terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Salário mínimo e desigualdade salarial de género

Aqui está a última versão de um working paper, em co-autoria com Kemal Kizilca, Miguel Portela e Carla Sá, sobre o efeito do aumento do salário mínimo na desigualdade salarial entre géneros. Os nossos resultados parecem contra-intuítivos: uma subida do salário mínimo não conduz necessariamente a uma redução das diferenças salariais entre homens e mulheres. No caso que analisámos, há mesmo um aumento desta desigualdade após um forte aumento do salário mínimo que beneficiou os menores de 18 anos em 1998. No paper são discutidas várias hipóteses para explicar este resultado, mas aquela que parece mais consistente está associada a uma redistribuição de outras componentes de remuneração (para além do salário base) e do valor das horas extra, em favor dos jovens do sexo masculino.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Criar jovens empreendedores

Ao que rezam as crónicas desta semana, Passos Coelho quis distinguir-se de Cavaco Silva na forma como lidou com os protestos no passado fim-de-semana em Gouveia. Pois bem, agora foi a vez do presidente se distinguir do nosso primeiro, desaconselhando a emigração dos jovens. É essencial “reter os mais jovens nas suas terras para que não sejam tentados a ir para outras paragens ou mesmo o estrangeiro”, declarou o presidente numa visita a Santo Tirso, incluída no roteiro da Juventude ou coisa que o valha.

Como? Mobilizando «os jovens para o empreendedorismo, para sentirem mais ligação à terra e motivados para criar empresas que possam depois ajudar outros jovens a não sair da sua própria terra».

A palavra empreendedorismo está na moda há algum tempo e até já há disciplinas nas universidades com esse nome e tudo. Confesso o meu cepticismo sobre os resultados práticos deste tipo de pedagogias. E a criação de empresas bem sucedidas depende mais, por exemplo, da existência de recursos materiais (do indivíduo ou da nação) e da sorte do que da “vontade de vencer” ou de discursos “motivadores”.

Há muito que Cavaco anda a clamar por empresários indígenas modernos e inovadores. É um desiderato louvável. Desgraçadamente, eles não brotam das palavras.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Carta à Ana Rita

Na freguesia onde eu nasci, numa ilha sozinha no meio do Atlântico, não era comum o nome de Rita. Nem o de Ana. Logo que principiei a dar fé do mundo, isto é, das coisas e das pessoas, dizia-me minha Avó que havia uma senhora, sua parente, já morrida, que tinha o nome de Ana, a Tia Anica ou Tia Aninhas, e uma Tia Maria Rita, que morava no fim da minha rua, muito longe ainda para os meus pés, já velhinha, que o Avô Cristóvão ainda conheceu na sua adolescên­cia. E acrescentava minha Avó Maria da Luz: Há nomes que só os velhos é que usam, e enumerava alguns, dentre os quais os de Ana e Rita, hoje em dia muito ouvidos, porque muito lindos, sobre­tudo quando as combinações são felizes: Ana Rita, Ana Laura e outros que agora me dispenso de nomear…

Os nomes, como um dia hás-de saber, variam com as épocas. No tempo em que eu medrava na minha freguesia da Ilha, os nomes mais populares, para as mulheres, eram, e de certa forma ainda conti­nuam sendo, Conceição (o nome de tua bisavó), Teresa, Fátima, Eduarda, Clotilde, Lurdes, Espírito Santo, Cecília, Fernanda, Au­gusta, Agostinha, e outros do mesmo género, a maior parte deles prece­didos ou seguidos do nome Maria: Maria da Conceição, Concei­ção de Maria, Maria Teresa, Teresa Maria, Maria Eduarda, Edu­arda Maria, Maria Cecília, Cecília Maria, e assim por diante… Tam­bém se usava só Maria como único nome, de origem bíblica, como tantos outros, quer femininos, quer masculinos: Sara, Mada­lena, Marta, Ester; Joaquim, José, Samuel, Isaque respectivamente… Na actualidade, Maria, como único prenome, está sendo cada vez mais empregado, não só nas zonas rurais como nas urbanas.

Quando, aos sete anos, entrei para a Escola Primária, no livro de lei­tura da primeira classe, primorosamente ilustrado para se tornar sedu­tor, mas cujo conteúdo era perigoso porque patrioteiro e deforma­dor do espírito – havia um trecho em le­tra grande, como em toda a primeira metade do livro, para que a aprendizagem das primei­ras letras se tonasse mais simples. Esse trecho, como eu dizia, era ilustrado com uma gravura de uma menina de mão dada com a mãe, vendo-se, em fundo, um extenso trigal ainda longe de estar ma­duro. Lia-se: “Rita, vem ver a seara, é da cor da tua saia verde…”

Deve ter sido a primeira vez que tomei conhecimento do nome Rita. Achei-o melodioso. Minha Avó Luz, afinal, não tinha razão! Não se tratava de um nome exclusivo de pessoa idosa, mas de uma menina perfeita que vestia uma sainha verde. Mal sabia eu que, sessenta e cinco anos depois, estaria a escrever uma carta de aniversário a uma neta minha também chamada Rita.

E na distância do tempo gostava, se fosse possível, de reescrever o tre­cho do meu longínquo livro da primeira classe. Se o pudesse fa­zer, escreve­ria: “Rita, vem ver o mar tão lindo, azul-cobalto, manso, que o Avô Cristóvão tem estendido em tapete, como uma herdade alen­tejana, à porta da casa da Ilha do Pico. Fico então esperando  por ti, minha querida Rita.

Ilha do Pico, 2 de Fevereiro de 2012

Avô Cristóvão

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Portugal agrilhoado e o Euro a contragosto


Verifiquei, confesso que com alguma surpresa, que Francisco Louçã, no seu livro Portugal Agrilhoado - A Economia Cruel na Era do FMI, dedica duas páginas a discutir um trabalho que tenho com o Fernando Alexandre e com o Dr. Manuel Correia Pinho. Nesse artigo, procurámos econometricamente construir uma realidade alternativa, estimando o que teria sido a trajectória da economia portuguesa caso não tivéssemos aderido ao Euro. No essencial, chegámos a duas conclusões. Primeiro, Portugal teria crescido bastante mais se nos tivéssemos mantido fora do Euro. Segundo, não obstante, em 2009, a recessão que teria sido bem pior se não estivéssemos abrigados no Euro.

As considerações que faço nos parágrafos seguintes não alteram em nada o essencial: não só fiquei muito contente com tanto espaço dedicado ao nosso trabalho, como também encaro como válidas as críticas que tece a respeito do nosso exercício. Aliás, as limitações que Louçã aponta à nossa metodologia são explicitamente assumidas no artigo. Inclusivamente, numa nova versão do artigo, que disponibilizarei a quem o desejar, somos ainda mais explícitos nessa assumpção.

É este último ponto que me parece interessante e que me chama aqui à escrita. Enquanto num primeiro momento Louçã aponta diversas limitações ao exercício que fazemos, num segundo momento, talvez por gostar das conclusões a que chegámos, queixa-se de que não retirámos todas as implicações possíveis dos nossos resultados. Pudera, são precisamente as limitações apontadas que nos impedem de olhar para os nossos resultados como se fossem inquestionáveis.

Numa ou noutra passagem, Louçã também refere que no nosso artigo retirámos algumas conclusões a contragosto. Quanto a isso só posso dizer que ninguém nos encomendou este trabalho. Fizemo-lo porque nos apeteceu. Muito pouco, ou mesmo nada, contará nas nossas carreiras. Ou seja, tudo o que lá está está por gosto. 

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Paul Krugman, The Great Communicator

Aí ao lado, temos links para vários economistas famosos. Ainda faltam muitos, mas com o tempo acrescentá-los-emos. Ler as suas opiniões é mais interessante quando se conhecem os seus trabalhos científicos. Por exemplo, a partir dos artigos científicos de Greg Mankiw, nunca imaginaria que ele fosse um republicano/conservador tão devoto. Outros, como o de John Cochrane ou o de Steven Levitt, são exactamente o que seria de esperar.
O que mais surpreende é o de Paul Krugman. Quem conhece os seus contributos para a profissão, que, merecidamente, lhe granjearam o Prémio Nobel, não pode deixar de ficar a espantado com a sua exuberância blogosférica. Krugman não larga o esférico. É tão prolífico que se torna complicado acompanhá-lo. Ontem, escreveu o seu primeiro post às 10h30m. Ainda não eram 11h da manhã e já escrevia a sua segunda entrada. A meio da tarde, sai-se com uma outra entrada, para, 12 minutos depois publicar uma nova. Ainda não tinham passado 25 minutos e já tinha algo de novo a dizer ao mundo. 7 minutos depois escreve uma nota metodológica. Logo a seguir ao jantar, às 6h20 – nos EUA janta-se cedo – deixou mais uma entrada, esta de índole musical.
Isto foi ontem. Hoje, sábado, às 8h da manhã, já tinha uma nova entrada, com três gráficos. Aqui, em Portugal continental, pouco passa das 2h da tarde, dado que lá são menos 5 horas, Krugman ainda terá tempo para mais 5 ou 6 entradas, que isto de fins-de-semana é para tenrinhos.

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

El superjuez: a queda de um herói imperfeito

Filho de um pequeno agricultor, desde muito novo Baltazar Garzón levou à letra o conselho do pai: “para seres alguém, tens de ver o sol nascer”. Garzón não era apenas ambicioso, era obstinado. Várias vezes acusou publicamente os colegas de preguiça, falta de interesse e motivação. Era o mais controverso magistrado de Espanha. O magistrado das cruzadas.

Em 1988, aos 32 anos, tornou-se um dos mais jovens magistrados do todo-poderoso tribunal, a Audiência Nacional.

Os magistrados da Audiência Nacional são os mais poderosos de Espanha porque é aqui que vão parar os casos mais importantes. Nos estágios iniciais dos processos, não são apenas juízes, mas também promotores de justiça e polícias de investigação. Está por isso previsto um processo de recurso para evitar eventuais abusos de poder.

Logo em 1988, Garzón começou a dar nas vistas na sequência do famoso processo dos GAL (Grupos Antiterroristas de Liberación), montado e financiado pelo ministério do Interior dos governos socialistas de Felipe González.

Na guerra suja contra a ETA, foram atribuídas 27 mortes ao GAL, tendo sido entretanto provado que um terço das vítimas nada tinha a ver com os terroristas. Foi um escândalo enorme na altura, embora Gárzon nunca tenha conseguido provar uma ligação directa entre o GAL e Felipe González, que supostamente não estaria a par das operações. De qualquer maneira, os danos provocados ao governo socialista foram devastadores.

A coragem de Garzón era evidente, mas também se tornaram logo evidentes os seus defeitos: a vaidade, a arrogância e uma fraqueza fatal para chamar a atenção.

O astuto Felipe González percebeu bem a natureza do homem e convidou-o, em 1993, para número dois da lista do PSOE em Madrid, abaixo do próprio González. Foi uma jogada de mestre. Garzón, cego pela ambição e pela vaidade, caiu que nem um patinho e aceitou. Os socialistas, contra todas as previsões, voltariam a ganhar as eleições. Afinal de contas, tinham agora do seu lado o homem que lhes tinha feito a vida a negra, denunciado uma série de escândalos de corrupção.

A passagem de Garzón pelo governo socialista foi um desastre. Esperava que lhe dessem um cargo e poderes para o combate à corrupção. Enganou-se. Foi-lhe atribuído o título de “czar” antidroga, com ligações ao ministério do Interior.

Depois da passagem desastrosa pelo governo, a sua atracção pelos holofotes e câmaras de televisão não refreou. O processo que instaurou contra os crimes dos franquistas é mais um exemplo dessa sua vertigem mediática. Uma ideia abstrusa, diga-se de passagem, e pela qual está também a ser julgado em tribunal. Mas, como sempre, ele parecia adorar dividir a opinião pública espanhola ao meio.

Foi agora condenado em tribunal devido a abusos de poder. A sua carreira enquanto juiz está acabada. Não nos devemos espantar. Afinal de contas, a soberba e a vaidade são pecados capitais.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

A Briosa no Jamor




Que toda a diáspora coimbrã  se encontre no Jamor.
Sacudam a naftalina, vamos colorir o estádio com as nossas capas negras.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Só mais uma nota sobre Blink

Convém referir que Malcolm Gladwell sublinha no seu livro que aquando da tomada de decisão “só é possível agir de forma inteligente e instintiva no momento depois de um percurso longo e rigoroso de educação e experiência.”

Chegado o momento da decisão, as avaliações instintivas têm mais probabilidade de serem boas e certeiras quando se trata de pessoas com mais experiência e que antes estudaram e reflectiram sobre o assunto, nomeadamente porque a probabilidade de bloquearem é menor, em especial em
situações de grande pressão e tensão – ele dá vários exemplos: guerra, alta competição, operações de cirurgia, etc.

Ainda o Blink! e a tomada de decisão

Diz Gladwell no posfácio do seu livro:

Uma das perguntas que me têm feito inúmeras vezes desde a publicação de Blink é quando é que devemos confiar nos nossos instintos e quando é que devemos pensar conscientemente nas coisas. Bem, há uma resposta parcial.

Para escolhas claras, é preferível fazer uma análise deliberada. Quando questões de análise começam a ficar mais complicadas – quando temos de equacionar muitas variáveis diferentes -, então os nossos processos de pensamento inconsciente podem ser superiores. Ora, percebo que isso é precisamente o oposto da sabedoria convencional.

Tipicamente, consideramos que a nossa avaliação instantânea é melhor para questões triviais imediatas. Aquela pessoa é atraente? Quero aquele chupa-chupa?

Para confirmar esta “resposta parcial” Gladwell socorre-se do estudo de um psicólogo holandês, chamado Djiksterhuis. Este interrogou vários clientes de um grande armazém holandês que vende produtos baratos, como acessórios de cozinha, sobre o tempo que tinham despendido a pensar antes de comprarem o que tinham comprado. Algumas semanas depois, contactou todos os clientes para apurar o grau de satisfação com as suas opções. Conclusão: os que tinham despendido mais tempo na hora de decisão estavam mais satisfeitos. Djiksterhuis fez a mesma experiência com clientes do Ikea, “onde as pessoas faziam compras muito mais complicadas e dispendiosas”. Conclusão: desta vez, os que tinham confiado mais nos seus instintivos eram os que estavam mais satisfeitos.

Gladwell acrescenta ainda uma citação de Sigmund Freud para reforçar a tese. Dizia então Freud:

Quando tomo uma decisão pouco importante, penso que é sempre vantajoso considerar todos os prós e contras. Porém, em questões vitais como a escolha de um parceiro ou parceira ou de uma profissão, a decisão deve vir do inconsciente, de algures dentro de nós. Penso que nas decisões importantes da nossa vida pessoal deveríamos reger-nos pelas necessidades interiores profundas da nossa natureza.

Problema resolvido? Nem por isso. Diz Gladwell:

A verdade é que não é uma questão a que euou outra pessoa qualquerpossa responder definitivamente. É demasiado complicada. Estou convencido de que o melhor que podemos fazer é tentar decifrar a quantidade certa de análise consciente e inconsciente caso a caso.

(…) Penso que a tarefa de descobrir como combinar o melhor da deliberação consciente e da avaliação instintiva é um dos grandes desafios do nosso tempo. (…) Se um empresário aposta num produto novo, como é que pesa as informações que obtém através da análise racional do mercado existente e os seus instintos sobre o potencial da sua ideia nova?

A este tipo de perguntas, Gladwell prefere, como sempre, responder com exemplos ilustrativos:

A verdade é que a avaliação de jogadores de basquetebol é um exemplo muito bom do que eu tenho estado a falar aqui - a necessidade de compreender quando devemos confiar nos nossos instintos e quando não devemos confiar neles.

Gladweel refere aqui um livro de três economistas (David Berri, Martin Scmidt e Stacey Brook) “para estabelecer uma medida mais sofisticada para avaliar jogadores profissionais de basquetebol.” Estes economistas recorrem a uma infinidade de estatísticas para medir o desempenho dos basquetobolistas americanos e chegam por vezes a conclusões surpreendentes. Alguns atletas “que eram considerados muito bons acabavam por parecer bastantes medíocres” e vice-versa. Esta ideia é tratada no filme Moneyball com o Brad Pitt, e que anda aí nas salas de cinema, só que nesse caso trata-se de jogadores de basebol.

Significa isto que já não há espaço para a avaliação instintiva de jogadores? Bem, no caso do filme acima referido (baseado numa história real) parece ser essa a conclusão. A verdade é que há: Como é que se mede, por exemplo, a atitude e a motivação de um atleta?

Ele trabalha muito? É um bom companheiro de equipa? Sai a noite inteira para beber e drogar-se ou leva o seu trabalho a sério? Até que ponto é resistente perante a adversidade? Quando a pressão é maior e o jogo está em causa, como é que ele reage? É uma pessoa com potencial para melhorar ao longo do tempo?

Todos concordarão que estas perguntas são muito mais complicadas – e tão mais importantes como – simples medidas estatísticas de desempenho.

Conclui Gladweel sobre o assunto:

As equipas de basquetebol melhores e de maior sucesso – como as melhores e mais bem sucedidas organizações de qualquer espéciesão as que compreendem como combinar a análise racional com a avaliação instintiva.

Em suma, tudo isto é muito complicado e misterioso e não é possível encontrar fórmulas para resolver o problema.

Para baralhar


Depois de expor a teoria do professor Professor Shane Frederick no post anterior, fui rever Blink! (piscar de olhos) de Malcolm Gladwell. Eis alguns excertos:

Blink! fala sobre o conhecimento rápido, sobre o tipo de pensamento que acontece num piscar de olhos. Quando vemos alguém pela primeira vez, quando entramos numa casa que estamos a pensar comprar ou lemos as primeiras frases de um livro, a nossa mente demora cerca de dois segundos a tirar uma série de conclusões. Bem, Blink! é um livro acerca desses dois segundos, porque penso que essas conclusões instantâneas que tiramos são verdadeiramente poderosas, francamente importantes e, ocasionalmente, boas.

Também poderia dizer-se que é um livro sobre intuição, mas eu não gosto dessa palavra. Na verdade, ela nunca aparece em Blink!. A intuição parece-me um conceito que usamos para descrever reacções emocionais, opiniões instintivas – pensamentos e impressões que não parecem inteiramente racionais. Porém, estou convencido de que o que acontece nesses primeiros dois segundos é perfeitamente racional. E o pensamento – é apenas pensamento que se processa um pouco mais depressa e um funciona um pouco mais misteriosamente que o tipo de decisão deliberada e consciente, que associamos normalmente ao “pensamento”. Em Blink! estou a tentar compreender esses dois segundos. Que se passa nas nossas cabeças quando temos um conhecimento rápido? Quando é que as avaliações instantâneas são boas e quando é que não são?

(…)

Vivemos numa sociedade devotada à ideia de que o melhor é reunir o máximo de informações possível e gastar todo o tempo possível em deliberação. Quando somos crianças, esta lição é-nos repetida vezes sem conta: a pressa é inimiga da perfeição, olha antes de saltar, pára e pensa. Porém, não acredito que seja verdade. Há muitas situações – especialmente em momentos de grande pressão e tensão – em que a pressa não é inimiga da perfeição, em que as
nossas avaliações instantâneas e primeiras impressões nos proporcionam um meio muito melhor de compreender o mundo.

Mas, por outro lado, Gladwell está também interessado:

(…) em compreender os géneros de situações em que temos de ter cuidado com os nossos poderes de conhecimento rápido. Por exemplo, há um capítulo onde falo muito acerca do que significa para um homem ser alto. Telefonei para várias empresas americanas da Fortune 500 e perguntei qual era a altura do seu director-geral. E a conclusão a que cheguei foi que eram quase todos altos. Ora, isso é estranho. Não existe correlação entre altura e inteligência, nem altura e avaliação, nem altura e capacidade de motivar e liderar pessoas. Porém, por algum motivo as empresas escolhem esmagadoramente pessoas altas para cargos de liderança. Penso que é um exemplo de conhecimento rápido: acontece alguma coisa nos primeiros segundos em que se conhece uma pessoa alta que nos deixa predispostos a pensar que essa pessoa é um líder eficiente.



Em suma, Gladwell conclui:

Com Blink!, estou a tentar ajudar as pessoas a distinguirem o seu conhecimento rápido bom do seu conhecimento rápido mau.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Um erro


Na sequência de um comentário do Rui Fonseca sobre o meu anterior post “Um problema”, fui
verificar as minhas fontes. Agradeço ao Rui Fonseca, porque de facto o meu texto poderia induzir a algumas conclusões erradas. Aqui vai o texto que serviu de base à história que me foi contada pelo meu colega - retirado de mitsloan.mit.edu/newsroom/newsbriefs-0605-frederick.php:

Shane Frederick:
MIT Sloan professor develops new intelligence test
Remember that adage about trusting your first instinct? Forget it, says MIT Sloan Professor Shane Frederick, who has developed a simple, three-item test that measures people's
ability to resist their first instinct. “Do you want someone running your company who doesn't think beyond their first impulse,” asks Frederick, “or do you want someone who is willing to ask herself, 'Does this response really make any sense?'” He says that the cognitive reflection test serves as a rough measure of that ability or disposition.

Take, for example, one of his three questions — and answer it before reading on.

A bat and a ball cost $1.10 in total. The bat costs a dollar more than the ball. How much does the ball cost?

Frederick posed this question to more than 3,000 students at eight different universities. Fewer than half gave the correct answer (5 cents). What did the rest say? You guessed it — 10 cents.
That's the answer most people think of first, and which only some of them recognize as wrong. Although Frederick admits thinking “10 cents” when he first saw the problem, he was still stunned by how many people actually stayed with that as their “final answer.”

“A moment's reflection is sufficient to reveal the error of this initial, thoughtless response,” says
Frederick. “If a person bothered to check their answer, they'd recognize that the difference between $1 and 10 cents is only 90 cents, not one dollar as the problem stipulates. Everyone can recognize this. But not everyone does.
”Frederick found that those who do well on the cognitive reflection test tend to be more patient in decisions between smaller sooner rewards and larger later rewards. They are also more willing to gamble in financial domains.
According to Frederick, this three-item test predicts such characteristics as well as and sometimes better than much longer cognitive tests, such as the SAT, ACT, or the Wonderlic Personnel Test (which is the “IQ” test used by many employers, including the National Football League). While not claiming that his test is a perfect substitute for such established intelligence tests, Frederick says it comes close and is much easier to use, adding that the availability of such convenient short tests may spur further research on the relationship between cognitive ability and decision making.

“Decision making is a cognitive activity, yet few study how cognitive ability affects it,” Frederick says. “We now have a test that takes a minute to complete and is as predictive as other tests that take more than three hours.”

Um erro: no Carnaval não há tolerância

Um erro: até poderia fazer sentido incluir o fim da tolerância de ponto no Carnaval na discussão dos feriados a eliminar - de facto toda a gente pensa que é feriado. Mas é um erro anunciá-lo a 3 semanas do acontecimento. Até porque este é um dia celebrado em muitas localidades, ao contrário da maior parte dos feriados.
A menos que o Governo pretenda desviar a discussão pública doutros assuntos mais incómodos, esta decisão vai gerar uma confusão desnecessária. Incompreensível, para quem está há tão pouco tempo no poder e numa crise com a gravidade da que vivemos.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Um problema

Num exame geral para acesso a uma prestigiada universidade americana, saiu a seguinte questão: Um taco de basebol e uma bola custam 1 dólar e 10 cêntimos. O taco custa mais um dólar do que a bola, quanto custa cada um dos produtos?

80% dos candidatos não conseguiram resolver o problema.

Vezes mil

Jorge de Sena dizia que os brasileiros tinham herdado os defeitos e as virtudes dos portugueses multiplicados por mil. A corrupção parece comprovar a suposição. Desde Julho de 2011, já abandonaram o governo de Dilma Rousseff sete ministros acusados de corrupção. Agora, foi um tal de Negromonte, (ex) ministro das cidades, substituído entretanto por outro que também é alvo de suspeitas de irregularidades. Ninguém sabe aonde é que isto vai parar.

De qualquer maneira, Dilma parece não desarmar. A sua determinação no combate a esta epidemia é mil vezes superior à de qualquer governante português, confirmando-se, uma vez mais, a tese de Jorge de Sena.

Os direitos adquiridos dos Cavaquistas por JMF

JMFernandes, neste artigo, disse quase tudo sobre os 'direitos adquiridos' dos reformados - só lhe faltou dizer que as reformas que recebem são também baseadas em salários (demasiado) elevados que contribuíram para a crise que hoje vivemos.

PS Entretanto o texto ficou disponível aqui.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

ainda a lei do aborto

Li hoje a notícia que o PSD não tenciona rever a lei do aborto durante esta legislatura, numa altura em que em Espanha se discutem possíveis alterações. Percebo a cautela do PSD. Já não percebo a desonestidade intelectual de Carlos Zorrinho, do PS, quando diz que: “O PS entende que não há qualquer razão para alterar a actual lei sobre interrupção voluntária da gravidez. É uma lei que decorre de um referendo e que tem mostrado ser uma lei equilibrada e adequada às circunstâncias”. O que se votou no referendo foi a despenalização do aborto em determinadas circunstâncias. Que eu saiba, em nenhuma parte da pergunta se questionava a opinião dos portugueses quanto ao facto do aborto ser subsidiado por dinheiros públicos, estar isento de taxas moderadoras, o que na prática o coloca como um direito. É no mínimo estranho (para mim, sinistro), que se pague taxas moderadoras por tratar uma perna partida de uma criança com idade superior a 12 anos (neste caso, modera-se o quê?), e nada se pague se se optar por não ter a criança.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Email que recebi de um amigo e que publico

No domingo e na segunda-feira estive numa feira alimentar na Alemanha (ISM) dedicada a “confectionary & bakery (a tradução directa para confeitaria e pastelaria não traduz o conceito inglês na totalidade) e pude constatar 3 factos. Primeiro, a Europa está em crise (não que fosse preciso ir a feira, mas…), a feira está mais pequena, os próprios produtores tem espaços mais exíguos, principalmente os europeus. Segundo. os BRICT’s liderados nesta industria pelo Brasil e pela Turquia, estão a aumentar, e de que maneira, a sua presença, com uma forca de fazer a velha Europa corar de inveja (no meu caso foi com algum orgulho que ouvia agora mais Português, ainda que com sotaque, por onde quer que passasse). Terceiro, Portugal continua a participar de forma desgarrada e sem qualquer objectivo comum (pelo menos que se perceba). Honra seja feita aos 4 resistentes Dan-Cake (Danesita como marca fora de Portugal), Imperial (belo stand!), Vieira de Castro e Lusiteca.

E é aqui, neste último facto, apesar de completamente fora do meu objectivo de visita ao evento, que gostaria de partilhar o meu ponto de vista, elaborando um pouco mais. Enquanto todos os mais importantes países Europeus (incluindo alguns em crise como a Espanha, a Itália e a Bélgica) tinham um grande espaço comum, com um conceito comum e uma identidade clara que depois dividiam em pequenos stands de pequenos produtores, os portugueses que lá estavam, estavam cada um por si. Não que estivessem mal, pelo contrário, mas penso que poderiam sair reforçados se tivessem uma estratégia comum, por forma a competir, por exemplo, com os nossos vizinhos espanhóis, mestres no assunto e com quem temos muito a aprender.

Por último, gostaria de focar a baixa capacidade de inovação dos 4 nacionais. Todos, ou quase todos os produtos são “mee-too’s” de produtos já existentes no mercado que, estou em crer, se produzem de forma mais barata na Roménia ou na Bulgária com uma qualidade similar. Atenção que não falei com nenhum dos ditos produtores, uma vez que não estava no âmbito da minha visita, pelo que só falo do que constatei ao passar pelos stands. Por vezes os produtores, para salvaguardarem a confidencialidade, guardam a inovação longe da vista, partilhando só com alguns e este até pode ser o caso.

No entanto, se não existir verdadeira inovação, sem uma marca forte no contexto competitivo internacional, com os dias contados na diferenciação pelo preço baixo de produção e sem algo que os una para que tenham um pouco mais de forca como um todo, como pode a nossa indústria (neste caso alimentar) sobreviver?

Nuno Pinto, Director de Inovação de uma multinacional a trabalhar no estrangeiro