quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Não à polarização

Segundo alguns teóricos, à direita e à esquerda, Portugal vive neste momento uma polarização política. Duvido da tese. Mas, a ser verdade, e ao contrario do que sugerem alguns comentadores mais excitados, seria uma tragédia para o país. A Argentina é um bom exemplo trágico. Até ao final dos anos 1930, estava entre os cinco países mais ricos do mundo em termos de PIB per capita. Entretanto, Perón chega ao poder em 1946. Começa então uma polarização política que vem até aos nossos dias.
O golpe militar que derrubou Perón em 1955 dividiu a sociedade argentina ao meio, sem que nenhuma das partes tivesse força suficiente para impor o seu projecto à outra, mas cada uma tinha a força suficiente para bloquear os projectos da outra. Em suma, a Argentina tornou-se um país ingovernável, e pobre para os padrões ocidentais.
Quando o centro desaparece, deixa de haver pontes. Regra geral, o resultado é o bloqueio da sociedade, conflitos violentos e empobrecimento.

6 comentários:

  1. Caro JCA,

    Existe uma polarização, mas ao contrário da Argentina, não pelo desaparecimento do centro, mas porque o mesmo tem sido ignorado (por razões ideológicas/populistas). Parte da culpa disto vem dos Governos Sócrates, que conseguiram transformar o PS numa espécie de partido populista de centro (variava entre o centro-esquerda e o centro-direita, dependendo dos assuntos). Isto empurrou o PSD para a direita (PPC está bastante à direita de MFL), enquanto o PS, especialmente com Costa, guinou à Esquerda. Resultado: o centro ficou (mais) abandonado. Numa situação normal, o CDS ocuparia (parte) do centro (o centro "social"), mas ao estar coligado com o PSD, tal não é possível.

    Acredito sinceramente que mal mude a actual "vaga" de políticos, a coisa se normalize. Veremos...

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  2. Também não creio que o "centro" tenha desaparecido. Isto porque não acredito que a maior parte dos apoiantes do PSD seja de direita (interrogo-me mesmo como não se sentem mal quando se vêem rotulados de direita!). Do mesmo modo não acredito que a maioria dos apoiantes do PS se tenha deslocado para uma esquerda... muito à esquerda. Agora: a polarização, actualmente, existe, e seria urgente acabar com ela. Infelizmente julgo que isso só podera acontecer com uma revolução nos principais partidos que coloque uma nova geração de militantes na sua direcção e seja capaz de rever os programas de acção. Então poderá existir um leque partidário que não seja tão distorcido como hoje.

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    1. Nem mais. Só discordo de uma coisa: a tal da nova geração de militantes. O problema que temos agora é EXACTAMENTE por ser uma nova geração de militantes, a primeira "leva" (começou com Sócrates, mas esse é quase todo um campo dentro da ciência política) de "quadros partidários" formados nas "jota" e que ascederam na hierarquia do partido, com quase nenhuma exposição ao mundo exterior. O que os partidos precisam é de limitar e afastar o puro carreirismo partidário, os "assessores", os "chefes de gabinete", etc.

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    2. Bom, eu não estava a considerar que A, Costa e P. P. Coelho encaixassem no conceito "nova geração de militantes", embora tenha grande consideração por António Costa, A renovação que gostava de ver tem outros contornos e figurantes. O que pode vir a ser difícil, concedo.

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  3. Eu poria tanto o principio da "polarização" na Argentina como o principio do declínio económico a partir de 1930, com o golpe do general Uriburu, mas admito que não afeta a conclusão final (claro que há também a questão sobre se a riqueza argentina era real ou apenas o resultado de uma alta passageira da carne no mercado mundial).

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