terça-feira, 5 de janeiro de 2016

As Miúdas de Ouro

Quando andava à procura de emprego, achava sempre que não sabia fazer nada de grande importância, logo por que razão haveria alguém de me dar emprego... Chegava ao cúmulo de pensar que não tinha output nenhum, quando o meu CV estava cheio de coisas que tinha feito. É uma patetice minha, mas representa uma forma de pensar arcaica que, por vezes, está culturalmente enraizada em nós. Como trabalho na área dos serviços chego ao fim do dia e não vejo um produto real e, às vezes, esqueço-me que sei fazer e já fiz muita coisa.

Isto a propósito de um email de uma amiga minha, que está desempregada. Ela tem quarenta e tal anos, está em Portugal, e disse-me que não se vê a fazer nada -- não consegue imaginar um emprego de jeito onde ela possa sentir-se realizada. As competências dela são todas na área dos serviços, mas esteve muitos anos afastada do mercado de trabalho por causa de cuidar do filho. Agora é difícil arranjar emprego. Uma vez tentou concorrer a um emprego num museu, mas parece que essas coisas estão "reservadas" para quem tem partido político.

Pergunto-me porque razão o Parlamento não passa uma lei a obrigar que certos empregos na função pública e afins tenham de ser preenchidos por pessoas que são desempregados de longa duração. Ou será que essa lei já existe e eu a desconheço. Acho mal o estado contratar quem já tem emprego, quando há tanto desempregado que tem capacidade para fazer o serviço, mas que por não estar no mercado de trabalho tem menos oportunidades de arranjar emprego. E também podiam criar um programa de mobilidade dessas pessoas, onde o estado as ajudava a relocalizarem-se para outra parte do país onde houvesse emprego.

Estava a pensar que, quando me reformar, vou para Portugal montar uma casa onde podem viver mulheres idosas portuguesas com reformas miseráveis, provavelmente porque foram desempregadas de longa duração. Assim, vivendo juntas, custa menos financeiramente e tomamos conta umas das outras. Será como as Golden Girls, mas à portuguesa. Podem chamar-nos As Miúdas de Ouro...

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