sexta-feira, 16 de maio de 2014

É da refinaria

2012 foi o ano do primeiro orçamento deste governo. Como todos se lembram, foi declarado inconstitucional, mas o Tribunal Constitucional permitiu que vigorasse até ao fim. Nesse ano, o PIB português caiu mais de 3%. Em 2013, foi o ano do novo orçamento. Antes de o TC o declarar inconstitucional, ou seja no primeiro trimestre de 2013, o PIB continuou a cair. Depois recuperou, com três trimestres consecutivos de crescimento positivo. Agora, em 2014, com o novo orçamento em vigor, com novos cortes bastante violentos para a função pública, o PIB cai novamente.

É perfeitamente possível argumentar a favor de todos estes cortes, dizendo que no longo prazo o país beneficia e crescerá mais, dizendo que não há alternativa, etc. Mas é cada vez mais tolo negar os efeitos recessivos de curto prazo. Eu diria mesmo que mais tolo do que acreditar na espiral recessiva é acreditar na austeridade expansionista.

PS Entretanto, os dados para o investimento parecem não ter sido maus. Isso é bom. A médio prazo, é a mais decisiva das variáveis.

5 comentários:

  1. Caro LA-C,

    As observações empíricas valem o que valem, mas nós que operamos (como fornecedores) nos sectores têxtil (em mais de 80% delas) e alimentar (especialmente piscícola) temos visto um aumento significativo de investimento - compra de máquinas, aumento de pavilhões, aumento significativo de produção. Agora, e em conversa com os empresários / gestores dessas indústrias, o investimento vem completamente desligado do Governo e, e esta é a parte que considero mais importante e uma mudança de atitude, com financiamento próprio (muitas das vezes com apoio de fundos europeus, mas os capitais não-financiados são próprios, não são de nenhum banco).

    É óbvio que, muitos deles, especialmente na têxtil, estão algo apreensivos com a peregrina ideia de subir salários mínimos e estão a reconsiderar o investimento (ou há dinheiro para uma coisa ou para outra)...

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    1. Dos meus amigos que trabalham no sector privado ouço versões diferentes sobre a actual realidade, mas o que descreve corresponde a algumas coisas que ouvi esta semana e confirma a ideia de que os dados para o investimento não são maus. E essa é a melhor notícia.

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    2. Caro LA-C,

      Bem, eu refiro-me a dois sectores específicos e exportadores (sim, o piscícola anda a vender bastante para fora). Se estivessemos a falar de outros, como construção civil, a conversa era outra (apesar de, nesta altura e aqui para as nossas bandas, é muito, mas muito díficil achar um empreiteiro "médio" que não esteja cheio de trabalho).

      Só uma nota adicional: notámos esta subida não agora, mas de há 2 anos para cá. O que está a acontecer é que este é o ano para a execução do investimento - há 2 anos foi a decisão, depois candidatura a QREN / elaboração de projectos e ESTE ANO é que se avança e gasta o dinheiro. Isto para dizer o quê: considerar que o investimento aumentou este ano porque mudou alguma coisa este ano ou no semestre anterior é absurdo na maioria dos casos. Os timings dos investimentos significativos raramente são inferiores a 2-3 anos.

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  2. Confesso que não percebo o seu raciocínio. 1) em 2013 o Tribunal Constitucional impediu um corte na despesa de cerca de 3 mil milhões, mas foi substituído por um aumento de impostos na ordem dos 4 mil milhões. Pode explicar-me qual é o efeito positivo para a economia de retirar 4 mil milhões em vez de três mil milhões? 2) Neste trimestre a procura interna subiu. Pode explicar-me em que medida isso é compatível com a sua ideia de que são os cortes no funcionalismo público que afectam negativamente essa procura interna? As minhas perguntas não são retóricas, são de quem não é economista e não percebo mesmo como a libertação de subsídios em Novembro de 2013 tem efeitos positivos no segundo trimestre de 2013, em especial quando nessa altura os cortes no rendimento provocados pelos impostos já eram bem reais.

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  3. Mas alguem no governo nega os efeitos recessivos de curto prazo e defendeu alguma vez a austeridade expansionista? Acrescento que quem fez o acordo com a Troika assumia ainda menos efeito recessivo que este governo...basta ver o que la estava e como se considerava que cortes bem maiores no defice tinham ZERO impacto no PIB...

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