quinta-feira, 30 de novembro de 2023

Um período grave

Bem sei que, ultimamente, não me tem dado para escrever, ou melhor, escrevo imenso na minha cabeça, mas depois não chego a executar o acto. Tenho tido alguma consistência a escrever para a minha vizinha, talvez uma ou duas vezes por mês, apesar de, ultimamente, com as viagens e o ritmo de trabalho, as missivas se terem espaçado. Hoje apeteceu-me vir aqui e não por uma razão apenas.

Há umas semanas, fiquei incrédula quando vi que há quem ache que a demissão de António Costa representa algum tipo de golpe judicial, como se ele tivesse sido forçado a demitir-se. Tenho uma opinião completamente contrária, pois o governo PS já teve bastantes escandâlos em que a demissão de António Costa era o mínimo esperado e, como nas outras vezes não se demitiu, é surpreendente que o tenha feito. Ou seja, o seu comportamente passado não dá credibilidade à ideia de que ele não tinha outra hipótese. Para mim é evidente que ele pretere os interesses do país aos próprios e do partido, logo a sua demissão deve ter sido motivada por algo que desconhecemos.

Galamba finalmente demitiu-se para que, logo a seguir, na Comunicação Social aparecessem conjecturas acerca da possibilidade de Pedro Nuno Santos o poder salvar. É como se alguém atirasse barro à parede para tirar a temperatura dos ânimos. Como é que alguém do calibre de Galamba chega onde está e lá fica tanto tempo, sem que sequer tenha o benefício da nossa ignorância acerca da sua incompetência? Podia-se invocar a lei dos grandes números, mas, num país tão pequeno, onde o PS já governa há tantos anos, talvez se deva cunhar a lei do pequeno número de amigos. Só que um Primeiro Ministro não pode ter amigos, dizia António Costa para se distanciar da pocilga política que criou. Fica a nota para quem vier a seguir.

Aqui na minha parte do mundo, as coisas estão curiosas. Os Democratas acham que a questão do aborto lhes dá apoio político, mas no meu caso--e note-se que eu não sou uma pessoa representativa do eleitorado americano--retira-lhes apoio. Como já aqui escrevi, sinto que a questão do aborto faz de nós mulheres reféns políticos, especialmente pelo partido Democrata. Não há nenhum assunto pertinente ao corpo dos homens que seja tão contencioso como a questão do aborto para as mulheres, logo a ideia da igualdade entre homens e mulheres está cada vez mais no reino da utopia.

Talvez num futuro próximo no qual a gestão de bebés possa ser feita fora do corpo das mulheres, o debate mude de figura, mas não sou tão optimista. O que penso estar a acontecer é uma reversão à média e, se formos a ver, historicamente, as mulheres nunca usufruiram verdadeiramente de igualdade e os períodos em que tiveram mais direitos nunca duraram muito.

Neste contexto, votar Democrata não ajuda as mulheres porque dá-se uma cheque em branco aos Democratas que eles usam noutros assuntos que não o do avanço das mulheres na sociedade. Depois há o facto curioso de a sociedade americana se tornar muito mais activa no sentido de preservar direitos quando os Republicanos estão na Presidência. Esta curiosidade não é única daqui porque, em Portugal, os governos de Direita também têm maior resistência da sociedade portuguesa do que os governos de Esquerda. Talvez a malta da Esquerda saiba resistir melhor do que os de Direita.

Finalmente, há a questão Israel-Gaza/Palestina. Neste conflito, a maior parte das vítimas são mulheres e crianças e os Estados Unidos não têm qualquer problema em enviar armas a Israel sem exigir que se salvaguardem as convenções internacionais que regem conflitos e os direitos humanos. Se Trump se comportasse assim, os americanos sairiam à rua. Há muitas mulheres americanas que estão contra Biden neste conflito, ou seja, o melhor dos cenários para os Democratas é Biden morrer antes das eleições. Se ele for a votos, perde com certeza mesmo contra Trump.

Enquanto escrevia este post, saiu a notícia de que Henry Kissinger morreu aos 100 anos. Pode-se não gostar do homem, mas tinha um calibre intelectual que hoje em dia raramente se encontra; se quiserem ler o seu pensamento, têm acesso a algumas entrevistas dele aqui. Em 2018, Kinssinger dizia ao FT "We are in a very, very grave period." Ainda estamos.

segunda-feira, 13 de novembro de 2023

Decepcionante

Estou extremamente decepcionada com os comentadores portugueses. Ainda não vi ninguém perguntar o porquê de António Costa salvar a todo o custo o pêlo do Galamba. Se fosse nos EUA já alguém teria especulado que Galamba deve saber algo acerca de António Costa que António Costa não quer que venha a público, ou seja, Costa deve estar a ser alvo de chantagem. É a única explicação lógica para António Costa não ter demitido Galamba. E MRS "a vê-los passar", completamente impotente por vontade própria.

domingo, 12 de novembro de 2023

Indefinidamente

No discurso de hoje, António Costa pinta-se de vítima--não viu nada, como de costume, mas quando foi confrontado com o que supostamente não tinha visto também não agiu: não demitiu imediatamente Galamba, que carrega às costas como se a sua vida dependesse disso, em vez de salvaguardar a reputação da República. Depois anda em negociações com o PR para escolher o seu substituto, e acha que Centeno é o melhor candidato. Centeno, como de costume, presta-se ao serviço necessário para manter o PS no poder.

Nada do que se tem passado em Portugal nos últimos dias abona a favor de Portugal ser considerado uma democracia. Se Costa se demite e a demissão é aceite pelo PR, mas Costa continua em funções, então Costa não se demitiu. Se há uma demissão e, como o LA-C refere, não há um protocolo de continuidade de governação que é observado, então todo este teatro não faz qualquer sentido.

A não ser que o plano seja António Costa começar a distanciar-se do governo para se candidatar a Belém e Centeno seja visto como a melhor hipótese de manter o PS no poder por mais uns bons tempos. Que o PS não sai do poder já era um dado adquirido, dado que o PS não precisa de maioria para governar indefinidamente.