sábado, 30 de novembro de 2013

Cair na real

Como alguém escreveu, Bernardino Soares teve de chegar a Presidente da Câmara de Loures para perceber o significado de “não há dinheiro”. Enquanto admirador da democracia norte-coreana e líder da bancada parlamentar dos comunistas, o bom do Bernardino parecia acreditar que a “austeridade” era apenas uma grande mentira, uma manipulação orquestrada pelos “especuladores”, um pretexto para os malévolos dos “neoliberais” cortarem nos direitos dos portugueses. Bernardino parece ter caído na real e, contra tudo o que manda a sua cartilha, terá de (segurem-se) cortar na despesa.
Muitos acreditaram que as eleições de Setembro na Alemanha marcariam um ponto de viragem da política europeia (leia-se: os alemães abririam finalmente os cordões da bolsa aos países do sul). Ao fim de mais de dois meses de negociações, parece que a CDU lá se conseguiu entender com o SPD. Não há nada no acordo anunciado que dê sinais de qualquer inflexão no caminho até agora seguido. Para quem não andasse dormir ou não acreditasse em histórias da carochinha, este desfecho era mais do que expectável. A necessidade de “poupanças” (é assim que os alemães designam a “austeridade”) é consensual na sociedade alemã e só um partido com instintos suicidas iria contra esse sentimento.
Esqueçam portanto os eurobonds e quejandos. Ao contrário do que nos dizem os Bernardinos deste mundo (antes de assumirem funções executivas, claro), a “austeridade” não é uma opção ideológica, é uma fatalidade. A alternativa não é sobre se se deve ou não cortar na despesa do estado, a alternativa é sobre onde e como se deve cortar. Era bom que começassem, finalmente, a surgir "verdadeiras alternativas".

5 comentários:

  1. Bernardino Soares não caiu na real. Se caísse, pressupunha-se que estivesse, antes, a nadar num mar de rosas... Ora, não foi isto que aconteceu! Ele bateu-se, denodadamente, na AR, contra a crise e a austeridade. Lá pelo facto de ser agora Presidente da Câmara de Loures, não lhe podemos exigir que o Concelho que dirige viva à vara-larga. Quanto ao acto infeliz de ter dito, em plena AR, que a Coreia do Norte era uma democracia, não vamos agora eternizar esse falhanço até à náusea, como não se tem feito acerca de Durão Barroso, Zita Seabra, e outros defensores da pátria de suas vidas. Quem deve sugerir alternativas são os governantes, os professores de economia (que se não entendem uns aos outros, como os inefáveis governantes que estão no activo e precisavam, urgentemente, ir para a aposentação, mesmo sem penalizações, que o pagode pagava o resto. Onde se deve cortar? Preferível dizer o que se deve cortar. E a sugestão, que só vincula a minha pessoa, era: cortar certas cabecinhas pensadoras...

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  2. Convém lembrar que o Bernardino Soares nunca disse "a Coreia do Norte é uma democracia", disse "tenho dúvidas que a Coreia do Norte não seja uma democracia" (o que, aliás, até acho que é formalmente equivalente a dizer "tenho duvidas que a Coreia do Norte seja uma democracia").

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    1. A achega de Miguel Madeira é interessante. No entanto, pela maneira como a frase está formulada: "tenho dúvidas de que a Coreia do Norte seja uma democracia", não significa que não seja. Pode ser interpretada ao contrário. Exemplo: tenho dúvidas de que ele tenha passado no exame, creio que não passou. Se Bernardino Soares tivesse afirmado: "não tenho dúvidas de que a Coreia do Norte não é uma democracia", estava tudo esclarecido. Assim ou assado, não é curial crucificar o actual Presidente da Câmara de Loures ao ponto de o senhor Prof. ter escrito; "todos os bernardinos deste mundo", em tom de mofa... Se eu escrevesse que todos os carlos alexandres deste mundo pensam da mesma maneira unívoca, com antolhos, estaria a ser indelicado e injusto... Mas, não quero puxar os cordões à bolsa dos adjectivos (e não da bolsa, como erradamente escreveu o senhor Prof. Doutor Carlos Alexandre no seu inefável texto...). Quando era menino da catequese aprendi que "fora da barca da Igreja ninguém se pode salvar". Agora continuo a ouvir até à exaustão por certos políticos e economistas da mula ruça que, para além da Troika e da austeridade, não há salvação possível... Arre, senhores sábios jovens! Até o Papa Francisco repudia o capitalismo e toda essa tralha de deterministas e calvinistas que xingam a nossa paciência com a sua sabedoria tão provisória quanto irrisória (a rima foi propositada...).

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  3. Eu, confesso, fico sempre de nariz torcido quando ouço alguém dizer que Salazar não era tão mau como isso. Quando sobre Pinochet ouço dizer que ele fez boas reformas económicas, etc. e tal, fico de nariz muito torcido também. Se algum responsável político viesse dizer que tinha dúvidas sobre a verdadeira natureza de Hitler perder-lhe-ia todo e qualquer respeito e nunca mais me esqueceria disso.
    A dúvida de Bernardino sobre a verdadeira natureza do regime norte-coreano entra nesta última categoria. Eu nunca votaria nele, tal como nunca votaria em alguém que tivesse manifestado semelhantes dúvidas sobre Pinochet, Franco ou Salazar. Ainda por cima, ele já teve diversas oportunidades para alterar o que disse e nunca o fez. Limita-se a falar em erros e desvios e a dizer que o que defende para o Portugal +e um caminho diferente e adaptado à nossa realidade. Nunca disse, pelo menos que eu tenha dado conta, que o regime norte-coreano é uma ditadura cruel.
    Quanto a Bernardino ter caído na real, vamos ver. Para já ainda só temos o discurso inicial perante o choque de enfrentar um município falido. Esperemos para ver que tipo de austeridade terá ele de aplicar.

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  4. «a “austeridade” não é uma opção ideológica, é uma fatalidade. A alternativa não é sobre se se deve ou não cortar na despesa do estado, a alternativa é sobre onde e como se deve cortar»


    Diminuindo a corrupção e o desvio do dinheiro dos contribuintes para os bolsos dos corruptos, sobra mais dinheiro para as verdadeiras necessidades de quem paga os impostos.

    Donde, numa economia normal, a austeridade é sinónimo de corrupção. Metam os ladrões na prisão e a austeridade esfuma-se…

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