quarta-feira, 11 de novembro de 2015

Quem estará do lado certo da história?

Poucas palavras para uma resposta. Como diz hoje Áurea Sampaio no Público, a inevitável fusão da direita deixará os social-democratas que existem no PSD (quem ouviu ontem Manuela Ferreira Leite na TVI 24?) órfãos. António Costa, que não é de todo como os comentadores da direita o pintam, poderá ser o responsável por um reordenamento partidário que reconstitua o centro como ele era (o tal que permitia entendimentos). Não há certezas, mas a pergunta é legítima: quem estará do lado certo da história? 

17 comentários:

  1. Também já tinha pensado o mesmo. Conversando com um colega (já há cerca de um mês, quando começou a "novela") a minha ideia era que a solução esperada seria cisões dentro dos partidos (PS e PSD) e criação de de um (ou dois) partidos "ao centro". O meu colega objectou-me (corretamente) que nos partidos actuais a vantagem de "ficar dentro" ultrapassam em muito as potenciais vantagens de criar novas facções. A lei eleitoral e a experiencia do PRD também apontam no mesmo sentido.

    Isto dito, a reconfiguração do PS como um (o?) partido "do centro" não será uma coisa fácil por razões históricas E ideológicas. Em relação ao PSD as questões ideológicas poderim ser menos relevantes (o PSD sempre foi mais pragmático que ideológico), mas questões práticas (o facto de não existir geralmente uma maioria sociológica explicitamente de direita poderiam facilitar a migração de parte do partido para um posicionamento ao centro) tem de ser compensadas com a questão identitária, que foi forjada em lutas contra o centro esquerda muito mais do que com a esquerda mais extrema.

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  2. Eu penso que cisões "moderadas" (como a ASDI e, noutro plano, o Livre/Tempo de Avançar, para não falar dos hipotéticos 9 deputados do PS que poderiam salvar o governo) são raras - creio que mesmo o género de disposição e temperamento pessoal que leva uma pessoa a ser "moderada" torna-o também pouca dada a grande ruturas.

    Dito isto, ainda ando a tentar perceber o caso Pacheco Pereira e o que se passa exatamente na cabeça dele - a única maneira de perceber uma lógica nas posições dele é assumir que ele levou a sério a conversa das gorduras do Estado.

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  3. Já agora, eu diria que historicamente o PS foi "o" partido do centro, o partido moderado por excelência (mesmo para fazer grandes manifestações ou comícios, tanto o PSD como o PCP eram tradicionalmente mais aguerridos que o PS) - mesmo as suas raízes (a oposição republicana tradicional) têm mais a ver com o espaço que noutros países foi ocupado por partidos como os Radicais franceses ou até os Liberais ingleses, do que com a maior parte dos partidos social-democratas europeus; já o PSD dá-me a ideia que foi quase desde a origem uma estranha aliança entre a Ala Liberal e o salazarismo (deixando o caetanismo para o CDS).

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  4. Portanto, a sua justificação para o PS assinar um não acordo com três partidos de extrema esquerda, é o PSD ter guinado à direita e ter deixado orfão o centro político?

    Se assim é, a ilação a tirar é que isso é sinal de que o "centro" e a "social-democracia" em Portugal valem 32%, enquanto a "direita" e a "democracia-cristã" valem 38%. Isto depois de 4 anos de dura austeridade imposta pela tal "direita". Ou seja, em Portugal a "direita" domina o "centro" político.

    E, diga-se de passagem, que nos países normais da europa, estes dois blocos aliam-se, não governam apoiados em partidos que em 2015 lamentam a queda do muro de Berlim.

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    1. Que países normais são esses? A mim parece-me que coligações entre o PS e partidos à sua esquerda são tão ou mais comuns na Europa que coligações do PS com partidos do PPE.

      Países em que é usual o PS aliar-se (nem que seja só com apoio parlamentar) à sua esquerda:

      - França
      - Itália
      - Dinamarca
      - Suécia
      - Noruega

      Países em que é usual grandes coligações/blocos centrais:

      - Alemanha
      - Áustria
      - Países Baixos
      - Bélgica
      - Irlanda
      (poderíamos contar a Grécia, mas penso que a aliança ND-PASOK no governo de Samaras não era "usual")

      [Não estou a contar com os países do ex-Bloco de Leste que normalmente têm sistemas partidários complicadissimos; admito que os incluir pudesse alterar as conclusões]

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    2. Miguel, diga-me lá qual desses países do primeiro grupo tem um partido que lamenta a queda do muro a apoiar o governo.

      As alianças à esquerda são relativamente normais. Mas o PCP é um partido sui generis no quadro europeu. Vamos ver para onde o BE vai evoluir, mas o resultado eleitoral do Livre, a ausência do BE do governo, e os termos do não acordo não são bons sinais: para o BE continua a ser mais importante disputar o espaço do PCP que ser parte da solução.

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  5. Esta análise parece-me passar completamente ao lado da realidade. António Costa, como se verificou sempre que foi apanhado desprevenido, é um político bastante pior que aquilo que se julgava. A mim surpreendeu-me bastante.
    Ao encostar o PS à esquerda, numa coligação absolutamente estapafúrdia, sem qualquer sentido político - como se verifica pela papelada assinada - está evidentemente a afastar-se do centro e a ficar nas mãos de partidos radicais, cuja proposta política nos afasta em absoluto daquilo que tem sido o caminho trilhado pelo portugal democrático nos últimos 40 anos.
    Quanto ao radicalismo do governo da coligação, eu gostaria que alguém me explicasse em que medidas é que tal se traduziu, porque eu francamente não vejo nenhuma. Ainda pensei que fossem capazes de acabar com a RTP, mas nem isso.
    António Costa, como se prova pela sua atitude cobarde no debate do programa de governo, pela papelada assinada com os partidos à esquerda e pela actuação contrária a tudo o que disse nos últimos dois anos, mais não é que um chefe de partido (líder é uma coisa bastante distinta) desesperado, à procura da sobrevivência política a todo o custo.

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  6. Tenho sempre muita dificuldade em especular acerca do que valem os votos. Nos 38% da PàF sao certamente muitos de direita pura e dura, outros de direita "civilizada", mas também muitos social-democratas que até podem não se rever totalmente no actual PSD mas por inércia continuam a votar no partido. No PS terão votado socialistas moderados (no fundo, próximos da social-democracia) e mais à esquerda. Aqui a inércia também vale...

    O PS pode considerar-se fundamentalmente um partido do centro esquerda, mas tem em si várias sensibilidades, umas mais à direita, outras que ainda estão amarradas aquele slogan de 1974-75 que dizia "Partido Socialista, partido marxista".

    No fundo, largas faixas de votantes no PSD e PS poderiam votar em ambos os partidos (isto já era verdade quando das eleições de 1975 e assim continuou a ser). Daí que pensar numa reconfiguração partidária não é um exercício tolo, ainda que seja altamente improvável que tal aconteça sem uma considerável convulsão em ambos os partifosd (PSD e PS).

    Agora, tivesse o PSD sabido gerir a sua maioria de 2011 de outro modo, prosseguindo uma política de austeridade que era necessária e no fundo foi mais ou menos aceite como inevitável, mas sem excluir a capacidade de diálogo com as restantes forças políticas, e talvez fosse possível, em 2015, um acordo com o PS.

    Seja como for, e admitindo que existam as maiores reservas (não só nos vencedores-derrotados no parlamento mas certamente noutros sectores, ainda que por outros motivos), estamos num quadro novo e termos de esperar para ver. Não creio que devamos ter mais preocupação com esta "aproximação" do que com a aproximação dos Estados Unidos a Cuba...

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    1. "Agora, tivesse o PSD sabido gerir a sua maioria de 2011 de outro modo, prosseguindo uma política de austeridade que era necessária e no fundo foi mais ou menos aceite como inevitável (...)"
      Penso que o momento em que as pessoas deixaram de aceitar tudo como inevitável foi com a proposta da TSU. Como ninguém percebeu essa medida, muita gente passou a achar que havia muita ideologia por trás de algumas opções. Esse foi, penso eu, um momento de viragem.

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    2. Correcto, Luís, Ainda me lembro da alocução do PPC... Vi-a em Lagos, e fiquei de boca aberta!

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    3. "No fundo, largas faixas de votantes no PSD e PS poderiam votar em ambos os partidos"

      Não sei se essa confluência não será exagerada - claro que há uma faixa do eleitorado (para aí uns 15%?) que umas vezes vota PS e outras PSD (se não fosse essa faixa os resultados eleitorais eram sempre os mesmos), mas isso acontece em quase todas as democracias (e quando não acontece, como talvez na Irlanda do Norte, a coisa torna-se complicada), e penso que a maioria esmagadora dos votantes do PS nunca votaria PSD e vice-versa (e à medida que a geração que conheceu 75 vai morrendo e vai sendo substituída pela geração que cresceu nos governos de Cavaco Silva, cada vez será mais assim).

      Compare-se com a relação entre o PSD e o CDS, cujas diferenças acho que são praticamente nulas - duvido que haja muitos eleitores do CDS que tenham objeções de principio a votar eventualmente no PSD, e penso que quase todas as combinações ideológicas que existem no CDS (liberais na economia + conservadores nos costumes, liberais na economia e nos costumes, centristas na economia + conservadores nos costumes) se podem encontrar no PSD (talvez haja no PSD uma corrente centrista na economia e liberal nos costumes que não exista no CDS, mas nem de isso tenho a certeza)

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    4. Bom, concedo que "largas" foi um exagero da minha parte. Como sou um dos que posso fazer a ponte entre 1975 e 2015, direi que o que diz é verdade, ou seja, a transferência de votos entre PSD e PS era coisa difícil de acontecer entre os militantes, mas só entre eles. E hoje isso está exacerbado, dada a colagem do PSD à direita.

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  7. Em resposta a MO

    Apenas duas palavras sobre o radicalismo da coligação PSD-CDS de 2011-2015. Muitas opiniões dizem que se foi demasiadamente longe nas medidas tomadas com repercussões no desemprego e aumento das prestações sociais, Mas eu não sou economista e portanto passo. Mas já não passo por exemplo em relação ao que foi feito na educação, área na qual se desfez muito do que estava ser feito e se introduziram medidas de extrema gravidade, tudo por mera opção ideológica. Num comentário não vou concretizar, mas fá-lo-ei em post a publicar.

    Quanto às opiniões sobre pessoas, todos as podem ter; como são opiniões não vale a pena rebatê-las.

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  8. Pode ser que a transferência entre militantes do PSD e do PS não seja muito vulgar, mas entre o comum dos cidadãos conheço montes. Un example au hasard, moi. Devo ter votado a maior parte das vezes PS, fora as que votei em branco e se calhar só votei PSD destas duas últimas vezes (Talvez três? Já não me lembro). Até agora nunca me ocorreu votar CDS (também nunca votei PCP, mas Bloco sim). Conheço relativamente poucos militantes (vários do PS, pouquíssimos do PSD) e pela minha amostra, uma parte razoável dos votos no PSD serão de pessoas que pensaram "bora lá resolver isto para ver se passamos a outra coisa". Sem mais convicção ideológica do que isso. E conheço de facto algumas pessoas que terão votado PSD em 2011 e que entretanto se convenceram de que o Passos tem um desígnio ideológico nefasto para o país.
    Vale o que vale. E não faço a mais pequena ideia do que é que isto vai dar.

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    1. Muito obrigado pela sua contribuição, que ajuda a manter a minha ideia acerca da hipótese de uma reconfiguração partidária (os votos flutuantes poderão ajudar, na altura certa, à sua consolidação).

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    2. Muito obrigado pela sua contribuição, que ajuda a manter a minha ideia acerca da hipótese de uma reconfiguração partidária (os votos flutuantes poderão ajudar, na altura certa, à sua consolidação).

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