quarta-feira, 18 de agosto de 2021

Acabou a lua de mel

Nas redes sociais e na imprensa, multiplicam-se as vozes contra o que se passa com a retirada das forças americanas do Afeganistão. Há especial preocupação com a situação das mulheres e crianças e várias influenciadoras americanas apelaram para que se façam doações a causas que apoiem os refugiados, as mulheres, etc. É tudo muito previsível e demasiado triste, mas esta precipitação marca o final da lua de mel do Biden. A partir de agora, não julgo que ele conte com grande apreciaço dos americanos, mesmo dos que votaram nele.

Talvez seja defeito da idade, mas já não acredito em boas intenções e cooperação entre os povos. Não é possível impôr valores chamados ocidentais em países como o Afeganistão. É uma sociedade completamente diferente: os valores são diferentes, não há poder central, pelo contrário, é muito difuso. Não dá para mudar o país, se os cidadãos não querem mudar. Isso é uma lição que os portugueses sabem de cor. Os americanos são demaisado optimistas e acham que o modo de vida americano é superior ao de outras culturas. O certo é que muita gente quer vir para a América, mas esquecem-se que há outros tantos que não querem que a América vá para a terra deles. Excesso de "hubris", diagnosticam alguns americanos.

Mesmo assim, com o benefício de se poder olhar pelo retrovisor, uma intervenção no Afeganistão poderia ter tido sucesso se tivesse sido alicerçada em relações comerciais, em vez de poder militar. Foi assim que se desenvolveu a China que, apesar de não ser perfeita, podia ter sido pior. As intervenções na Alemanha e no Japão tiveram sucesso porque os americanos intervieram depois de os alemães e os japoneses serem humilhados por derrotas. O Talibã nunca foi humilhado; pelo contrário, a intervenção americana foi uma reação à humilhação dos EUA nos ataques de 11 de Setembero de 2001.

Correndo o risco de me iludir, talvez não esteja tudo perdido. A sociedade americana não aprova este desenlace e muitos cidadãos afegãos parecem não estar dispostos a abdicar do que tiveram, logo talvez haja alguma possibilidade de compromomisso. Não será nada perfeito, mas nesta altura do campeonato, a perfeição é inimiga da acção: preccisamos de algo melhor, não do melhor.

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