sábado, 14 de setembro de 2013

Resposta a André Azevedo Alves

O André Azevedo Alves criticou o meu artigo no Público. A crítica divide-se em três partes. Quanto aos primeiros dois pontos, em que, de facto, critica os argumentos, não tenho nada a dizer. O debate sobre os efeitos imediatos e mediatos dos cortes na despesa pública ainda está para durar e teremos mais ocasiões para os discutir e argumentar. 

Há, no entanto, uma terceira crítica que me incomodou pelo que nela está implícito. Não respondi antes por manifesta falta de tempo. O André queixa-se de que eu, no meu artigo do Público (link disponível na entrada do André), identifiquei o Miguel Morgado pelas suas funções políticas actuais — assessor político do primeiro-ministro.

Ao mesmo tempo que o nega, o André sugere que eu identifiquei as funções políticas do Miguel Morgado com o objectivo de desvalorizar a sua opinião. Não compreendo. Em primeiro lugar, eu escrevi explicitamente que respondia ao Miguel Morgado e ao João Miguel Tavares (e não a outras pessoas) pela consideração que me mereciam. Em segundo, ao identificar alguém como assessor político do primeiro-ministro, estou a valorizá-lo e não o contrário. No mundo académico somos poucos e todos nos conhecemos, mas, fora desse mundo, alguém quer saber da opinião de Miguel Morgado para alguma coisa? A opinião dele torna-se bastante mais relevante precisamente por ser conselheiro do primeiro-ministro. Esta sugestão do André é ainda mais ridícula se nos lembrarmos que, como é público, um dos meus maiores amigos e, simultaneamente, uma das pessoas por quem mais consideração intelectual tenho, é secretário de estado deste governo.

Diz ainda o André que, ao invés, eu deveria ter descrito o Miguel Morgado "como economista ou como professor ou investigador do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica". Vamos lá ver, ou o Miguel Morgado está comprometido com as políticas do governo ou não está. Se estiver, então lamento: usar os multiplicadores quando dá jeito e agora, quando se percebe que erraram redondamente, vir falar contra a sua “essencialização” é batota. Se não estiver, então devia ter criticado essa “essencialização” quando Vítor Gaspar a usava. Não o tendo feito, esvaiu-se a autoridade moral no assunto. (Se o fez, o que não creio, então o André tem razão na crítica que me faz e aqui fica o meu mea culpa.)

Para terminar, desafia-me o André a identificar o Manuel Caldeira Cabral — co-autor deste blogue — "como co-redactor de programas eleitorais do Partido Socialista". Pelo menos sempre que discuta as opiniões económicas do Manuel. Bem prega Frei Tomás: façamos o que ele diz e não o que faz. De qualquer forma, fica a promessa. Com certeza que se for adequado que o farei. E, com toda a certeza, nenhum amigo do Manuel se insurgirá contra isso.

1 comentário:

  1. Apenas para esclarecer, eu não fui redactor do programa do Partido Socialista. Dei alguns contributos e tenho isso como positivo.
    Não percebo que ter participado em eventos e dado contributos para o PS, ou ter sido assessor do Ministro das Finanças num Governo liderado pelo PS seja um problema, pelo contrário é algo de que me orgulho.
    Defendo há muito tempo que as pessoas deviam participar mais, escrevendo em blogs e jornais, mas também participando e discutindo em espaços da sociedade civil, em conferencias organizadas pelas associações empresariais, ou de estudantes, pelo Governo ou pelos partidos, enriquecendo o debate.
    Eu vou fazendo isso à medida da minha capacidade, contribuindo com as minhas opiniões e trabalho.
    Não vejo porquê a necessidade de colocar rótulos. Penso que deve partir de alguma imaturidade em aceitar uma discussão pelos seus argumentos e pela exposição de diferentes factos, admitindo que honestamente, os mesmo factos e argumentos podem permitir conclusões e opções diferentes. A necessidade de ter um rótulo nos intervenientes parece-me partir da dificuldade em os aceitar, discutir, entender sem ser de forma sectária. Eu confesso que me passa ao lado.
    Assim, não vejo qual é o problema de colocar o rotulo de assessor seja a quem for (a mim ou ao visado), não é nada que diminua uma pessoa, mas também não vejo a necessidade ou a virtude de o fazer.
    Neste contexto tive uma anedota recente, que foi ir a um programa de televisão em que fui identificado como Manuel Caldeira Cabral, que leccionou na Universidade de Verão do PS. O facto é verdadeiro, não tenho mais do que orgulho pela honra desse convite, mas... há 19 anos que lecciono na Universidade do Minho, e só no ultimo ano fiz cerca de 30 apresentações em seminários e conferencias, das quais 2 apresentações (uma como keynote speaker em conferencia e outra em workshop) na presidência da república, 2 conferencias da AICEP (agência do Governo), um seminário do Instituto de Defesa Nacional (também com uma direcção nomeada pelo Governo) numa conferência promovida pelo PSD em Braga, numa outra promovida pelo PS em Sintra, e em várias outras promovidas por instituições tão diferentes como o Forum para a Competitividade, a Ordem dos Economistas, a CIP, o IAPMEI, a Euronext, ou o Parlamento Europeu. Perante isto ser identificado por uma destas participações é um bocado redutor. Mas os rótulos são sempre assim.

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