segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Gorjetas...

Não posso deixar de sorrir ao ler este artigo no Expresso sobre gorjetas. Depois de ter passado quase 20 anos nos EUA, já estou muito habituada a deixar gorjetas. Para mim, é normal deixar 20% do total antes de imposto quando o serviço é razoável.

Quando chego a Portugal, dou gorjetas à americana. Os meus amigos escandalizam-se e olham para mim como se eu fosse maluca. Até houve quem retirasse da mesa dinheiro que eu tinha deixado para a gorjeta e mo devolvesse. Eu, à socapa, voltava atrás e repunha o dinheiro para o empregado.

Eu sei que os empregados aí recebem o salário por inteiro, o que não acontece nos EUA. Mas também sei que o trabalho é muito mal pago, logo eu sou generosa nas gorjetas porque me custa não ser -- sinto um enorme peso na consciência. Os americanos treinaram-me bem...

11 comentários:

  1. Rita,

    É uma questão cultural e vai desde o abuso nos EUA (desculpa, mas é abuso - quando uma gratificação deixa de o ser e passa a obrigação, é abuso) até ao insulto no Japão (sim, é insultuoso para os empregados receberem gorjetas).

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    1. Não é abuso. Os empregados de mesa normalmente ganham abaixo do salário mínimo nos EUA. O salário mínimo federal para pessoas que recebem gorjeta é de $2.13/hora, mas há salários estatais mais altos. Vê aqui: http://www.dol.gov/whd/state/tipped.htm.

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    2. É abuso por isso mesmo, Rita. Essa "excepção" dos empregados de mesa ganharem abaixo do salário mínimo e portanto dependerem das gorjetas roça o abjecto. Os empregados de mesa são funcionários dos restaurantes, não são "free contractors".

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    3. Ah, percebi agora o que queres dizer. Não te preocupes, já está a mudar. Há restaurantes que querem acabar com o sistema das gorjetas porque acham injusto para com os cozinheiros e outros empregados.

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  2. E, para mais de 5 pessoas à mesa, é habitual colocar os 20% na conta e ficar à espera de uma sobregorjeta. O valor da gorjeta de uma refeição média nos EUA é suficiente para pagar o total da conta de um restaurante de qualidade equivalente/superior em Portugal.

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    1. Em primeiro, em quase 20 anos de aqui estar nunca vi adicionar gorjeta automática para grupos de 5; já vi para grupos de 6, que é o que a lei federal contempla. Em segundo, quando a mesa tem muita gente, é normal haver mais do que um empregado a servir, logo a gorjeta é dividida por duas ou mais pessoas. Em terceiro, nunca vi adicionar 20% na gorjeta automática, o normal e de lei é 18%. Em quarto, o salário mínimo federal esteve estagnado durante quase 10 anos, logo não acho mal que as pessoas tenham começado a dar gorjetas acima de 20% voluntariamente até porque comer fora nos EUA é relativamente barato. O restaurante dá essa opção na conta, mas não há obrigação.

      Ver aqui:
      http://smallbiztrends.com/2014/02/new-irs-rule-on-automatic-gratuities.html

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  3. Em Portugal, também era habitual dar-se gorjeta (sem percentagem específica). Tem caído em desuso, a meu ver, mal.

    Em Inglaterra as contas dos restaurantes mencionam "service included" ou "service not included". No primeiro caso, os próprios empregados recusam a gorjeta; no segundo é, digamos, norma social, dá-la (uns 10%).

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    1. O normal, quando vivia lá, era ser acrescentada uma "service charge" (entre os 7,5% e os 12,5%) para grupos de 5 pessoas ou mais - o que de certa forma faz sentido, já que grupos maiores dão mais "trabalho" que um conjunto de mesas pequenas.

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  4. 6 é mais que 5? Certo. $2.13/hora é um salário ridículo para um país sem serviços públicos mínimos? Confere. Comer fora nos EUA é relativamente barato? Comida de plástico, sim. Uma refeição decente, não. Um copo de vinho zurrapa da Califórnia, por exemplo, dificilmente fica por menos de 10 dólares. Por esse preço, indico-lhe restaurantes em Portugal, referenciados no Guia Michelin, que servem uma refeição completa, vinho (bom) e café incluído.

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    1. Desculpa, mas se o empregado tiver gorjetas não ganha muito mal. Até ganha melhor do que quem ganha o salário mínimo. Os EUA não são só Los Angeles e San Francisco. Sai da Califórnia e vê o resto. Há restaurantes que te deixam levar o vinho de casa, não precisas de comprar ao copo. A maior parte dos restaurantes servem boas porções e podes levar para casa o que não comeres (facilmente comes três vezes de um prato). Só nos restaurantes mais caros é que tens porções muito mais pequenas.

      A União Europeia também não tem serviços públicos mínimos; isso é adoptado por cada estado. Nos EUA tens estados que dão mais serviços do que outros. Há serviços públicos mínimos em alguns sítios. A minha empregada doméstica tem seguro de saúde pelo condado de Harris e paga $3 para ir ao médico, que é 10% do que eu pago.

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    2. Há uma coisa que muita gente, na Europa - e, diria eu, especialmente em Portugal - parece ignorar quando fala de "serviços públicos" nos EUA: é que os americanos têm uma carga fiscal pessoal bem inferior à dos felizes e civilizados indígenas da Europa dos servições mínimos. Isso, claro, dá-lhes a vantagem de poderem, do seu próprio bolso, suprirem a tal exiguidade dos "serviços públicos", e ainda lhes sobra algum.

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