domingo, 31 de janeiro de 2016

Os (in)competentes

A maneira mais fácil de distinguir o PS do PSD é pensar em competência: o PSD é completamente incompetente, já o PS é incompetente em fazer o bem, mas extremamente competente em fazer o mal. O exemplo que facilmente ilustra esta distinção o aumento de impostos, em particular os impostos sobre os sacos de plástico do PSD e os impostos sobre o tabaco e sobre a gasolina do PS.

Todos estes impostos podem ser justificados como sendo desejáveis: reduzir o consumo de plásticos, fazer os portugueses poluir menos o ar e reduzir o consumo de tabaco. Tudo isto é facilmente defensável, mas a forma como a subida de impostos foi implementada leva-nos a crer que o único objectivo era mesmo aumentar a receita. Que se lixem os aspectos morais desejáveis da coisa.

Na implementação dos impostos, o PSD falhou a tudo: não aumentou receita por aí além, apenas gerou €1,5 milhões, quando esperava receber €40 milhões, deu cabo da sua reputação, e ainda prejudicou mais o ambiente, pois as pessoas acharam por bem usar plásticos ainda mais perigosos. Quando eu estive em Portugal, em Julho e Agosto, recebi uma boa dose de sacos de plástico em materiais que eu já não via há mais de 20 anos. É verdade, o PSD conseguiu retroceder a mentalidade dos portugueses em mais de duas décadas ao mesmo tempo que glamorizou o uso destes plásticos porque os portugueses odiavam tanto o governo. Dá pena o partido ter gente tão estúpida a fazer política, mas eu já vos tinha dito isto.

Já no caso dos impostos do PS, os portugueses engoliram tudo com grande satisfação. Na comunicação social nem se piscou o olho. A competência do PS em lavar o cérebro dos portugueses é francamente excepcional. Até mete medo de tão eficaz que é. Note-se que os portugueses já pagam impostos de sobra tanto em tabaco como em gasolina, mas isso são detalhes. Também é um detalhe insignificante os sítios onde o PS gasta dinheiro, como oferecer bancos aos espanhóis, reduzir o horário de funcionários públicos, trazer a TAP novamente para o estado, etc.

No tabaco, o consumo já tinha diminuído significativamente e os fumadores já usam muitos produtos alternativos que até são piores para a saúde, por exemplo, os cigarros eléctricos, que não estavam regulados, e os cigarros feitos em casa que não têm filtro, mas são mais baratos. Ou seja, hoje em dia quem consome tabaco é mesmo viciado e estas pessoas irão arranjar maneira de continuar a fumar mesmo com o aumento de impostos porque, como se diz em economês, a sua procura é inelástica. Se combinarmos isso com o facto de haver uma forte correlação inversa entre os consumo de tabaco e o rendimento da pessoa, o PS conseguiu aumentar os impostos desproporcionalmente aos mais pobres, pois este é um imposto altamente regressivo. Mas tudo bem, porque fumar é mau -- faz mal à saúde.

No caso da gasolina, apesar de ainda haver bastante trânsito, este é localizado nas grandes cidades. As zonas com menos população, que são também as mais pobres, não têm assim tanto trânsito, logo não poluem tanto. E comprar casa ou arrendar nas zonas com menos população é também mais barato e são essas pessoas que terão de consumir mais gasolina para ir para o trabalho, pois lá também não têm transportes públicos tão bons. Conclui-se, então, que este imposto também é regressivo. Irá afectar mais quem tem menos rendimentos, mas tudo bem porque conduzir é mau -- faz mal ao ambiente.

Neste ponto do programa, talvez alguns de vocês perguntem porque razão um partido que acha que conduzir faz mal ao ambiente tem tanta vontade de construir auto-estradas que ficam vazias, ao mesmo tempo que garante rendimentos mínimos às PPPs que exploram essas auto-estradas. É uma boa pergunta, mas ninguém na comunicação social liga os pontinhos e acusa o PS de ser uma máquina a explorar os contribuintes, ao mesmo tempo que mantém uma imagem de anjinho.

Ah, os contribuintes! Este governo, não satisfeito em vender o Banif por um preço ridículo, permite agora que o Novo Banco, que está sobre a tutela do estado, perdoe a dívida de Carlos Guilherme, um construtor civil -- pois, o processo já tinha sido herdado da gestão anterior e os empréstimos foram concedidos sem garantias. Coitado do homem, merece pena, não vá ficar sem dinheiro para pagar o combustível dos Mercedes, especialmente agora com os impostos mais altos.

O Vítor Gaspar dizia que Portugal não tinha dinheiro, mas esse Portugal era o do PSD e cada vez mais os portugueses odiavam o Portugal do PSD. No Portugal do PS há sempre dinheiro para os amigos do regime, mas com a máquina de marketing do PS, os portugueses adoram ser explorados por esta gente reles. É apenas aí que o PS demonstra grande competência.

12 comentários:

  1. Rita, a sua análise sobre sacos de plástico parece-me razoavelmente imprecisa. A redução de plásticos leves (os mais prejudiciais) foi impressionante. O aumento dos plásticos mais pesados é menos prejudicial do que a Rita diz.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Não compreendo. Então os plásticos pesados são mais desejáveis do que os leves?

      Eliminar
    2. Não sendo uma fonte independente, tem muita informação objectiva e verificável sobre o assunto:
      https://www.facebook.com/jorge.moreiradasilva.9/posts/1236144609736291

      Eliminar
    3. Henrique, li o Jorge Moreira da Silva e continuo na minha--são incompetentes! Se o objectivo era a redução de plástico, como é que estimaram uma receita tão mais alta do que a realizada? E agora dizem que saiu tudo como planeado. Então se tivessem planeado bem, teriam dito que não haveria quase receita nenhuma porque os portugueses mudariam o seu comportamento e, sendo assim, os portugueses não odiariam tanto o PSD.

      Eliminar
  2. Acresce que, com a desculpa da poluição, se continua a beneficiar fiscalmente o consumo de diesel, com emissões mais prejudiciais à saúde, em particular nas cidades.

    Depois do escândalo da VW, depois de se descobrir que mesmo sem fraudes o problema afecta outros (a Renault é só a primeira), depois de até países como a França começarem a discutir os incentivos ao diesel, nós agravamos a diferença.

    Isto não tem nada que ver com poluição. Não passa de aproveitar uma baixa artificial de preços para aumentar definitivamente e em valor absoluto um imposto particularmente regressivo.

    Feito ao mesmo tempo que se anunciam com pompa €0.60 de aumentos de pensões, que não chegam para o aumento mensal da gasolina para a motoreta do velhote da aldeia que aufere a dita pensão.

    ResponderEliminar
  3. Grande entrada...

    ... os políticos portugueses fizeram Portugal regredir 20 anos nos sacos de plástico... ...ops... parece que é uma política global proibir os sacos de plástico.

    E porquê começar nos mais leves? Bem porque são facilmente transportados pelo vento e são os que intereferem mais com a vida animal, etc... ...mas não vá por mim,... ...pesquise. Pode começar por aqui: https://en.wikipedia.org/wiki/Phase-out_of_lightweight_plastic_bags

    Quanto ao imposto sobre o tabaco: em primeiro lugar o PSD aumentou bastante o imposto sobre o mesmo, e esqueceu-se do de enrolar... ...mais tarde corrigiu e incluiu o mesmo. Mesmo assim um maço de tabaco continua muito mais barato em Portugal que na generalidade dos países Europeus e dos EUA, ... ..., mas mais uma vez pesquise: http://cigarettesprices.strikingly.com/

    Quem aumentou enormemente o imposto sobre os combustíveis foi o PSD e a Troika. Da última vez que o preço do brent estava nestes valores o litro de gasóleo custava numa bomba de marca cerca de 77 cêntimos, hoje custa numa low-cost cerca de 98 cêntimos. Mais, o actual aumento do ISP foi para compensar a perda de IVA. Se o preço final é dado por "(Preço do bem/impostos)*(1+IVA)+ISP" então se o preço s/ impostos baixa, a receita fiscal também baixa, para manter a mesma tem de se subir o ISP. Claro que isto podia-se evitar fazendo o IVA a 0% e colocando um ISP fixo, mas a UE não deixa... ...pesquise, digo eu.

    Relativamente ao Novo banco e ao Carlos Guilherme foi a equipa de Stock da Cunha que perdoou os créditos (não me consta que tenha sido o PS a nomeá-lo), e nada no artigo diz que essa reestruturação é deste mês, ou é de Agosto,... ...,e quem está com a tutela do NB não é o governo, é o Banco de Portugal através do fundo de resolução. Neste caso o perdão, a reestrutração, etc, já é notícia desde Março de 2015: https://www.publico.pt/economia/noticia/empresario-jose-guilherme-negoceia-reestruturacao-de-divida-com-o-novo-banco-1690929

    Eu sei: está longe e tem de ler a nossa imprensa para estar informada, boa sorte, porque eu já desisti.

    Para o NUno: o Diesel não é beneficiado por causa da poluição, mas sim, porque é o combustível utilizado no transporte de mercadorias.

    ResponderEliminar
    Respostas
    1. Ah, sinceramente, pelo que leio no jornal, não percebo muito bem a competência do governo vs. Banco de Portugal. Passam a vida a empurrar a culpa uns para os outros. Julgo que alguém que presuma compreender isto apenas se ilude. Para além disso, as perdas do Novo Banco não são assumidas pelo Banco de Portugal; são assumidas pelos contribuintes portugueses -- o governo não pode ser completamente separado da gestão do Novo Banco.

      Eliminar
  4. Respostas
    1. NG, então, já não sabe português? É "salgalhada"; não é "salganhada".

      Eliminar
    2. Este comentário foi removido pelo autor.

      Eliminar
  5. Nesse aspecto, as opiniões dividem-se, Rita
    http://portuguesemforma.blogspot.com/2014/02/salgalhada-ou-salganhada.html

    ResponderEliminar

Não são permitidos comentários anónimos.