quinta-feira, 5 de julho de 2018

Momentos lâmpada

No primeiro dia que estive em Liverpool, fui passear pela cidade depois do trabalho. Queria encontrar um sítio giro para jantar, mas debatia-me entre ir a um sítio tradicional ou a algo mais moderno. Acabei por ir ao The Alchemist porque achei a decoração moderna e a meu gosto, só que o menu não tinha grande travo a comida tradicional inglesa. Bola para a frente, pensei. Comi um peixe e acompanhei com Pinot Grigio e depois uma sobremesa.


No dia seguinte, cheguei ao escritório e um colega perguntou-me o que tinha feito. Tinha ido ao Alchemist, respondi, ao que ele me perguntou se tinha tomado um cocktail. "Não, porquê?" E diz-me que o sítio é famoso por causa dos cocktails. Oops! Senti-me um bocado pateta..

Depois do jantar, regressei ao Alchemist para investigar os cocktails. À porta, o empregado perguntou ao que vinha: "Cocktails!" Então era para me sentar ao balcão. Excelente ponto de estudo, pensei. Havia dois bartenders: um rapaz e uma rapariga novinha. Gostei da pinta dela e foi mesmo ela que me serviu. Li o menu e pensei que o melhor era confessar que precisava de ajuda. Pedi o cocktail mais espampanante do sítio. Então era um Lightbulb Moment ou um Bubblebath. Fui pela lâmpada porque precisava mesmo de claridade.

Começa ela a preparar a coisa e é bastante complicada. De vez em quando, olhava-me de soslaio, como se a avaliar se eu estava a prestar atenção. Finalmente fui servida e, efectivamente, é muito espampanante, tão espampanante que o fulano que estava ao meu lado me perguntou o que era. Só vendo o vídeo é que vocês irão compreender...

A lightbulb moment...

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Comecei a bebericar o meu cocktail muito descansada e era bastante bom. Não sei como, mas o meu vizinho, que bebia uma cerveja e parecia já estar na idade da reforma começou a meter conversa comigo. Fez perguntas sem fim, parecia a Inquisição. Reparei que eu não fiz muitas perguntas, apenas me limitei a responder. Disse-me ele que já percebia tudo sobre mim e então fui eu que percebi que estava a ser engatada.

Não é que eu seja pudica, aliás, vocês mais do que ninguém, sabem que não sou, mas ser engatada num bar com uma conversa muito superficial não é a minha praia. Achei piada quando o meu conquistador me perguntou "What about love?" e eu respondi que era uma boa canção -- é dos Heart, mas eu não tenho um coração que aguente estas coisas. Sabem que mais: sou uma mulher inteligente, poupo muito dinheiro, e tenho uma voz encantadora. Embrulhem, darlings!

Pedi outro cocktail, mas não deixei que ele mo pagasse. Nunca deixo que desconhecidos me comprem bebidas. Escolhi um Pot of Gold: é um cocktail com duas partes, um copo de geleia e a bebida em si. Come-se um bocado de geleia e depois bebe-se o líquido. Era bom. A conversa do vizinho continuou, era divorciado, a ex-esposa era dactilógrafa, muito inteligente, tinham um filho. Antes de morrer de tédio, fui-me embora.

No outro dia, no escritório, perguntaram-me o que tinha feito. Tinha ido ao Alchemist beber um cocktail. "E foste sozinha?" Efectivamente fui pela segunda vez e até me tentaram engatar. Os colegas riram-se, elas muito mais do que eles. Depois pensei em duas coisas: (1) o melhor beijo que tive foi mesmo de um rapaz inglês, mas há mais de 25 anos; e (2) a minha mãe treinou-me para não ir a bares e cafés sozinha e eu desaprendi a lição completamente -- entro sem hesitar. Deve ter havido um lightbulb moment qualquer desde ter recebido a lição.

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