sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Um senão da revolução dos transportes


A revolução dos transportes encolheu o mundo. Aumentou a circulação de mercadorias, de pessoas e, principalmente, de ideias. Numa palavra, tornou as sociedades mais abertas.
Mas não há bela sem senão.

Há tempos um amigo elucidou-me sobre um “senão”.

Antigamente, os jovens iam para universidades localizadas nos grandes centros e só iam a casa dos pais uma vez por outra porque os transportes eram morosos. Hoje, não. Todas as sextas-feiras rumam para a aldeia ou povoação de onde um dia saíram. Isto tem consequências.

Antes, mesmo que com pouca frequência, ainda iam a uma exposição ou outra, ao teatro, ao cinema e, pelo menos, aproveitavam os fins-de-semana para dar umas voltas e conhecer “outros mundos”. Agora, não.

A semana é supostamente passada entre as aulas e os bares. Os horizontes culturais não se expandem e os jovens saem do ensino superior quase tão provincianos como quando lá chegaram.

É por isso cada vez mais frequente vermos jovens licenciadas perdidamente apaixonadas por mecânicos e canalizadores. Nada contra. Suspeito é que a coisa não vai correr bem.

8 comentários:

  1. "Hoje, não. Todas as sextas-feiras rumam para a aldeia ou povoação de onde um dia saíram. Isto tem consequências...

    "É por isso cada vez mais frequente vermos jovens licenciadas perdidamente apaixonadas por mecânicos e canalizadores."

    Por mais voltas que lhe dê, confesso, não percebo como é que aquelas permissas conduzem
    a esta conclusão.

    Quem é que volta a casa, os universitários, as universitárias ou ambos? Se voltam ambos, as jovens vão de boleia com os mecânicos e canalizadores porque os colegas universitários são demasiado tímidos ou não têm carro?

    Se as jovens licenciadas se apaixonam perdidamente (e porquê perdidamente e não achadamente) por canalizadores e mecânicos por quem se apaixonam os jovens licenciados?

    Nas terras para onde vão nos fins-de-semana as jovens licenciadas só há mecânicos e canalizadores porque os "doutores" preferem não viajar?

    Ou o "downgrade" é resultado de haver mais jovens licenciadas que jovens licenciados e, na hora do aperto, é dos canalizadores que elas gostam mais?

    PS - No original: "Está na hora do aperto, é dos carecas que elas gostam mais..."

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  2. Vamos por partes. Antes de mais, o facto de haver um desequilíbrio entre o número de licenciadas e licenciados pode contribuir, sem dúvida, para o tal fenómeno dos “mecânicos e canalizadores”. Se há mais ou menos um aluno para duas alunas no ensino superior, digamos que metade das raparigas não poderá escolher “doutores” . Mas a minha questão não era essa. Mesmo não tendo a opção de escolher um “doutor”, não era forçoso que as licenciadas se apaixonassem “perdidamente” ou “achadamente” por mecânicos e canalizadores. Não me parece que isso aconteça por causa das boleias que apanham. Acontece provavelmente porque, apesar de serem universitárias, o seu mundo de interesses continua igual ao dos mecânicos e canalizadores. Como disse, não se trata de snobismo da minha parte. Quando digo que suspeito que a coisa vai correr mal, é pelo simples facto que, regra geral, nesse tipo de profissões o nível de machismo é mais elevado. Não sei até que ponto alguma da violência doméstica não terá a ver com isto – mas aqui, reconheço, estou a especular, porque não conheço estudos sobre o assunto.

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  3. "Acontece provavelmente porque, apesar de serem universitárias, o seu mundo de interesses continua igual ao dos mecânicos e canalizadores."

    E conformam-se com o seu nível de interesses num rating tão baixo porque nos fins-de-semana se escapam velozmente para casa dos pais, em meios urbanos pequenos, porque o transporte é fácil. Fosse o transporte difícil e elas tivessem de permanecer nas proximidades da universidade, iriam ao cinema, ao teatro, a uma exposição ou outra, esqueciam-se dos canalizadores, e apaixonavam-se por quem?

    Percebo a sua preocupação: o desnível cultural no casal(que não será, neste caso, assim tão flagrante uma vez que refere que o nível de interesses dessas jovens apaixonadas por mecânicos e canalizadores é baixo) não augura nada de bom, ainda que o nivelamento, muitas vezes, não garanta melhor.

    Mas, a partir do momento, em que se inverteu radicalmente a posição da mulher na sociedade (quando fiz exame de admissão ao secundário, naquele tempo havia exames desde o primário, entraram 95 candidatos, dos quais apenas 6 eram do sexo feminino) mudou-se também a relação de rating cultural entre os elementos do casal.

    Pense na situação inversa, naquela que preponderava há, digamos, 40 anos: Ficaria igualmente preocupado com a frequência de casamentos (naquele tempo era costume casarem-se) entre jovens licenciados e jovens com a quarta classe a aprenderem a ser donas de casa?

    Mesmo que, por falta de facilidade de transportes, eles se vissem apenas durante as férias?

    Estou a especular, obviamente.

    O que seria interessante é que em vez de um caturra como eu aparecessem por aqui jovens, seus alunos e alunas ou ex-alunas e alunos, a dizerem o que lhes vai na alma.

    Acredito que muitos deles leiam o que escreve o professor Alexandre neste blog.

    Vá lá, digam o que pensam! O assunto é sério.

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  4. Antes de mais, agradeço ao Rui Fonseca os seus comentários inteligentes e pertinentes.
    Num ponto, pelo menos, estamos de acordo: o assunto é sério. Quando escrevi o post, não era minha intenção analisar os efeitos sociais e culturais do desequilíbrio entre licenciadas e licenciados. Este é, infelizmente, um problema pouco debatido, talvez porque seja muito delicado e susceptível de grande polémica. A título de exemplo, relembro que o famoso economista Lawrence Summers teve de se demitir em 2006 de Presidente da Universidade de Harvard porque numa conferência manifestou a sua preocupação com os efeitos que este desequilíbrio poderia provocar na qualidade da investigação. Este problema tem de facto muito que se lhe diga e é, ao que parece, uma espécie de tabu.
    A minha intenção, repito, era essencialmente sublinhar uma das possíveis causas do abaixamento do nível cultural de muitos dos jovens universitários: a facilidade dos transportes. Ainda esta semana, foi muito comentado um teste qualquer da revista Sábado que, pelos vistos, evidenciava níveis de (in)cultura geral confrangedores.
    Dito isto, não sei se os meus alunos lêem o blog (espero que sim), mas espero sinceramente que o meu mecânico não leia estes comentários. É um homem educado e civilizado e, por sinal, casado com uma professora. Penso que têm um casamento feliz.
    Como diz o Rui Fonseca, o nivelamento (cultural), muitas vezes, não garante o melhor e, acrescento eu, o desnivelamento nem sempre garante o pior. Tratando-se de pessoas nunca podemos definir leis universais. Só podemos falar em média e em tendências.

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  5. Acho que o post está demasiado impregnado de preconceito e sexismo para poder ser levado a sério. Pelo menos por uma mulher, estudante universitária proveniente da "província", e perdidamente apaixonada por um ilustre representante dessa classe culturalmente inferior dos não licenciados...

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  6. Interrogo-me se o facto de haver quase uma universidade em cada concelho com mais de 40 mil habitantes não contribuirá mais para isso do que os transportes.

    De qualquer forma, suponho que o desnível entre homens e mulheres na universidade introduziu um pouco de "ruído" na discussão [sem isso, os tais transportes levariam também a alunos universitários apaixonados por empregadas de quiosque]

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  7. "A título de exemplo, relembro que o famoso economista Lawrence Summers teve de se demitir em 2006 de Presidente da Universidade de Harvard (...)"

    Pois foi. E não foi tão longe como esta posta...

    Mas há um ponto que falha, Senhor Prof. Porquê os mecânicos? Porquê? Parece que as estudantes se deslocam de automóvel, e este, mais cedo ou mais tarde, requer reparação. Tal cria oportunidades para encontros fortuitos (tipo Noel Coward) com mecânicos, abrindo a porta para consequências nefastas conhecidas por todos. Solução: aumentem-se as portagens e criem-se mais aeroportos regionais! Tal fomentará um salutar convívio entre as estudantes e pilotos de aviação e comissários de bordo, classes bem mais conducente à preservação da ordem social e da cultura e do recato.

    R.F. (UM)

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