sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

Parabéns!

Já nos "aturamos" há exactamente um ano. Isto é um grande elogio para todos nós. A minha mãe dizia-me que eu era tão estranha, casmurra, teimosa -- um bicho do mato -- que nunca iria encontrar ninguém que me aturasse. Nem essa ameaça de solidão sentenciada foi suficiente para eu deixar de ser "esquisita", sempre acreditei em "diferenciação do produto". Bem, como é que eu vim aqui parar? Foi a sorte.

O José Aguiar, um dos irmãos do LA-C, conheceu-me pelo Facebook. Quando soube que eu tinha estudado na FEUC perguntou-me se conhecia o LA-C. Não conhecia. Já tinha ouvido falar o nome dele por causa das suas publicações nos jornais portugueses e o LA-C e eu temos um amigo em comum, que já me tinha feito a mesma pergunta. Para satisfazer o Zé, adicionei o LA-C aos meus amigos do Facebook e pensei "Whatever..."

A primeira vez que falei com o LA-C a sério foi para lhe pedir ajuda. Um dos meus amigos estava interessado em vir estudar para os EUA e eu dei-lhe o meu parecer, mas tentei pô-lo em contacto com outras pessoas que tivessem estudados nos EUA para que ele tivesse informação menos enviesada, do que se apenas tivesse o meu ponto de vista. O LA-C foi uma dessas pessoas. E eu fiquei bem impressionada com ele por se ter disponibilizado.

No Facebook, eu tenho duas vidas muito distintas: há a minha página pessoal, que é a Rita light -- essencialmente cães, decoração, livros, fotografia, jardinagem, culinária, etc. -- e os meus grupos de discussão que são temáticos: economia, religião, parvoíces, etc. Tento não misturar as coisas. É muito raro aparecer coisas de economia na minha página pessoal, mas por vezes comento sobre economia nos posts de outras pessoas. Lembro-me de ter feito dois comentários nos posts do LA-C alguns dias antes de ele me fazer o convite para escrever aqui.

O Destreza das Dúvidas não era um blogue que eu seguisse. Quando comecei a perder fluência em português, comecei a ler muitos blogues portugueses; mas eram, na sua maioria, sobre culinária e trabalhos manuais: escrita muito informal porque uma das minhas dificuldades é mesmo o português informal. (Outra dificuldade é o uso excessivo de pronomes pessoais.) Também tenho uma grande fascinação em saber coisas da vida mundana das pessoas, aqueles momentos que vivemos, mas que quase ninguém lhes presta atenção na altura. Acho que há coisas muito insignificantes que nos acontecem, que podem ter uma importância muito grande quando olhamos para a nossa vida pelo espelho retrovisor. "Act accordingly", como dizia o Obama.

Sinceramente, quando o LA-C me convidou, pensei "OK, não faço ideia do que posso escrever." Cheguei a ter uma conversa com ele para perguntar exactamente o que era esperado de mim, ao que recebi respostas muito giras, tipo "Nada.", "Escreves o que te apetecer, quando te apetecer." Havia apenas o requisito de eu dar alguma perspectiva acerca do que é viver nos EUA, mas acho que deve ser óbvio que eu já sou muito americana; qualquer coisa que eu escrevesse teria esse sabor.

Rédeas soltas não é bem o meu estilo; adoro trabalhar dentro de coisas limitadas porque são as restrições que me entusiasmam. É por isso que a maior parte do que eu escrevo tem uma relação com algo real: uma memória, um artigo de jornal, uma situação que me aconteceu, algo que eu li... Por sorte, acabo no blogue mais holístico da blogosfera portuguesa, onde parece não haver restrições nenhumas. Podia ter recusado, mas adoro risco e achei que seria um desafio giro estar num ambiente que não controlasse completamente, até porque não conhecia nenhum dos meus co-autores.

Quando aceito fazer uma coisa, cai sobre mim um peso de responsabilidade porque tenho uma consciência hiperactiva. Essa é uma das razões por que escrevo muito. Se faço parte do projecto, tenho de contribuir alguma coisa -- uma restrição que é auto-imposta automaticamente, não tenho qualquer controle sobre ela. Mas também é uma necessidade porque preciso de praticar muito; não sou daquelas pessoas que fazem uma coisa à primeira e sai perfeita. Em qualquer altura, sei quase todos os pontos fracos daquilo que faço; posso não saber é como remediá-los.

O melhor que sai de mim deve-se, em grande parte, às outras pessoas que aqui escrevem; o pior é mesmo responsabilidade minha e das minhas limitações. Há uma sinergia muito grande entre nós que se reflecte nos meus posts. Essa sinergia é criação do LA-C, pois foi quem nos convidou a todos. Ele tem uma perspectiva da coisa um bocado à Steve Jobs: mistura gente com backgrounds e pontos de vista muito diferentes, em vez de seguir uma via de especialização. Isso para mim funciona porque interesso-me por coisas muito diferentes e não sou apegada ao meu ponto de vista: se me apresentarem informação que eu desconheça e que me permita mudar de ideias, fá-lo-ei com prazer.

No seu primeiro post aqui, a Sandra falou da perfeição; é um problema que aflige muita gente, inclusive a mim. Durante o doutoramento, tinha muitas conversas com um dos meus mentores, o Wade Brorsen, a propósito da publicação de artigos científicos. Eu achava que não valia a pena publicar algo que sabia não ser perfeito. Ele dizia-me: "Não cabe a ti avaliar a qualidade do que fazes, isso é uma responsabilidade dos outros".

Há uns anos adoptei a regra dos 95%: quando as coisas me satisfazem em 95%, saiem porta fora e não penso mais nisso, até regressarem. Os últimos 5% para atingir a perfeição são caros demais e roubam tempo a outras coisas. Para além disso, esse 5% podem ser caros para eu remediar, mas outra pessoa poderá fazê-lo com muito menor custo. Essa é uma vantagens de nos organizarmos em grupos na sociedade, em vez de vivermos e trabalharmos isolados.

Termino com o tempo: o tempo é a coisa mais preciosa que se pode dar a alguém. Pode-se obter mais de tudo com alguma probabilidade; mas a probabilidade de se obter mais tempo é zero. A todos nós são dados dias com exactamente a mesma duração; a forma como escolhemos usar o tempo de um dia é uma decisão nossa, que pode ter implicações para o futuro. Hoje é o primeiro dia do ano. Muitas pessoas fazem resoluções para o novo ano, mas qualquer dia é bom para se fazer uma resolução que afecta o resto das nossas vidas. Não percam tempo a esperar pelo primeiro dia do ano; como diz o Neil deGrasse Tyson, 1 de Janeiro é insignificante astronomicamente.

2 comentários:

  1. Não gostas de rédeas soltas? És mais pelo S&M, é o que é.

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    1. É quase S&M; é SaM: sobre a mesa, sob a mesa, sobre a manta, sob a manta... Acho o SaM mais versátil.

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