sexta-feira, 20 de novembro de 2015

All in

Assumindo que Passos Coelho se recusa mesmo a manter-se em gestão, e que Cavaco sabe que qualquer governo, incluindo um de iniciativa presidencial, precisa de não oposição da maioria dos deputados, é razoável também assumir que Cavaco sabe que precisará dos votos dos deputados do PS para validar qualquer solução que saia da sua cabeça. Não me surpreenderia se a jogada por detrás de todo este teatro fosse a seguinte: o Presidente apresenta um caderno de encargos que seja simultaneamente impossível de aceitar por Costa - por violar as promessas feitas à esquerda - e que a direita dentro do PS possa credivelmente defender como razoável; um caderno de encargos deste tipo, por exemplo, incluiria o congelamento do salário mínimo e a manutenção dos cortes dos funcionários públicos enquanto o défice não estivesse em linha com o acordado com as instituições europeias, a quem se tem de dar confiança; Costa não teria outra solução que não rejeitar o caderno de encargos, o que então geraria um tumulto dentro do PS; este tumulto levaria à demissão de Costa; Cavaco nomeia um governo de iniciativa presidencial, comprometido com a convocação de eleições no Verão, que os deputados do PS não mandariam abaixo por não terem uma alternativa credível no curto prazo.

É uma jogada arriscada, mas não me surpreenderia que o político profissional há mais anos no ativo, em fim de uma carreira cheia de ambição pessoal e abundante em deslumbramento consigo mesmo, acreditasse que podia ficar na História. 

9 comentários:

  1. Tenho dúvidas que um caderno de encargos impossível de aceitar levasse a um tumulto dentro da bancada socialista. Temos que compreender que nem todo o PS está representado nos deputados socialistas que são escolhidos a dedo pelo líder.
    O cenário mais provável seria uma simples rejeição por António Costa, voltando a atirar a bola para Belém. Cavaco ficaria de mãos atadas, porque uma rejeição das condições por AC não implica que um governo de iniciativa presidencial passe no parlamento, e estando o governo de gestão de Passos Coelho posto de fora as possibilidades são nulas. Cavaco não pode impor coisa nenhuma porque não tem plano de backup.
    Aliás, diria que AC neste momento tem possibilidade de rejeitar qualquer acordo proposto pelo presidente, mesmo que eventualmente aceitável, se tal simplificar as coisas para as presidenciais ou para a aprovação de um orçamento. Ou seja, se Cavaco faz raise, António Costa sim pode empurrar o resto das fichas.

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    1. "Tenho dúvidas que um caderno de encargos impossível de aceitar levasse a um tumulto dentro da bancada socialista. Temos que compreender que nem todo o PS está representado nos deputados socialistas que são escolhidos a dedo pelo líder."

      Miguel, acho que nao percebeu o meu ponto. O tumulto viria da rejeição do caderno de encargos, não da sua apresentação. E viria da rejeição do caderno de encargos, se o dito caderno pudesse ser visto como razoável para uma parte importante dos deputados do PS.

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  2. Costa nunca se irá demitir a não ser que tenha uma oportunidade melhor. Ele nunca admitirá a derrota. Arranja-lhe um emprego excelente no Reino Unido e pode ser que consigas que ele se demita...

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    1. Rita, não tenho a certeza que lhe restasse muita margem se os deputados lhe tirassem o tapete. Outra questão é se é provável que Cavaco consiga apresentar um caderno de encargos que seja simultaneamente inaceitável por Costa mas razoável para uma parte importante dos deputados. Na minha opinião, não é provável, e daí achar que a jogada de Cavaco, se for esta, é arriscada. Mas não impossível para quem tem tanta confiança em si mesmo. Vamos ver.

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    2. Bem, já imaginas que a minha opinião é que o nosso ilustre PR gosta de jogadas arriscadas.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Não é necessário fazer raciocínios complicados. Amanhã vai ouvir Miss Piggy, o Tio Patinhas, o Calímero e Mr. Bean sendo impossível prever se terminará então ou se, na próxima semana, auscultará Mr. Magoo, o sapo Cocas e a Gata Borralheira.

    Uma vez que o que é impossível prever não entra nas contas, temos de cingir-nos à data mais longe, no final da próxima semana caso indigite Costa, como me considero certo de saber que vai indigitar. Mais não sei.

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  5. Para essa estratégia julgo que basta que seja exigido a Costa que apresente uma moção de confiança ao programa de governo no parlamento, e que do programa de governo conste que o tratado orçamental não vai ser violado unilateralmente.

    Costa precisa do PCP para aprovar uma moção de confiança, e duvido muito que o PCP vote a favor de um programa que diga que tratado orçamental não pode ser violado unilateralmente.

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  6. O Presidente da República neste momento não tem qualquer margem de manobra para impor nada, está completamente de mãos e pés atados. Quis-se armar em valente, querer condicionar a formação de um governo e saiu-lhe o tiro pela culatra.

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