quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

A democracia da estupidez

A Presidência de Donald Trump, assim como a sua eleição, irá, mais uma vez, demonstrar que a estupidez é uma coisa muito democrática: ataca muita gente, tanto os que se consideram especialistas, como os que se vêem como ignorantes. Ouço frequentemente pessoas dizer que não se sabe o que Trump irá fazer, mas ele é melhor do que teria sido Hillary Clinton. Há informação suficiente para saber o que seria uma Presidente Hillary Clinton e convenhamos que os EUA não se deram muito mal quando Bill Clinton era Presidente, nem sequer o país ficou de rastos com a Presidência de Obama. A dela teria sido uma coisa parecida, mas, por exemplo, ela teria sido mais interventiva na Síria, ao contrário do que Obama foi.

Segundo Madeleine Albright, Hillary Clinton queria que os EUA interviessem em 2011, mas essa não foi a vontade de Obama. Muita gente aponta a situação da Síria como uma falha de Obama e, durante a eleição, era uma falha de Clinton também. Mas esta ideia de não fazer qualquer ideia do que irá fazer Trump, mas achar que ele será melhor do que Clinton, é o cúmulo do absurdo porque não é possível comparar uma coisa que se desconhece completamente com algo acerca do qual se tem muita informação. 

Depois, há também outras coisas absurdas, como acusarem Hillary Clinton de estar envolvida num esquema de tráfico sexual de crianças ou de participar em rituais satanicos com Katie Perry, entre muitos outros escândalos--é por isso que ela seria péssima! Hillary Clinton está constantemente rodeada pelo FBI. Seria impossível ela participar em actividades desse tipo sob vigilância, a não ser que o FBI fosse cúmplice. Se o FBI fosse cúmplice dessas actividades, então a podridão e corrupção do país estariam a níveis tão altos que o Presidente não controlaria nada. Ora, nestas últimas semanas, vê-se que Obama diz uma coisa e Trump diz outra, ou seja, ninguém manda no Presidente, nem sequer no Presidente-Eleito. 

Sendo assim, voltamos à estaca zero: Trump como Presidente será uma caixa de surpresas e é muito difícil gerir a vida quando não se sabe o que vai acontecer no dia seguinte -- isso é verdade tanto para especialistas como para não-especialistas. 


5 comentários:

  1. "Mas esta ideia de não fazer qualquer ideia do que irá fazer Trump, mas achar que ele será melhor do que Clinton, é o cúmulo do absurdo porque não é possível comparar uma coisa que se desconhece completamente com algo acerca do qual se tem muita informação."

    Se a alternativa for beber um copo de ácido sulfúrico e beber um copo de uma bebida desconhecida, é possivel prever (anda que não com uma certeza de 100%) que a alternativa desconhecida será provavelmente melhor.

    No caso concreto da Síria, é relativamente fácil prever a política da Clinton - foi a politica posta em prática na Líbia (que me parece ter ficado ainda pior que a Síria - era difícil fazer pior; claro que se Trump for pelo caminho do Ted Cruz e querer pôr a areia síria a brilhar, será pior, mas é uma questão de probabilidades)

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    1. Ignoraste a parte onde eu expliquei que a Presidência dela não iria ser ácido sulfúrico de propósito ou apeteceu-te implicar com o meu argumento porque estás a ter um dia aborrecido? Já sei que és homem, logo não deve ser o período...

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  2. O final de mandato de Obama faz lembrar o pior de Goesrge W Bush. Dói ver o seu discurso alinhado com as paranóias de Graham e McCain, simbolos fossilizados do intervencionismo falhado dos EUA, nas últimas décadas.
    A principal incerteza do mandato de Trump passou a estar relacionada com o que podem fazer o mau perder e falta de consciência democrática dos que perderam as eleições, muitos democratas e muitos republicanos.

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  3. "Hillary Clinton está constantemente rodeada pelo FBI. Seria impossível ela participar em actividades desse tipo sob vigilância, a não ser que o FBI fosse cúmplice. "

    Não que eu acredite no Pizzagate ou nas histórias de satanismo, mas este artigo (escrito em 1996) leva-me a duvidar de argumentos "com tanta vigilância a que está sujeito, seria impossível [figura importante] fazer [isto ou aquilo]"

    http://www.slate.com/articles/briefing/articles/1996/07/the_logistics_of_presidential_adultery.html

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  4. Sobre certa sensibilidade depressiva, recentemente notada e reportada por especialistas desta área entre americanos que não votaram em Trump - não é uma crítica nem um elogio a esta forma de sentir e de reagir. É apenas uma descrição no tempo, por comparação com outros tempos. Vejam, pelo menos, o cartoon com que é aberto o artigo.
    http://www.latimes.com/opinion/topoftheticket/la-na-tt-american-dread-20161220-story.html

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