com um mapa que de vez em quando renasce na internet), mas não me parece que, nas prioridades do dia a dia, o Al-Andalous (ou, já agora, a possessões europeias do Império Otomano ou da Horda do Ouro) esteja no topo de grupos como o ISIS ou a Al-Qaeda: em Portugal nunca houve nenhum atentado (aliás, em termos de terrorismo importado do Médio Oriente e arredores, acho que Portugal até teve mais casos feitos por cristãos orientais do que por muçulmanos), o que eventualmente poderá ser explicado por poucos muçulmanos (e desses poucos muitos serem uma espécie de xiitas); mas Espanha já tem muitos muçulmanos (embora talvez poucos de 2ª geração?) e, embora tenha tido um atentado de grandes proporções (11 de março), deixou de ter atentados mal retirou as tropas do Iraque. Aliás, embora haja uma teoria da conspiração que diga que os "refugiados" são um plano para conquistar a Europa, eles não parecem querer vir para Portugal (muitos dos que cá são colocados, quando se dá por eles já foram para outros países).

    O terrorismo islâmico parece ter mais como alvo países que nunca foram governados por muçulmanos (França, Reino Unido, EUA, Bélgica e agora a Alemanha), parecendo ser a variável principal, ou países que intervêm nas guerras intermuçulmanas (França, Reino Unido, EUA), ou países que estão operacionalmente ligados aos primeiros (como a Bélgica, que foi alvo de ataques na sequência de a sua policia ajudar a perseguir os atacantes ao Bataclan; só a Alemanha parece sair um pouco do padrão).

    E, voltando ao que tinha dito no principio, também não há notícia que indiquem que o ISIS ou a al-Qaeda dêem particular atenção à Grécia, Bulgária, Roménia, Crimeia, etc. Mesmo os ataques contra a Rússia parecem mais motivados pelo conflito na Chechénia do que pela quebra da vassalagem do duque da Moscóvia perante o khan da Horda do Ouro.

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  4. Há prioridades, em tudo. Para a Europa é "refugiarem-se no Estado Social". Quanto a ataques também não existiam por cá antes do 11 de Setembro e depois Londres e Madrid.
    É uma questão de tempo. Em deixando entrar muitos (coisa que os americanos não permitem) os riscos só podem aumentar.

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  5. As guerras dizem que é para os ajudar por causa dos maus do ISIS. Depois eles dizem que a culpa é de quem ajuda e bombardeia e não se queixam da guerra feita entre eles.

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  6. Miguel Madeira, concordo com practicamente tudo o que disse e gostei bastante do seu post. Permita-me, porém, algumas achegas.

    1 - Essa "espécie de xiitas" a que se refere são os ismaelitas. Para certas correntes sunitas, até, os ismaelitas são considerados apóstatas. Nem sequer os consideram verdadeiros muçulmanos. Estes que vivem em Portugal são descedentes de muçulmanos oriundos do Estado Português da Índia, muitos tendo ido directamente para Portugal, outros, muitos também, primeiro para Moçambique e aquando da independência da província para Portugal.

    2 - É este realmente o motivo do meu comentário. Espanha deixou de ter atentados porque se mexeu e pôs toda a sua experiência em terrorismo em cima da mesa por forma a prevenir coisas destas. Têm sido presos muitos que estavam a preparar atentados, gente que manda dinheiro para o ISIS e vários também que regressavam ou estavam a tentar ir para a Síria juntar-se às fileiras dos patifes. Em Espanha não se brinca com essas coisas e tem realmente tido resultados importantes, mesmo havendo no Reino três focos de grande presença muçulmana e onde têm sido apanhados a grande maioria dos patifes: Catalunha (principalmente nas provincias de Gerona e Barcelona), Ceuta e Melilla. É é a um preço que muitos não estariam dispostos a pagar embora para a sociedade Espanhola seja natural.

    3 - All in all penso que a grande explicação para não haver atentados terroristas em Portugal nem coisas relevantes de apoio aos patifes prende-se principalmente com não haver practicamente patifes desse género em Portugal. A comunidade muçulmana no total representa cerca de 0,5% da população e desses, sunitas radicalizados, é possivel que existam mas provavelmente os dedos duma mão chegam para os contar.

    4 - Não tendo muito a ver especificamente com o post original penso ser um tópico interessante para reflexão pelos seus efeitos a longo prazo pelo que o deixo aqui também. A questão demográfica. Ao passo que a Europa é um continente envelhecido, o Médio Oriente é o exacto oposto. A Síria, por exemplo, em vinte anos pouco mais que duplicou a sua população e nos últimos cinquenta quase quadruplicou, valores semelhantes aos do Iraque. A Arábia Saudita, nestes mesmos cinquenta anos, quase sextuplicou o número de habitantes. Nestes mesmos cinquenta anos, a população do Irão triplicou e à Turquia já não lhe falta muito para identico crescimento. Passando agora para o Maghreb, e referindo-me sempre a um horizonte de cinquenta anos, a população Líbia quintuplicou e as Egípcia, Tunisina e Argelina triplicaram. Muito do que se vem assistindo no Médio Oriente tem por base precisamente questões demográficas. Populações que anteriormente, embora vivendo no mesmo país, viviam longe umas das outras passaram a aproximar-se demasiado e a competir por recursos anteriormente bastos para todos. Daí a haver confrontos foi um nada. Algo semelhante, de resto, ao que aconteceu no Darfur Sudanês onde as populações árabes do Norte e negras do Sul, que viveram ancestralmente separadas mas havendo água (aqui o problema foi essencialmente a água) para todos foram-se aproximando cada vez mais precisamente atrás da água que começou a escassear, a dada altura ficaram demasiado próximas e deu no que todos conhecemos. Ora, no Médio Oriente está a ocorrer algo muito semelhante: crescimentos populacionais enormes, recursos decrescentes, populações demasiado próximas e em competição, pois dá no que é natural que dê. E a Europa, logo ao lado, envelhecida e percebida como tendo recursos para todos e mais alguns. É, pois, natural que haja um movimento populacional muito expressivo dessas zonas para a Europa. O que está por ver agora é como vão os Europeus reagir a tudo isto dados os impactos demográficos e sociais (entre vários outros) que toda esta coisa tem a médio e longo prazos.

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    1. Neste momento haverá um crescimento populacional assim tão grande no Médio Oriente?

      Olhando para a taxa de fertilidade segundo a CIA, a maior parte desses países parecem ter uma fertilidade entre 2 e 3 (o Iraque e a faixa de Gaza estão nos 4 e tal, e o Irão está abaixo dos 2); é maior que a da Europa, claro, mas será assim tão grande? Alguns desses países parecem-me não estar muito longe dos tais 2 que indicam declinio demográfico (curiosamente, dá-me a ideia que Israel é capaz de estar à frente de muitos países árabes em fertilidade)

      https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2127rank.html

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    2. Miguel, alguns desses países irão, no médio prazo, estabilizar as suas populações. Pese embora as suas taxas de fertilidade ainda estarem, na maioria dos casos, acima do valor de reposição de gerações, tem vindo realmente a descer e irão estabilizar. A seu tempo. O mal, porém, já está feito. Já têm as populações que têm e, evidentemente, não se vai atirar as pessoas ao mar, não é? Em vários deles - na Arábia Saudita, desde logo - o ecossistema já não tem capacidade para sustentar tanta gente. A população destes países (como é o caso em toda a África, do Med ao Cabo) cresceu brutalmente nos últimos anos devido às questões de saúde, mesmo vindo a taxa de fecundidade a cair também, sobretudo desde os 1980s. Não só a mortalidade infantil caiu tremendamente como as pessoas vivem mais anos.

      É um problema complexo e com efeitos complicados a médio e, sobretudo, a longo prazo.

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    3. Tenho a ideia de o Hans Rosling dizer que a diferença de taxas de fertilidade se esbateu tremendamente, mas não consigo encontrar o gráfico adequado (é tudo muito sofisticado!). 60 anos é imenso... e atira-nos para lá do muro da pílula.

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    4. A primeira grande revolução contraceptiva, que permitiu reduzir drasticamente as taxas de fecundidade na Europa foi o coito interrompido. No que diz respeito à natalidade, o impacto da pílula foi inferior ao do coito interrompido.

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    5. Não tenho, Isabel. Terá de procurar ou acreditar no que lhe digo, ou não.

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    6. Eu cá acho que desde que haja coito pode sempre interromper-se, e sempre terá sido assim desde a origem dos tempos. Assim a linha da fecundidade na Europa devia ser very, very flat.

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    7. Nope. A primeira grande queda da taxa de fecundidade na Europa, cerca de 40% de quebra, foi mesmo à custa do coito interrompido. Depois a pílula contribuiu com outra queda de 40%, mais coisa menos coisa.

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    8. Mas quando é que foi isso do coito interrompido??? Alguém teve de repente uma iluminação? Eu conhecia a técnica do semicúpio com água bastante quente, que dá cabo dos espermatozóides. Mas o coito interrompido parece-me uma coisa tão básica...

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    9. "Alguém teve de repente uma iluminação?"

      Não é preciso iluminação nenhuma. As condições económicas e sociais determinam em parte as taxas de fecundidade. Perante uma nova realidade económica e social, usando os mesmos métodos que existiam antes, pode-se ter mais ou menos filhos, como me parece óbvio. Dos métodos naturais, o coito interrompido é dos menos ineficientes.

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    10. Mas eu percebo que a Isabel quer um link, não é verdade? Aí vai um: http://www.economie.ens.fr/IMG/pdf/lee_2003.pdf

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    11. Primeiro pensei que estivesse a brincar. Mas claro, há situações em que convém ter muitos filhos (uma casa de lavoura, por exemplo), outras em que convém ter poucos (um negócio, por exemplo). O problema, pelo menos até certa altura, era a mortalidade infantil. Li uma vez uma coisa sobre a roda de uma terra qualquer na Beira Alta que falava das "olheiras" (acho que já se chamavam assim!): um casal punha o bébé na roda e pagava a uma mulher (eventualmente a ama) para estar de olho nele e saber por onde andava; se vingasse, "adoptavam-no" depois de criado.

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    12. Obrigada pelo link. Não é que duvide de si (a partir do momento em que percebi que estava a falar a sério...) mas é um tema que me interessa bastante.

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    13. Eu também tinha interpretado mal o que o LAC estava a dizer - estava fazendo uma analogia com a pílula e estava assumindo que teria sido a descoberta/invenção do coito interrompido a provocar a tal redução da natalidade (ou, pondo de outra maneira, que o recurso ao coito interrompido seria a variável exógena e não endógena do processo de evolução da natalidade). Diga-se que a minha reação não foi tanto achar estranho, mas simplesmente assumir que seria algo que teria ocorrido nos primórdios da humanidade (com a descoberta da relação causal entre sexo e reprodução) e que o LAC estaria a referir-se a algum estudo indicando que, num dado momento da pré-história, as mulheres humanas teriam deixado de ter para aí um filho por ano dos 15 aos 40 anos e passado a ter gravidezes mais espaçadas (o que seria indicativo que se teria descoberto uma maneira de as mulheres não estarem permanentemente grávidas, que provavelmente seria o coito interrompido). Diga-se que não me admiro nada que esse momento tenha efetivmente existido, algures no princípio da existência humana.

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    14. Um aparte - a ideia de que numa sociedade agrícola convém ter muito filhos para ajudarem no trabalho é mais ou menos sabedoria convencional, mas tenho alguma dificuldade em perceber totalmente a lógica (sobretudo se a terra for propriedade privada); isto é, pegando da regra dos rendimentos decrescentes, se a quantidade de trabalho crescer e o tamanho da terra se mantiver igual, a produção cresce menos que proporcionalmente ao trabalho - por outras palavras, quanto maior a família, menos comida por pessoa, o que será ainda mais agravado pelo facto de que, mesmo nas sociedades mais arcaicas, as crianças passam vários anos antes de puderem produzir qualquer coisa de útil - imagino que a ideia implicita seja sobretudo ajudar quando os país já não tiverem força para trabalhar (e passem a ser uma espécie de "custos fixos"), mas aí o factor relevante talvez não seja sobretudo "agricultura" mas sobretudo "sociedades sem segurança social pública nem mercados financeiros privados desenvolvidos".

      Isso que escrevo não se aplica, claro, se estivermos a falar de uma sociedade em que as terras da aldeia sejam divididas de sete em sete anos pelas várias famílias, proporcionalmente ao tamanho de cada família (porque aí a terra também aumenta, não havendo por aí o fenómeno dos rendimentos decrescentes); também não se aplicará numa sociedade em que os agricultores tenham que pagar uma renda fixa ao senhor das terras (se 4 pessoas produzem 400 quilos de trigo, 8 pessoas produzem 700 quilos e de qualquer maneira têm que pagar uma renda de 300 quilos, então com 4 pessoas sobra 25 quilos por pessoa e com 8 sobre 50 quilos por pessoa) - mas penso que nas sociedades de tipo senhorial o mais comum é a renda ser em proporção da produção, logo voltaria a aplicar-se o que escrevi no parágrafo anterior.

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    15. Pensava que isto fosse conhecimento mais ou menos comum, mas foi erro meu. Imagino que no liceu, quando se fala em transições demográficas os profs não queiram falar em coitos interrompidos, é mais sexy falar da pílula e em auto-determinacao sexual da mulher.
      Penso que estes dados vão contra a concepção dominante de que a mulher é que controla a sua fecundidade independentemente do homem. Afinal a primeira grande transição demográfica era controlada pelo homem.
      Uma implicação disto é que na decisão de ter filhos, a mulher, mesmo tendo mais graus de liberdade, não é autônoma. Continuam a ser necessários dois para dançar o tango.

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    16. Nos meus tempos de liceu acho que (da parte dos professores) não se falava nem de uma coisa nem de outra - mas mantenho a minha opinião que não é a mesma situação: a pílula foi a variável explicativa que deu origem às transições demográficas (e talvez mais às sociais que às demográficas) dos anos 60 para a frente; já o coito interrompido não foi a variável explicativa que deu origem a essa transição demográfica que o LAC refere (não é uma questão de, como com a pílula, a demografia ter-se alterado por causa do coito interrompido ter sido descoberto/inventado).

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    17. Eu não estudei nada disso no liceu, portanto... Mas no link que me deu, a referência ao coito interrompido vem como afirmação, sem qualquer referência, coisa de que eu sempre desconfio. Fui procurar um bocado no google mas não encontrei nada de jeito (também não me esforcei muito). De qualquer modo, independentemente da eficácia, parece-me o método contraceptivo mais óbvio (para além de outro, igualmente óbvio mas nem sempre exequível, o adultério). Na Bíblia Onan usa-o para evitar gerar um filho que não será seu (uma vez que seria considerado filho do seu irmão, que tinha morrido).

      A mim sempre me pareceu evidente que só a pílula pôs nas mãos da mulher o controlo da sua fecundidade. Com as enormes alterações societais que isso implica (cá para mim, nós só estamos umas décadas à frente dos países muçulmanos, mais nada).

      Miguel, conhece a expressão "o trabalho do menino é pouco mas quem o despreza é louco"? Numa sociedade agrícola mais ou menos arcaica as crianças fartam-se de trabalhar. Ainda este fim de semana uma mulher agora com 74 anos me contava que, pelos 6, 7, 8 anos, estava encarregada de ir buscar a água à fonte: só podia com um cântaro de 5 litros e tinha de fazer umas 10 viagens por dia para os gastos todos da casa (a irmã já tinha mais força, portanto podia carregar 2 cântaros de cada vez). Aliás, as misericórdias criavam os meninos da roda até aos 7 anos, idade a partir da qual se considerava que já podiam ganhar a vida. Mesmo antes dessa idade as irmãs mais velhas cuidavam sumariamente dos irmãos mais novos, em sistemas de regadio os miúdos abriam e fechavam a água e levavam-na para onde era precisa, levavam o gado para o monte (necessário para estrumar as terras), etc. Tudo trabalhos indispensáveis à sobrevivência da família. Claro que há limites para o número de pessoas que uma dada terra pode alimentar. Por acaso há-de estar para aí a sair um livro do meu irmão sobre a paisagem rural portuguesa no séc. XX com umas coisas bastante interessantes sobre a agricultura em Portugal no limite da pressão demográfica, quando a emigração estava trancada pela guerra e os adubos químicos ainda não estavam generalizados.

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    18. "De qualquer modo, independentemente da eficácia, parece-me o método contraceptivo mais óbvio"

      Talvez por ser o mais óbvio é que talvez o texto não se preocupe muito em demonstrá-lo; mas de novo, ao que me parece o que está a ser argumentado não é o que eu (e suspeito que a Isabel PS) estava a pensar, que seria algo como "A dada altura, houve uma grande redução da natalidade porque as pessoas descobriram/passaram a conhecer o coito interrompido"; parece-me que o argumento é mais "A dada altura, houve uma grande redução da natalidade porque, devido a um conjunto de fatores, as pessoas passaram a querer ter menos filhos dos que os que tinham antes, e por isso passaram a recorrer mais ao método contracetivo que sempre tinham usado, o coito interrompido".

      "cá para mim, nós só estamos umas décadas à frente dos países muçulmanos, mais nada"

      Tenho a ideia que, até há muito pouco tempo (nem sei se isso não terá acabado só com o código penal de 1982) a pena para um marido que matasse uma mulher adúltera e/ou o seu amante ou para um pai que matasse uma filha "desonrada" e/ou o seu namorado era ser desterrado para um concelho vizinho durante seis meses, o que é quase uma permissão.

      «Miguel, conhece a expressão "o trabalho do menino é pouco mas quem o despreza é louco"? Numa sociedade agrícola mais ou menos arcaica as crianças fartam-se de trabalhar....»

      Mas todos esses trabalhos gerarão uma produção significativamente maior do que o que eles comem? Uma coisa é considerar-se que numa sociedade agrícola tradicional o custo líquido de criar uma criança é menor que numa sociedade moderna (já que numa sociedade moderna têm à mesma que lhes dar de comer e não o podem pôr a produzir); mas será que chegam a dar lucro?

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    19. "Mas todos esses trabalhos gerarão uma produção significativamente maior do que o que eles comem? Uma coisa é considerar-se que numa sociedade agrícola tradicional o custo líquido de criar uma criança é menor que numa sociedade moderna (já que numa sociedade moderna têm à mesma que lhes dar de comer e não o podem pôr a produzir); mas será que chegam a dar lucro?"

      Eu penso que sim, pelo menos em certas formas de agricultura. Na de regadio, por exemplo, que é a que conheço melhor, há uma série de culturas que seriam impossíveis de fazer sem a ajuda das crianças: a rega é extremamente "time consuming" mas não requer força nem sequer grande aprendizagem, e os adultos ficavam livres para as outras actividades. Uma criança come muitíssimo menos do que um adulto, veste o que se aproveita da roupa dos adultos... e não estou a ver que mais despesa daria.

      Mas isto é no caso da cultura do milho que era muito produtiva mas muito "labour intensive". Mesmo assim, no limite, não havia comida para toda a gente, claro. O meu irmão (com quem aprendi bastantes destas coisas, não só porque as estudou mas também porque partilhou muitos destes trabalhos em criança com os amigos na aldeia) conta que a avó dum professor dele (penso que a avó) viu pela última vez um filho de sete anos quando o pai agarrou nele e foi metê-lo num barco para o Brasil.

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    20. henrique pereira dos santos2 de agosto de 2016 às 21:36

      Alguns pontos:
      1) Estranho que na discussão só se fale na maneira de evitar filhos quando na verdade isso interessa relativamente pouco para a dinâmica demográfica porque o que interessa é quantos sobrevivem até aos dois anos (muito poucos antes dos antibióticos);
      2) Sim, há uma primeira fase em que os miúdos comem mais que o que produzem, mas é uma fase muito curta: aos sete, oito anos, um miúdo que vai com o gado para o monte produz bem mais que o que come;
      3) A produtividade cresce e a população também, ao longo do tempo. A produtividade cresce pelo aumento da mão de obra, pelas melhorias tecnológicas e de processo (por exemplo, nos quinhentos anos antes da revolução industrial inglesa o tamanho dos cavalos aumenta enormemente, o que significa um aumento do factor trabalho brutal) e pelo alargamento da área explorada (por exemplo, uma das grandes aquisições da idade média, em relação ao império romano, é o afolhamento trienal (cereal, pousio, leguminosa) em detrimento do afolhamento bienal romano (cereal, pousio) que para além de ter metade da área agrícola pouco procutiva, face ao terço medieval, ainda tem menos produtividade de cereal porque a leguminosa fixa azoto). Quando a população cresce mais rápido que a produtividade, o factor trabalho desvaloriza e o terra valoriza-se. Nessas circunstâncias o trabalho das crianças, em sociedades de base orgânica e que visam a subsistência, é um trabalho essencial e com um grande retorno para o que comem (de qualquer maneira, passam fome de criar bicho e morrem que nem tordos).

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    21. Miguel:
      "Our decision to lump coitus interruptus – the withdrawal method – with modern, appliance-based methods, may appear strange. Data limitations, discussed in Section 5, govern this decision, partly. Perhaps more importantly, Victorian England was characterised by a “general state of profound public ignorance on matters of basic sexual functioning and anatomy...even among trained doctors” (Garrett et al., 2001). This suggests information costs associated with coitus interruptus were significant. In Section 1, we also discuss societal opposition to it. The implication is that while coitus interruptus was vaguely known of and even practiced on occasion before 1850, it took a contraception revolution to get people to practice it as part of a deliberate, informed strategy to curb childbearing."
      http://pages.uoregon.edu/shankhac/uploads/Contraception.pdf

      Isabel, neste link poderá encontrar várias referências do que pretende.

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  7. Só uma pequena observação: mesmo nos mapas de grupos fundamentalistas islâmicos, o Al-Andalus não inclui toda a Península, ficando o Noroeste, as Astúrias e o País Basco de fora, por razões óbvias de ausência de ocupação muçulmana ou de ocupação apenas temporária, em fluxo e refluxo constante.

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  8. A questão é que este terrorismo tem vindo a franchizar-se. A Al-Qaeda continua mas estes do ISIS têm território ocupado e usam a imigração europeia como jihadistas.
    Os americanos não tinham estas bombas relógio lá dentro e puderam fazer a guerra extra-fronteiras que não correram o perigo que corre a Europa.
    A Europa tem de saber o que quer. Se quer patrocinar "primaveras árabes" já sabe que vai apanhar com a vingança entre portas. Se acha que a defesa inclui também o controle do ISIS então vai ter de mudar primeiro políticas internas antes de se meter em aventuras na terra deles.

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