terça-feira, 11 de junho de 2013

12 viagens que mudaram o meu mundo - A primeira odisseia

Andava já há algum tempo para escrever umas coisas sobre viagens.
Não sei se está muito dentro da ideia do destreza da dúvidas...
Mas as viagens que fiz exigiram destreza e foram realizadas em condições duvidosas, pelo que a coisa pode fazer algum sentido.
Tinha colocado na minha página pessoal um link com um título algo a puxar para a literatura de auto-conhecimento, que aqui repeti (12 viagens que mudaram o meu mundo).
A ideia quando as escrevi foi partilhar com os alunos uma forma diferente de viajar, que se usava em tempos remotos, e que alguns ainda usam, incluindo muitos alunos universitários de outros países europeus, e também uns poucos portugueses.

Esta primeira é curta. Mas serve para enquadrar as seguintes.

A primeira viagem sem pais.

Um dia o Luís (1) telefonou-me a dizer para ir ter com ele a São Martinho do Porto. Eu disse que sim. Isso foi o mais importante nessa viagem. Foi o ir, sair pela estrada fora no pior veículo imaginável (uma casal boss). 

E lá fui. Carcavelos, Estoril, Sintra, Ericeira, Torres Vedras, Caldas da Rainha, São Martinho… onde encontrei o Luís e onde ficámos uns dias, antes de sairmos para São Pedro de Moel. Com uma passagem pela Nazaré e depois por Alcobaça. 

Tinha 14 anos. O Luís 16. Tínhamos duas casais boss. Éramos donos do mundo.

A viagem incluiu um cabo de acelerador partido pelo caminho, substituído por uns arames e um pau, que mantinha a mota acelerada, mas não desacelerava por si só, o que seria perigoso no caso da mota ter alguma potência - algo longe da realidade da Casal Boss.  

Incluiu noites a dormir nas barracas da praia. Dias sem tomar banho. Uma volta completa às tascas da Nazaré à procura de cigarros Kentuky - para o Luís que eu nunca fui dado ao tabaco. Incluiu também um pneu furado e viagens de noite pelo meio do pinhal de Leiria com uma escuridão total pouco interrompida pela pequena lanterna que enfeitava o motociclo. 

Esta foi a minha primeira viagem independente. Sem pais nem tios. Foi viajar sozinho, sem plano, sem rede. Com dinheiro contado e sem cartões ou telemóveis. Isso marcou-me para sempre e marcou as viagens que fiz a seguir. Quem faz 500 km numa Boss, faz qualquer coisa. 

Esta foi a primeira de várias viagens de moto. Na Gilera 50cc (uma moto incomparavelmente melhor que a Casal Boss) fui de Lisboa até Caminha, e depois pelo Gerês e até ao Douro, descendo depois de Lamego para a Serra da Estrela, antes de voltar a Lisboa. Ainda com esta mota fiz algumas viagens pelo Alentejo (até Évora e Beja e várias pela costa), região Oeste e Serra da estrela. A estas viagens seguiram-se outras por Portugal, Espanha   em motos mais decentes e outras por paragens exóticas, como Timor, Vietname, Marrocos, Malásia, Cambodja, Tailândia, Indonésia, Itália e Grécia, em motos alugadas, quase sempre de qualidade algo duvidosa. Mas tal como a Casal Boss, nunca me deixaram ficar mal.


Casal Boss – Uma maravilha da mecânica Portuguesa
Caixa: 2 velocidades. Velocidade máxima 50 Km/h.
IMG_0406

(1)Nota: outro Luis que não o Aguiar-Conraria)

1 comentário:

  1. Sem dúvida que são essas viagens que marcam. Por não existirem planos, pelo facto de sabermos que pode acontecer tudo, e que teremos de arranjar solução para tudo. Mas são poucos os que tiram prazer deste tipo de viagens. E, logo na primeira aula que tive com o Professor, fiquei com a impressão que pertencia ao grupo dos aventureiros.
    Que venham muitas mais.

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