sábado, 17 de dezembro de 2016

A mania das fobias

Aparentemente, andamos assolados por uma epidemia de fobias. Como sempre, começou nos EUA e depois alastrou ao resto do mundo. No início, havia a homofobia, mas agora há a islamofobia, transfobia, afrofobia, gordofobia e a não-sei-das-quantas-fobia. Ora, uma fobia é um medo irracional ou aversão a alguma coisa. Entramos, portanto, no domínio das perturbações mentais. Acusar de fobia a expressão de ideias e opiniões, supostamente, repreensíveis significa também insinuar que estamos na presença de alguém com perturbações psiquiátricas. É o mesmo que dizer que as minhas opiniões sobre, sei lá, a homossexualidade e o islão são de tal forma inquestionáveis que só um maluquinho as poderia pôr em causa. Conclui-se, por isso, que não vale a pena perder tempo a discutir com este tipo de pessoas e talvez o melhor seja tentar evitar que o resto da sociedade fique infectada por estas ideias perigosas e "doentias". Para quem sabe um bocado de história, esta mania de ver “fóbicos” em todo o lado tem qualquer coisa de arrepiante. Em regimes totalitários, os críticos costumam acabar fechados em instituições psiquiátricas. Sugerir que alguém é meio maluco só por dizer coisas consideradas intoleráveis para alguns é que me parece uma coisa de loucos. É um péssimo modelo a seguir para quem, realmente, quer desafiar preconceitos. Os preconceitos combatem-se com mais palavras e argumentos e não com menos.

5 comentários:

  1. Aliás, vendo esta lista de palavras inglesas derivadas de "-fobia", nem me parece que o uso no sentido de doenças mentais seja significativamente mais antigo que o uso no sentido de não gostar de dado grupo humano (p.ex., em 1793 já se falava em "anglofobia") - o uso mais antigo creio que é sem dúvida por referência à raiva (efetivamente é uma doença, embora não mental) também conhecida por "hidrofobia".

    Ao longo do século XIX e princípios do século XX foram sendo inventados tanto nomes como "judeofobia" e "xenofobia" como nomes referindo mesmo situações patológicas, como "claustrofobia" e "acrofobia"; a palavra "fobia" em si parece só ter começado a ser usada em psicologia a partir de 1895.

    http://www.etymonline.com/index.php?allowed_in_frame=0&search=phobia

    Admito que seja discutível a minha opção de ir procurar a história das palavras inglesas equivalentes às nossas "fobias", mas deve ser a língua (combinando abundância de recursos on-line e eu percebê-la) mais fácil de obter informação (e, de qualquer maneira, a recente vaga de "fobias" ideológicas suspeito que tem sido importada do inglês)

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  2. Eu acho que tinha, no sábado, deixado outro comentário (sem o qual, aliás, este perde um pouco o sentido) - não está perdido nalgum filtro?

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  3. Bem então vou ver se me lembro do que tinha escrito:

    Isso parece-me o mesmo raciocínio que os "politicamente corretos" fazem: não se deve usar uma dada palavra para designar um dado fenómeno, porque o uso dessa palavra afeta - explicita ou implicitamente - a nossa maneira de ver esse fenómeno, contribuindo para manter uma dada hegemonia de poder que privilegia uma dada maneira de ver o mundo e marginaliza e estigmatiza as outras.

    E, de qualquer maneira, suponho que, hoje em dia, até já é muito mais frequente, na linguagem do dia-a-dia, usar-se em "-fobia" no sentido de "preconceito contra um dado grupo" do que em "medo irracional" - ouve-se muito mais falar em "xenofobia", "homofobia" ou "islamofobia" do que em "ailurofobia", "agarofobia" ou "aracnofobia".

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  4. Certo. Deveria ser evitada a psiquiatrização e a psicologização do quotidiano.

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