domingo, 10 de janeiro de 2016

Uma história mal contada

Há dias, citando o historiador Niall Ferguson, escrevi aqui que esta história dos refugiados ia acabar mal. Ferguson evoca o inflexível mercado laboral europeu como uma das causas desse potencial final infeliz. Ao contrário do que se passa nos EUA, os que não nasceram na Europa ganham muito menos e apresentam taxas de desemprego muito superiores ao resto dos europeus. Este é um ponto essencial deste problema. Mas não é o único.
As teorias raciais foram, a par do comunismo, as exportações mais mortíferas da civilização ocidental. Até meados dos anos 50, o racismo não era considerado uma ideologia reaccionária, era uma teoria “científica”, abraçada com entusiasmo pelo povo. Só na segunda metade do século XX ficou provado que as diferenças entre raças são geneticamente pequenas e que as variações dentro das raças são bastante grandes. Desta história de horror nasceu outro preconceito: o racismo é um mal exclusivo do homem branco, cristão e ocidental. Nesta narrativa, o resto do mundo aparece apenas como uma vítima das maldades sem nome do homem branco. Basta saber um bocadinho de história e ter dois dedos de testa para perceber que isto é um absurdo. Como era um absurdo a história que me ensinaram no liceu, com índios muito pacíficos e amorosos, que viviam em paz e harmonia, até os europeus chegarem a África e à América nos séculos XV e XVI.
Vem isto a propósito das graves cenas de violência sobre mulheres ocorridas em várias cidades alemãs na passagem de ano, em especial em Colónia. Das coisas mais surpreendentes nesta história é o manto de silêncio que se abateu sobre os media. É lamentável esta autocensura. Continuamos a saber pouco sobre o assunto, mas há fortes indícios de que havia dezenas de árabes, norte-africanos e refugiados envolvidos nas cenas de violência (incluindo violações) sobre dezenas de mulheres: "Entre os primeiros arguidos, contam-se dois alemães, um americano e 25 árabes", escreveu hoje António Barreto no DN. Ora, isto parece ser um enorme embaraço para os “progressistas”, e leva os media e os comentadores a preferirem abafar o assunto, com medo de serem acusados de racismo ou xenofobia.
Michel Hourllebecq, no seu magnífico “Submissão”, descreve uma França islamizada num futuro próximo. Ao contrário do que muita gente escreveu, o principal alvo do escritor francês não é o islamismo. É o oportunismo e a cobardia intelectual e cívica das elites francesas, incluindo políticos, académicos e jornalistas. Mohammed Ben Abbes, líder do partido “Fraternidade Muçulmana, chega ao poder aproveitando-se dessa cobardia.
O perigo mais imediato que paira sobre a Europa não é a islamização, é a ascensão da extrema-direita (centro e norte da Europa) e da extrema-esquerda (sul da Europa). O silêncio, o medo de chamar os bois pelos nomes, a incapacidade em tomar medidas duras e sem contemplações para os infractores - sejam eles brancos ou negros, cristãos ou muçulmanos - é um pasto fértil para estes partidos medrarem. Tarde ou cedo, alguém dará voz às vítimas de histórias como a de Colónia. E é muito mau deixarmos esse papel de porta-voz aos Le Pen deste mundo. Não querer ver, abafar, sacudir para debaixo do tapete, fingir que não se sabe, calar, porque se corre o risco de ser chamado “racista”, é meio caminho andado para o desastre. Da cobardia nunca nasceu nada de bom.

5 comentários:

  1. Boa tarde-noite

    Li, com a atenção que merece este seu escrito, que coincide em decalque com aquilo que eu penso sobre a situação. Se bem que a magnitude potencial que começa a surgir é mais preocupante do que estes assaltos e abusos com as nossas mulheres, incitados por normas de crenças que estão desfasadas de alguns séculos da nossa vida comunitária actual.

    Isto promete ser o principio de um temporal que vai desabar irremediavelmente.

    Sem lhe pedir autorização, copiei e editei no meu espaço VIVENCIASDEVIRELLA, facto de que, já depois do abuso cometido, lhe apresento o meu pedido de desculpas.

    Respeitosamente o cumprimenta

    Albert Virella

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    1. Não é nenhum abuso, ora essa, esteja à vontade. Cumprimentos, José Carlos

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  2. Na condenação de grupos que realizaram violações colectivas em dois paises, nos quais foram proporcionalmente condenados, as sentenças omitiram o móbil indicado pelos criminosos.Que cada um imagine porquê.

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  3. Quem lê o texto de José Carlos Alexandre fica com a ideia de que negros e muçulmanos são tratados de forma mais benévola pelos sistemas mediático e judiciais europeus do que brancos e cristãos. Essa é precisamente a história que extrema-direita e extrema-esquerda nos têm contado para granjear votos e popularidade. Mas a verdade é que toda a evidência científica demonstra o exacto contrário: os menos representados são os mais penalizados pelos sistemas judicial e mediático. E talvez esse seja um dos principais rastilhos da violência dos nossos dias.
    http://barometro.com.pt/archives/1179
    https://obsessivamente.wordpress.com/2016/01/11/a-historia-mal-contada/

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    1. Caro Pedro Morgado o que nos vem aqui dizer ou parte do absurdo, em sede de revista, naquele sentido em que ocorre a demonstração da "maior penalização por pertença étnica" de erros na condenação e avaliação de provas ou graduação das penas por parte dos tribunais, ou parte de uma errada valoração do que será uma maior penalização!!
      Se concluir, como concluem os estudos que invoca(e refiro-me apenas aos dados objectivos), pela desproporção entre o universo de indivíduos pertencentes a minorias éticas residentes em Portugal e o universo prisional não deverá concluir, necessariamente, que o são por dolo de julgamento, em Tribunais que seriam dessa forma movidos por preconceito étnico (note que idêntica desproporção vai encontrar em todo o ocidente étnico, a Europa, EUA, Canadá, Austrália). Pode muito bem concluir que, de facto, haverá, entre as minorias étnicas, que o forem (Note-se que o problema será mais expressivo entre os indivíduos de origem africana e de etnia cigana, uma vez que há minorias étnicas onde a delinquência é apenas residual e excepcional como são exemplo os indivíduos de origem cantonesa e goesa, entre outras), aí uma maior proporção de delinquentes e de delinquência!!
      Haverá, caro Pedro Morgado, um específico preconceito do sistema judicial que apenas se dirige a algumas específicas minorias étnicas?
      Haverá alguma distorção da cultura específica de algumas minorias étnicas face à manifestação dos bens jurídicos penalmente protegidos?
      Não percebi o sistema mediático. A que país se refere com aquela coisa da extrema esquerda e extrema direita?

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