sexta-feira, 20 de novembro de 2015

A vontade dos mercados

Como é que, a pretexto dos juros da dívida pública, se continua a falar nos "mercados" e na "vontade dos mercados" quando o BCE intervém da forma que intervém impedindo qualquer ajustamento dos mercados?
Repare-se que este comentário é independente de se concordar ou não com a forma como o BCE está a intervir no mercado.

9 comentários:

  1. Não me parece que concorde com "intervém impedindo qualquer ajustamento dos mercados". As intervenções do BCE impedem ajustamentos extremos, mas não qualquer ajustamento. Digamos que "balizam" os tipos de correcções que são permitidas pelos mercados.

    De qualquer forma, não é por existirem edifícios anti-sismo que deixamos de falar da "força dos terramotos".

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    1. Prefiro outra analogia. Imagine um médico que se farta de dar medicamentos a um doente para lhe baixar a febre. Inclusivamente dá ordens às enfermeiras para que sempre que a temperatura passe os 37º C que ponha o paciente dentro de uma banheira cheia de gelo.
      É um pouco absurdo alguém vir dizer que tudo parece estar bem porque a temperatura não passa dos 37º C.

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    2. A questão é "qual é a força do put do BCE"? Se o mercado acreditasse que as coisas estavam mesmo mesmo mal (ou seja, implicitamente que as garantias do BCE não poderiam ser cumpridas por razões politicas ou económicas) os ajustamentos fariam-se (o que explica que a Grécia, apesar de tudo, não se consiga financiar a taxas negativas e Portugal consiga). Conforme eu disse o BCE amortece os choques, não consegue suspender a realidade.

      Agora, claro que dizer "as coisas não estão catastroficamente e irremediavelmente mal" não é o mesmo que dizer "as coisas vão bem". Mas por outro lado a narrativa de que "as taxas de juro explicam-se unicamente (ou mesmo principalmente) pelo estado (fundamentals) da economia" não é correta, nem quando as coisas "correm bem" nem quando "correm mal". Ou seja, procurar justificação de politicas na evolução das taxas de juro é um exercício um bocado fútil. Até porque evoluções em Frankfurt podem alterar as taxas de juro sem qualquer mudança da economia.

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    3. Segundo a analogia do doente, se ele entrar em sépsis ou morrer, não será possível ao médico "mascarar" a alteração de temperatura. Se (enquanto) isso não acontecer, a temperatura não é um indicador seguro de saúde (ou falta dela) do paciente.

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    4. Não é uma questão de garantias. O BCE interfere directamente no mercado comprando OTs a um dado preço. Logo o preço nunca pode ser muito inferior. (a não ser que o plafond para Portugal se esgotasse)
      A Grécia não é comparável.

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  2. O problema da Grécia, caro iv, é que duvido muito que o BCE esteja a adquirir títulos da respectiva dívida. Como sabemos, só pode fazê-lo mediante o rating de quatro agências, e, não tendo eu presente se alguma delas dá uma notação suficiente ao estado grego, tenho fundadas dúvidas que isso aconteça, pois mesmo no caso português, apenas uma o faz neste momento.

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  3. Noutra onda, a intervenção do BCE - como as anteriores do Fed e do BoE - são completamente "iliberais", pelo que, aqueles que estão sempre a encher a boca com o suposto domínio "neoliberal", deviam repensar bem o que dizem. Mas claro que "neoliberalismo", na sua carga injuriosa, é apenas uma versão aggiornata de "fascismo".

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  4. Desde que o BCE mantenha a mesma política, as variações dos juros não poderão ser vistas como o resultado do "mercado"? Comparando com o exemplo do médico - se as instruções do médico se mantêm, e mesmo assim a febre começa a subir, não quererá dizer que o doente está a ficar pior?

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  5. A "Vontade dos Mercados" é uma ficção parecida com a "Vontade de Deus", a "Força do Destino" - quem não acredita é porque não tem Fé suficiente. É por isso que cada um vai servindo à concorrência o mesmo tipo de veneno que recebeu sem que alguém diga coisa com coisa - há alguns dias foi Costa para Passos, como réplica ao que este lhe fizera duas semanas antes. Enfim, se os economistas não começararem a pôr este tipo de coisas em pratos limpos quem o fará? Há por aí um complexo dos economistas em relação aos psicólogos...

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