quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Tão Brilhante, que me cegou...

Comecei a ler esta entrevista do socialista Eurico Brilhante Dias, com grandes expectativas e a pensar, pela manchete, que talvez fosse uma pessoa que eu pudesse apoiar, mas cheguei à terceira pergunta e fiquei logo decepcionada. Não percebo a obsessão dos Socialistas com a taxa moderadora do aborto. Gostaria de saber exactamente qual a mensagem que é dada às mulheres com isto. Parece-me ser algo como:

"Olha, filha, é assim: se engravidares, nós tratamos do aborto; mas se apanhares uma doença sexualmente transmissível ou ficares traumatizada psicologicamente, certifica-te que tens dinheiro para as taxas moderadoras."

Sou a favor do aborto, mas acho que o aborto não deve ser uma coisa que seja incentivada, nem deve ser usado como método contraceptivo. É um método de último recurso. Ter uma taxa moderadora de €7 numa coisa que custa ao estado centenas de euros, não me parece mal. Para além disso, é razoável que o estado não tenha um aborto mais barato do que é comprar um preservativo. Se é para ter sexo recreativo ocasional, é preferível que as mulheres usem um preservativo. Isto não é óbvio? No entanto, compreendo que se faça uma excepção em casos de violação, onde haja evidência médica que a mulher teve sexo não consensual.

No outro dia, na rádio, deram testemunhos de várias pessoas no Texas acerca da sua posição sobre o aborto. Uma delas era uma jovem cubana de 24 anos, que já tinha feito sete abortos, o primeiro aos 18 anos, pois em Cuba ter um aborto é muito fácil. Estava grávida outra vez, mas decidiu ter a criança, pois agora estava nos EUA e "tinha encontrado Deus". O marido queria que ela abortasse, mas ela disse-lhe que não queria abortar mais, já não conseguia, e separaram-se. Ao ouvi-la, não fiquei com a ideia de que as mulheres devessem ter quantos abortos quisessem. (Podem ouvir na Soundcloud, que está em baixo; é a terceira história.) Tornar o aborto numa coisa banal é errado porque as suas consequências não são banais e nenhuma mulher sabe o que acontece depois de um aborto: há quem aceite bem, há quem sofra e recupere, há quem sofra e não recupere.

Não acho que o estado deva incentivar abortos. Acho que deve facilitar, quando é necessário; mas dar abortos grátis é mais um desserviço que se faz às mulheres. Gostaria de ver o estado português a fazer um estudo de acompanhamento a longo prazo das mulheres que tiveram abortos, para que se estudem questões como os efeitos psicológicos; a taxa de arrependimento a curto, médio, e longo prazos; efeitos na vida pessoal e familiar, etc.

6 comentários:


  1. Quantas mulheres conhece a Rita que utilizem o aborto como método anticonceptivo, além das sessões de circo de rádios ou televisões sensacionalistas (também existem mulheres barbadas, sabia?)? Eu não conheço nenhuma, mas nenhuma mesmo. Aliás, quantas mulheres acha a Rita para quem a opção do aborto é "coser e cantar"? Eu não conheço nenhuma (conheço quem está convencido que o vai fazer desde o inicio, mas de aí a dizer que é uma opção fácil...)
    Já agora, ter de provar a violação para não pagar a taxa moderadora, não é acrescentar humilhação à provação? Finalmente, sendo a Rita uma pessoa que gosta de apoiar as suas opiniões com dados, já deu uma vista de olhos ao impacto da despenalização ou da isenção de taxas no aumento do número de abortos? pois se calhar não há aumento (logo a "facilitação" não faz aumentar o número).
    Realmente trata-se de uma questão ideológica e de consciência, entre quem acha que as mulheres não podem/ sabem decidir e quem não. Numa coisa estão todos de acordo, ninguém é "pro-aborto", unicamente "pro-opção" (liberal) ou "contra-opção" (etico-religioso).

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    1. Caro Peregrino, não é a mesma coisa descriminalizar o aborto ou isentar, em abstracto e por princípio, o aborto, de taxa moderadora. Não sei porque é que ainda as coloca em paralelo, hoje, 5 de Novembro de 2015. A discussão sobre a descriminalização do aborto já lá vai há mais de 20 anos! Discussões de natureza diferente que apenas a histeria de uma pretensa compaixão mandou fundir (olhe que o excesso de virtude é um vício, em si)!!
      Não será, por idêntica razão, creio eu, pela isenção de taxa moderadora sobre as urgências de ortopedia que a procura pelos serviços de urgência de ortopedia irá aumentar!! É chato, acho eu, um tipo andar praí a partir pernas ou braços só para ter o prazer de usufruir do serviço à borla!! Não creio que os tolos se dêem a esse recreio!! Como não creio que as mulheres que cogitem, ainda que remotamente, fazer um aborto o farão porque é à borla! Assim como não creio que as mulheres que pretendam fazer um aborto deixem de o fazer por causa da taxa moderadora!! A taxa moderadora não serve nem num caso, da ortopedia, nem no outro, do aborto, de moderador do consumo nem de constrangimento à consciência ética (nunca percebi muito bem os que pretendiam ver no pagamento da taxa moderadora, ao aborto, uma espécie de constrangimento odioso e viciado com fito inconfesso de impedir as mulheres de abortar livremente!! E que, em breve, vindicada, será a dignidade da mulher reposta pela isenção de taxa moderadora. Note que há isenção de taxas moderadoras por insuficiência económica.)
      A questão só ganhou relevância, meu caro, porque houve quem tenha tido a mui compassiva, compungente e privilegiada ideia de isentar, caso único na dignidade abstracta dos serviços oferecidos pelo SNS, o aborto, de taxa moderadora, sem mais!!
      Andou bem a caríssima Rita, parece-me uma evidencia da categoria estética!

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    2. O Peregrino a Meca, engana-se. Conheço várias mulheres que tiveram abortos e, pelo menos uma delas, foi por uma gravidez não planeada, logo foi mesmo método contraceptivo.

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    3. Vamos lá ver. Dizer que um aborto por uma gravidez não planeada (o vulgo acidente) é utilizar o aborto como método anticonceptivo é no mínimo ligeiro. Pode ser dito? Pode. É honesto? Não

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    4. Justiniano, Taxa moderadora: "As taxas moderadoras são cobradas com o objetivo moderar o acesso aos serviços de saúde"

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  2. Se não conhece pessoas que usam o aborto como método contraceptivo tem solução fácil, vai a qualquer grande maternidade pública e fala com quem lá trabalha. É que não são poucos os casos e quase todos os que trabalham em contacto direto defendem a existência da taxa moderadora sejam eles de esquerda ou direita

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