Robert Solow,
economista laureado com o Nobel, disse um dia a respeito de Milton Friedman, também
galardoado: “A pretexto de nada, Milton lembra-se da oferta de moeda. Já eu
vejo sexo em todo o lado, mas afasto-o dos meus artigos.” Atitude sensata a de
Solow, mas que não fez escola. Há cada vez mais economistas académicos que se
dedicam ao sexo.
Exemplos? David
Blanchflower e Andrew Oswald publicaram um trabalho com o sugestivo título
“Money, Sex and Happiness: An Empirical Study”. Dinheiro, sexo e felicidade. As
obsessões de Friedman e de Solow num só artigo. Qual a mais importante para a
nossa felicidade? Sexo ou dinheiro?
O estudo baseia-se em inquéritos feitos a cerca de 16000
pessoas. Aos inquiridos perguntou-se se eram ou não felizes, nível de
actividade sexual, número de parceiros, habilitações, profissão, rendimento e
por aí fora. Eu próprio, enquanto estudava nos Estados Unidos, respondi a um destes
inquéritos.
Conclusões? Dinheiro é bom. Sexo é melhor. Muito sexo,
de preferência. Tanto para homens como para mulheres. Os que apenas o cultivam
ocasionalmente são tão infelizes como os celibatários. Mas os resultados não
vão contra a doutrina católica. Se bem que quanto mais melhor, os monogâmicos
são mais felizes. Os que reconhecem ter sido infiéis, ou ter-se socorrido da
prostituição, são bastante mais infelizes. Finalmente, uma conclusão mais
esquerdista: os ricos, apesar de terem mais parceiros sexuais, não copulam mais
vezes. Fica por perceber se as pessoas são mais felizes porque fazem muito sexo
ou se, pelo contrário, praticam muito sexo porque estão mais animadas.
Podia citar mais artigos. Para evitar que pensem que
me dedico unicamente a este ramo da Ciência Económica, refiro apenas mais um.
Num dos capítulos da sua tese de doutoramento, Hugo Mialon serviu-se de um
inquérito de 2000 (o Orgasm Survey)
para testar o que leva os agentes económicos a fingir o êxtase. De acordo com
esse inquérito, 72% das mulheres e 26% dos homens simulam orgasmos.
Hugo recorre a um modelo de sinalização de Michael
Spence (também galardoado com o prémio Nobel). O modelo de Spence detalha que estratégia
pode um bom trabalhador seguir para sinalizar a sua capacidade a um potencial empregador.
Por exemplo, para mostrar a sua inteligência e capacidade de trabalho, uma
pessoa pode licenciar-se numa universidade séria. Dá um sinal ao mercado de
trabalho distinguindo-se de um espertalhaço que recorre a uma universidade de
vão de escada. O modelo de Spence é útil para estudar quase todos os mercados onde
há informação assimétrica. Como durante a cópula é impossível saber se o outro está
a fingir ou não, é possível recorrer ao modelo de Spence.
Entre os resultados a que Hugo chegou, há um com uma
explicação biológica. Como as mulheres têm uma maior resposta sexual nos seus
30 anos e os homens atingem o seu pico aos 20, há menos necessidade de fingir o
êxtase nestas idades. O autor chegou a mais conclusões. Uma mulher que ama preocupa-se
com os sentimentos do seu parceiro. Finge os orgasmos (múltiplos ou não) para
que o seu homem pense que é uma máquina. Mulheres possessivas recorrem ao mesmo
truque. Já os homens, mesmo quando apaixonados, não fingem. Possivelmente são
mais honestos (ou menos altruístas).
Leio este estudo e assusto-me. A ideia de um falso
orgasmo altruísta é uma faca de dois gumes. Se por um lado dá autoconfiança a
cada um, por outro abundam por aí os que erradamente se julgam campeões. Não
têm incentivos para se esforçarem. Qual dos efeitos prevalece? Uma boa pergunta
para um outro estudo.