quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

A última vez

"As pessoas dão demasiada importância à primeira vez. E a última vez? Ninguém pergunta pela última vez. A última. A última de todas. A última das últimas. A última depois da qual não há mais nenhuma."

Pedro Mexia

Ontem telefonei ao nosso veterinário. O Alfred precisava de uma limpeza aos dentes, mas também tinha uma espécie de caroço no peito. A Sharon, que foi a assistente do veterinário que me deu boleia quando precisei de levar a Stella à eutanásia, disse-me para o levar hoje entre as 7:30 e as 8 da manhã. Coloquei a trela e o cinto de segurança no Alfred. O Chopper, que é o meu outro cão, recusou-se a ficar para trás e também quis ir. Os meus cães adoram andar de carro. Quando vou a Memphis, vão ao meu lado, com os cintos de segurança, e é fácil fazer a viagem de 12 horas com eles. Um dos meus colegas no trabalho anterior uma vez disse-me que os meus cães eram mais bem comportados no carro do que a maioria das crianças. E são.

Hoje olhei para o Alfred várias vezes, queria vê-lo bem porque tinha medo que fosse a última vez. O Alfred já tem quase 11 anos; não é muito velho para um pug, mas a idade mediana desta raça é 12 anos e eu já noto que se movimenta com dificuldade. Precisa de ajuda para subir à cama, mesmo com as escadinhas, e, de vez em quando, pede ajuda para saltar para o chão. Há dias em que não quer ir passear. Depois da limpeza, o nosso veterinário telefonou-me para dizer que tinha corrido bem. O caroço não parecia ser maligno, mas ele queria que eu lhe desse autorização para tirar uma amostra para se certificar que não era nada sério. Mandou-me passar pelo gabinete depois das duas da tarde para ir buscar o Alf e, nessa altura, falaria comigo.

Era apenas uma massa de gordura benigna; em princípio, não causará problemas, a não ser que comece a crescer. Quando me entregaram o Alfred, o veterinário disse-me, como me diz sempre que ele lá vai, que era um belo cão e acrescentou "I love this dog". Eu também. Adoro o meu cão. O Alfred já faz parte da minha família desde as nove semanas de idade. Era um cão malandreco quando era bebé. Gostava muito de brincar e recusava-se a dormir à nossa frente. Pensava que, se estava ao pé de nós, tinha de estar a brincar.

A primeira vez que dormiu ao meu colo foi depois de uma viagem a Oklahoma City, onde passou o fim-de-semana inteiro a brincar com os cães dos nossos amigos e ficou exausto; mas em casa, durante meses, tínhamos de o meter numa gaiola para dormir. Depois começou a dormir connosco, enroscava-se ao pé da minha barriga. Eu tinha um animal de pelúcia -- uma rã, o Froggy -- que dormia comigo, foi uma das coisas que meti na lista de prendas do meu casamento, e o Alfred confiscou o meu animal para seu companheiro. Levava-o para todo o lado: para a rua apanhar sol, nos passeios, quando queria dormir... Nas minhas viagens a conferências, eu comprava-lhe mais rãs nos aeroportos, o único sítio onde eu encontrava iguais, porque destruía-as de tanto uso.

Não foi hoje a última vez. E, de acordo com o veterinário, o Alfred tem os dentes mais limpos do Texas.

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