domingo, 28 de abril de 2013

Previsões com intervalos de confiança

Escreve o Ricardo Reis, e bem, que se as previsões fossem dadas com intervalos de confiança de 90%, então se em 10 previsões, três estivessem erradas, saberíamos que nos estavam a tentar enganar (ou então que estavam a ser incompetentes).
Mas, mesmo sem essa informação, há formas de saber se estão a fazer bem as contas ou se nos estão a tentar enganar (ou a ser incompetentes). Se as previsões forem rigorosas, metade das vezes erra-se para cima e metade para baixo.
Ou seja, se as previsões são sistematicamente mais optimistas do que a realidade é porque alguma coisa está a ser mal feita. Sabemos isso mesmo sem intervalos de confiança.

sábado, 27 de abril de 2013

Calado é que está bem

De cada vez que Cavaco se cala durante umas semanas, logo se exige que fale, que a situação do país requer um presidente mais activo. Pode ser que desta vez se compreenda de uma vez por todas que calado é que está bem. É melhor nada esperar desta presidência, tudo o que de lá vem é pior que nada.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Baixa na Destreza

A destreza perdeu, temporariamente, um dos seus elementos, o Fernando Alexandre, que foi nomeado secretário de estado. O blogue, obviamente, continua. E continua com a independência de sempre, pelo que continuaremos a falar mal do governo. Para evitar quaisquer mal-entendidos, decidimos retirar o Fernando Alexandre da lista de autores.

Ao Fernando, desejamos que ponha a sua competência e empenho ao serviço do país.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Fernando Alexandre. Perfil rápido de um novo Secretário de Estado

Imaginando que haja muita gente à procura do perfil do Fernando Alexandre, deixo aqui um breve resumo. Pode conter algumas pequenas imprecisões, dado que estou a fazer isto a correr antes de ir para a minha aula.

Conheci-o em 1993, durante uma prova oral de Macroeconomia, com o Professor Pedro Ramos, na Universidade de Coimbra. Assisti ao seu exame. Entrou com 13 e saiu com 17 valores, após uma prova brilhante. Éramos de anos diferentes e a nossa amizade nasceu nesse dia.

Licenciou-se antes de mim (1995, salvo erro) e veio para a Universidade do Minho dar aulas em 1996. Fez mestrado em Economia na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Dedicou a tese à influência da repartição do rendimento no crescimento económico, que defendeu, com nota máxima, em 1998. Em 1999, foi para a Universidade de Londres fazer doutoramento em Economia sob supervisão de John Driffill. Especializou-se em Economia Monetária em tempos de incerteza.

Regressa à Universidade do Minho após terminar o doutoramento em 2003. Desde então a sua actividade profissional divide-se por três áreas: docência, investigação e gestão universitária. Enquanto docente, é quase unanimemente considerado pelos seus antigos alunos como um dos melhores professores que já tiveram, senão mesmo o melhor. Em termos científicos, deve ter cerca de dezena e meia de artigos publicados (e a publicar) em revistas internacionais, salientando-se os seus trabalhos sobre política monetária internacional, sobre Bolonha e a qualidade do ensino superior e competitividade externa. Já em 2009, escreveu um dos melhores livros no mercado sobre "A Crise Financeira Internacional".

Correndo sérios riscos para a sua carreira académica, dedicou os últimos anos a estudar a economia portuguesa. Organizou e liderou o projecto “A Economia Portuguesa na União Europeia, do qual sairá um livro sobre a Economia Portuguesa. Escreveu vários artigos, alguns já publicados e outros a publicar, sobre competitividade externa. Liderou o estudo sobre a Poupança em Portugal, encomendado pela Associação Portuguesa de Seguradores, esteve na equipa que fez o estudo sobre o Emprego e TSU.

No que toca a gestão universitária, desde que regressou a Portugal, já foi director do Departamento de Economia, director da Licenciatura em Economia e Vice-Presidente da Escola de Economia Gestão, sendo também o Presidente do Conselho Pedagógico da mesma escola. Em todos estes cargos deixou a sua marca de qualidade. Elevando o Departamento de Economia, primeiro, e a Escola de Economia e Gestão, depois, a patamares de exigência que muito dificilmente teriam sido alcançados sem a sua liderança.

Enfim, a experiência política do Fernando Alexandre é diminuta. Mas, se se considerar que um governo fica enriquecido por incluir "gente de fora da política", então é importante que esses outsiders sejam os melhores nas suas áreas de actividade.

Ao irem buscar o Fernando à academia, foram buscar o que de melhor a academia tem para oferecer. Não tenho qualquer dúvida a esse respeito. Da parte que me toca, desejo-lhe um bom trabalho.


Adenda: um aspecto da carreira de Fernando Alexandre que me esqueci de referir nestas notas apressadas tem a ver com o seu trabalho de consultoria. Também neste item, o Fernando Alexandre sempre foi um académico muito activo, tendo feito trabalhos para a Associação Portuguesa de Seguradores, para o Tribunal de Contas, para a Capital Europeia da Cultura, para a Microsoft, entre vários outros.

Fernando Alexandre escolhido para secretário de Estado da Administração Interna

Um dos colaboradores deste blogue, o Fernando Alexandre, vai ser secretário de Estado. Desejamos-lhe a maior das sortes e um excelente trabalho.
Da parte que me toca, apenas posso dizer que o Fernando é uma pessoa excepcional, um economista brilhante que dedicou os últimos anos da sua carreira académica a estudar o país.
Que seja nomeado para o governo um dos autores do estudo sobre o impacto da TSU no emprego é algo que me surpreende. Mas, obviamente, é uma óptima surpresa.

domingo, 21 de abril de 2013

"O país continua a funcionar apesar do governo!"

Sexta-feira passada foi um dia importante para as pós-graduações aqui na EEG/UMINHO. Pela primeira vez, organizou-se o Research Day. Participaram várias dezenas de alunos de mestrado e doutoramento, apresentando os seus trabalhos, uns em fases iniciais, outros já mais avançados. Todas as apresentações tiveram professores destacados para comentar os trabalhos e fazer sugestões. À tarde, tivemos debate (a foto é de mim a moderá-lo, desculpem o narcisismo). No debate, contámos com o Pedro Magalhães, com a Joana Martins (da PORDATA, ao meu lado na foto) e com Alda Carvalho (presidente do INE). 

Há vários meses que este evento estava a ser organizado. Graças ao Despacho de Vítor Gaspar, quase tivemos de cancelar a participação dos convidados de fora. Isto porque, graças àquele Despacho, não podíamos pagar viagens, refeições, estadias. Digo quase, porque no fim resolvemos o problema. Alguns professores da EEG pagaram essas despesas do seu bolso. Estava fora de questão cancelar um evento para o qual os nossos alunos já se haviam empenhado tanto. 

Como disse o Fernando Alexandre, em comentário no Facebook"o país continua a funcionar apesar do governo!"

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Responsabilidades

Foram precisos muitos anos até Portugal conhecer as responsabilidades que os sucessivos Governos foram assumindo com os contratos de Parcerias Público-Privadas (PPPs). Só quando aquelas responsabilidades começaram a ser pagas e a ter um peso significativo no orçamento – num contexto de consolidação orçamental – é que a pressão da opinião pública ‘obrigou’ o Estado a tornar públicas as responsabilidades assumidas e o seu custo para os contribuintes.

Também em relação às pensões de reforma era importante que os cidadãos conhecessem as responsabilidades assumidas pelo Estado. Um procedimento que traria muitas vantagens em termos de transparência seria que todos os anos, para além do seu número, o Estado publicitasse também a responsabilidade que, com as leis em vigor à altura, os novos reformados representam para o Estado. A divulgação desta informação tornaria mais transparentes as implicações orçamentais das reformas antecipadas, bem como os custos do sistema de pensões para todas as gerações de contribuintes.

São contas muito fáceis de fazer.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Passou-se

Olhando para o consulado de Vítor Gaspar, fico com a ideia de que este homem já se passou da cabeça umas quantas vezes.

Passou-se quando resolveu impor medidas de austeridade, que iam além de cortes draconianos, tirando dois meses de ordenado a um conjunto de trabalhadores que já tinha perdido um.

Tornou-se a passar quando se lembrou de querer passar um mês de salários para as empresas (via mudanças na TSU).

Agora, passou-se novamente na reacção ao chumbo do Tribunal Constitucional, assinando um despacho que, simplesmente, paralisa um conjunto de instituições que apesar dos muitos cortes que sofreu nos últimos anos se ia mantendo em actividade.

Fico com a ideia de que os tempos são de demasiada gravidade para ter à frente da pasta mais importante do Governo um tipo que se passa com esta regularidade, tomando decisões inúteis e com custos irreversíveis.

É impossível uma pessoa não se lembrar da reacção de Mário Soares quando o seu ministro Ernâni Lopes, que tinha uma missão semelhante à de Gaspar, lhe telefonou a dizer que no dia seguinte não haveria dinheiro para pagar salários. Soares respondeu-lhe que tinha de ir dormir porque, a ser verdade tal informação, precisaria da cabeça fresca no dia seguinte. Esta é uma das diferenças de ter um primeiro-ministro a sério e ter Passos Coelho. Com um primeiro-ministro a sério não há lugar para loucuras feitas de cabeça quente.

terça-feira, 9 de abril de 2013

Boa viagem

Tenho que admitir que este Governo não merece o povo que governa. Os portugueses, mesmo aqueles que aparentemente dela beneficiaram, perceberam o absurdo da decisão do Tribunal Constitucional. A decisão do Ministro das Finanças de congelar as despesas mostra que, de facto, ele, embora não viva cá, deve estar de partida para outro lugar. Desejo-lhe boa viagem.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

O discurso de PPC

Gostei ontem do discurso de Passos Coelho. No entanto, teve vários problemas. Se no início do discurso esteve muito bem ao explicar como a acção do governo ficou limitada pela decisão do Tribunal Constitucional, ao fim de 2 ou 3 minutos, esperava-se que a lamúria acabasse. Foi lamúria sobre lamúria até ao fim. Tanta acrimónia foi excessiva. Quem passa a vida a dizer que os portugueses têm de enfrentar as dificuldades de frente, que não devem ser piegas, que devem ver o desemprego como uma oportunidade, bem que pode aplicar a mesma receita a si próprio, transformando o acórdão do TC numa oportunidade.

Em primeiro lugar, estando este governo a meio do mandato (e com maioria absoluta), começa a ser um pouco absurdo esta coisa de apenas conseguir reduzir a despesa (e aumentar a receita) à custa de medidas temporárias e extraordinárias. Este acórdão dá ao governo a oportunidade de dar um passo em frente.

Segundo, numa negociação entre devedor e credores, a única arma negocial do devedor é, precisamente, a possibilidade de não pagar. É triste, mas é assim mesmo. Uma decisão destas dá força negocial ao governo para exigir melhores condições. Se as consegue ou não, depende da sua habilidade. Ora o discurso de ontem foi a antítese disso. Transformou uma oportunidade num castigo. Pareceu quase um convite à tróica para que nos punisse por sermos tão pobre e mal-agradecidos. Já não estamos nos tempo de Egas Moniz, que foi com a corda ao pescoço oferecer a sua vida e a dos seus ao rei de Leão e Castela.

Fiquei sem perceber uma coisa. Muita gente estava à espera que fosse anunciado que o Estado estava sem liquidez e que, portanto, os subsídios de férias seriam parcial ou totalmente pagos em Obrigações do Tesouro, Certificados de Aforro ou algo do género. Adicionalmente esperava-se que aumentasse algum imposto — por exemplo a sobretaxa de IRS passar de 3,5 para 5 ou 6%. Ora, nada disto foi anunciado. Pelo contrário, o que foi dito é que o cheque da tróica dependia destas medidas agora chumbadas pelo que nos arriscávamos a nem esse cheque receber dentro de uma semana. Se nada disto é necessário para atingir as metas, para que é que andaram a cortar salários e pensões? Para se divertirem?

domingo, 7 de abril de 2013

Uma pergunta

É de todo implausível a hipótese de os subsídios de férias dos funcionários públicos e pensionistas serem pagos, parcial ou totalmente, em Obrigações de Tesouro a 10 anos? 
Poderia ser feito com uma emissão especial de OTs para este fim específico e, idealmente, poderia ser transaccionada no mercado secundário.

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Às avessas

Vi a entrevista de Nuno Crato e fiquei chocado. Não consigo entender as loas que se estão a cantar ao ministro da educação.
A ideia de mandar uma licenciatura para tribunal porque houve um exame oral em vez de escrito é, simplesmente, absurdo. É um mero erro formal e é tão minúsculo que não tem qualquer relevância.
Considero absolutamente ridículo que numa licenciatura de 36 disciplinas, alguém não faça 32 e que o problema esteja não nas 32 disciplinas que não fez, mas sim no exame de uma das 4 que realmente fez.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Começa-se nos livros, acaba-se nas pessoas

À meia-noite do dia 10 de Maio de 1933, em Berlim, na praça fronteira à Ópera Kroll, foi feita uma fogueira de livros, da qual, em 24 horas, seriam publicadas fotografias nas primeiras páginas de centenas de jornais de todo o mundo. Eram livros de psicologia e filosofia, livros com perspectivas comunistas, socialistas, democráticas ou humanísticas, livros de autores judaicos e livros que não faziam a glorificação da guerra, livros, enfim, heréticos de acordo com o credo nazi. O poeta Heinrich Heine (1797-1867), cujas obras se encontravam entre as que foram consumidas pelas chamas, escreveu: “Quando se começa a queimar livros, acaba-se a queimar pessoas.”

Números do abismo

Entre 1980 e 2010, o nosso PIB cresceu à taxa média anual de 2,4% enquanto a despesa primária do Estado evoluiu à taxa de 4,2% (quase o dobro). Se nos concentrarmos no período 2000-2010, esses valores são, respectivamente, 0,6% e 2,9%. Bastam estes números para se perceber que, tarde ou cedo, Portugal acabaria por bater na parede. A crise internacional veio apenas acelerar o inevitável. Não perceber isto é não perceber nada do que se está a passar.

In a blink everything can change


«I should know better than to count on the future. All you can ever believe in is now…this moment. Because in a blink… everything can change. » (Dexter, season 7)
A 16 de Outubro de 1929, Irving Fisher, professor de economia da Universidade de Yale, declarou que os preços das acções norte-americanas tinham “chegado ao que parece ser um planalto permanentemente elevado”. Oito dias depois, a 24 de Outubro, na chamada “quinta-feira negra”, o índice Dow Jones sofreu uma queda de 2%. Convencionalmente, diz-se que o crash de Wall Street começou nesse momento, embora o mercado já estivesse na realidade a resvalar desde o início de Setembro, tendo sofrido uma descida de 6% a 23 de Outubro. Na “segunda-feira negra” (28 de Outubro), mergulhou 13% - no dia seguinte, mais 12%. Ao longo dos três anos seguintes, a bolsa de valores norte-americana sofreu uma impressionante queda de 89%, chegando ao seu auge em Julho de 1932. O índice só recuperou o seu pico de 1929 25 anos mais tarde, em Novembro de 1954.

Falsidade transformada em dogma?

O Zé Carlos, nesta entrada, punha em questão a ideia de que as actuais gerações mais novas são as mais qualificadas de sempre. Sobre esse assunto vale a pena ler esta notícia:
Noruega vai recrutar em Portugal nos dias 11 e 12 de Abril
Depois do sucesso alcançado em maio do ano passado, altura em que Portugal acolheu a primeira iniciativa de contratação setorial, direcionada especificamente a engenheiros, sobre a chancela “Engineers Mobility Days”, o evento regressa novamente ao país a 11 e 12 de abril, no Instituto Superior de Engenharia de Lisboa (ISEL), numa iniciativa conjunta do Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) e da rede Eures. Tal como no ano passado, o evento apresentará oportunidades de trabalho em vários países europeus. Este ano, são sete as nações presentes, representadas por 35 empresas de vários sectores de atividade, mas com um elo comum: todas têm necessidades de mão-de-obra qualificada na área da engenharia que não conseguem preencher internamente. Uma das empresas presentes é a norueguesa National Oilwell Varco (NOV) que nos últimos anos tem recrutado com sucesso em Portugal.
(...) Segundo a conselheira [Eli Syvertsen], o interesse das empresas norueguesas pelos profissionais portugueses está sustentado por diversos factores entre os quais a qualidade da sua qualificação e o perfeito domínio do inglês.
Eu não só não tenho dúvidas de que esta é a geração mais qualificada de sempre como também estou convencido de que, a longo prazo, a principal consequência negativa da depressão em que vivemos é mesmo esta fuga de jovens qualificados para o estrangeiro. É um imenso investimento que foi feito nas últimas décadas que é oferecido de bandeja a outros países.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Salário mínimo e a UGT


Já foi para aí há uns 5 anos que escrevi um artigo defendendo que aumentos do salário mínimo deviam ser conseguidos por via fiscal, não fazendo recair sobre as empresas a totalidade dos custos desse aumento.
Convém lembrar que sendo o salário mínimo uma peça fulcral de uma política de redistribuição de riqueza e de combate à pobreza, não faz sentido que os seus custos não sejam suportados por grande parte da sociedade. Assim, não acolho com antipatia a proposta da UGT de aumentar o salário mínimo por contrapartida de uma descida da TSU. Nos moldes em que foi proposta, os efeitos negativos sobre o emprego seriam nulos, ou quase nulos.
Vejo dois problemas principais. O primeiro é o de saber se há folga orçamental para tal. O segundo, é o de ter medo que se esteja a passar a mensagem de que se pode pôr um ponto final à austeridade. 
De qualquer forma, e era isto que queria realçar, penso que a proposta da UGT tem o grande mérito de ser uma proposta equilibrada.