Conversei, no dia seguinte, com um dos meus conhecidos que é republicano, mas detesta Trump e não votou nele, que se questionava como é que num país de 350 milhões (eu corrigi-o e disse-lhe que era mais próximo de 330, mas a estimativa mais recente é 335,6), estes dois candidatos são o melhor que se pode arranjar. Exacto, exacto, é essa mesmo a pergunta que faço, respondi-lhe, acrescentando que não entendia como é que os Democratas que eram tão Democratas não arranjavam uma candidata mulher. Ele dizia-me que até não se importaria de votar na Nikki Haley e eu também não, se a alternativa fosse Biden.
Entretanto, após o meu regresso às terras do Tio Sam, liguei a rede do telemóvel mesmo a tempo de apanhar a reacção das minhas amigas americanas (e democratas) a um discurso de Biden. Estavam todas encantadas, que sorte termos o Tio Biden como presidente. Eu não respondi, aliás deixei de participar na conversa porque acho completamente estéril. Os apoiantes de Biden desligaram o cérebro e estão tão cegos como os de Trump e nem uns nem outros reconhecem que a política externa de um e outro é mais parecida do que diferente: uma América isolada, com o resto do mundo às turras entre si e sem nenhuma orientação.
Há uma facção alargada de pessoas que acha que o imperialismo americano é indesejável e muitas vezes violento, com os EUA a meterem-se onde não devem; mas a alternativa também não é pacífica e uma política isolacionista americana é desestabilizadora. E ainda vai ficar pior: os americanos estão a gastar a Reserva Estratégica de Petróleo, umas das ferramentas que lhes permitia gerir o preço internacional de petróleo e que permitiu várias décadas de preços estáveis e relativa paz.
A ideia americana é ser menos dependente de conbustíveis fósseis dentro de poucos anos, com incentivos a que a frota automóvel passe a ser eléctrica, mas uma política destas combinada com políticas nacionalistas prejudica quem é mais pobre. As barreiras ao comércio internacional são cada vez maiores, o que contribui para subidas de preços, e a inflação cria incentivos a políticas ainda mais nacionalistas.
Finalmente, há o aspecto humanitário, talvez o mais importante. Se continuarmos a deixar que estas agressões proliferem, um conflito maior é quase inevitável -- para lá caminhamos, quem dera que fosse piada.