O terceiro dia que passei em Nova Orleães foi o feriado do Memorial Day, que este ano calhou a 30 de Maio, e é considerado a abertura oficial da época de férias nos EUA. O meu despertar não variou grandemente e acordei antes das sete da manhã, como se fosse para trabalhar. Sou uma daquelas pessoas que, quando acorda, só pensa em comida; também penso muito nas outras refeições, mas o pequeno-almoço é para mim sagrado, logo comecei logo a investigar que cafés estariam abertos antes das 9 da manhã durante o feriado.
Aqui deste lado, os cafés não são exactamente cafés à portuguesa porque muitos também servem almoço e jantar. Também há o detalhe de eu não poder ir às chamadas "bakeries" tradicionais porque muitas delas não têm nada que eu possa comer: quase tudo tem glúten ou outros cereais que me incomodam. De vez em quando, oferecem aveia que dá para eu comer, mas nem sempre é boa ideia se for servido com açúcar. Pensei ir ao Another Broken Egg, na Magazine St., que também tinha a vantagem de ser uma boa caminhada, só que quando lá cheguei, havia fila.
Durante Maio, no trabalho, fizemos uma competição de caminhadas. Temos várias equipas de cinco pessoas e cada pessoa conta os passos diários (os telemóveis e os relógios inteligentes contam) e incorpora os dados numa folha de cálculo no Microsoft Teams. A equipa que tiver mais passos ganha. Como em Memphis tive alguns percalços de chuva e um cão que não gosta de andar, pensei em meter mais passos durante os últimos dias de Maio, quando estivesse em NOLA. (Mesmo assim, nada que se comparasse a Nova Iorque ou Londres, há uns anos, em que o Luís Gaspar e eu andámos quase 30 mil passos nesses dois dias de cada vez.)
Por Nova Orleães, a bandeira da Ucrânia estava em todo o lado, especialmente no Garden District, onde eu passeava. Acabei por ir tomar o pequeno-almoço ao Vintage, também na Magazine St. que diziam, num espelho, que tinha sido fundado nos anos 30. No pátio, meti conversa com um rapaz local, muito bem parecido, que fumava os seus cigarros enquanto bebia um café gelado, que me informou que já era o quarto estabelecimento que frequentava naquele edifício. Como dizia aquele reclame antigo: a tradição já não é o que era.
O meu pequeno almoço foi um café americano e o Vintage breakfast, que consiste em papas de milho (grits), um pouco de queijo, bacon, e um ovo escalfado. Paguei $17.55, incluindo a gorjeta. Depois continuei a minha caminhada na Magazine St., visitando algumas lojas que me pareciam interessantes e que estavam abertas. Andei, andei até chegar ao cruzamento com a Erato St. e decidi virar à esquerda porque tinha aspecto mais pacato.
Calhou ver uma igreja e decidi ir investigar: era a igreja de Sta. Teresa d'Ávila, de denominação católica. Entrei para apreciar o interior e ver se tinha a Sta. Isabel (não a Rainha Santa, claro está, mas a St. Elizabeth, prima da Jovem Maria que dizem ser virgem). E não é que havia um vitral com ela? Procurei-a porque, na última vez que estive em Houston, andei a pé pela Baixa e também me deu na telha de entrar numa igreja, nesse caso, na Capela Golding, que pertence à Christ Church Cathedral, que é de denominação pentecostal, onde também havia um vitral da St. Elizabeth.
Estava sentada e sossegada no meu silêncio mascarado, quando bate o meio-dia, e noto alguma comoção na igreja de Sta. Teresa d'Ávila. Estavam a preparar-se para a missa das 12h05m. Pensei em sair, mas enquanto debatia sair ou não, o padre dirigiu-se a mim com um papel com as canções que iam cantar na missa--eu cantar só em playback, mas lá fiquei. Depois recordei-me dos meu tempos em Portugal, em que por vezes entrava na Igreja de Sta. Cruz ou na de S. Bartolomeu e assistia à missa das 18h, ou seja, quando era meio-dia na parte dos EUA onde acabei por viver. Pareceu-me profético entrar naquela igreja àquela hora, ou não fosse eu portuguesa; ainda por cima no Memorial Day, ou não fosse eu americana.
Saí da missa e regressei ao hotel para ir ter com a minha companheira de viagem e decidirmos onde iríamos almoçar. Pelo OpenTable, fizemos uma reserva para o pátio do Superior Seafood and Oysters Bar. Enquanto que o interior do restaurante estava repleto, com um zunido de muito boa gente em amena conversa, na rua só estávamos nós. O pátio estava descoberto e duas das três mesas apanhavam sol directo naquele dia de calor, logo não estava muito convidativo. No entanto, na nossa mesa, o sobreiro gigante ao lado oferecia alguma proteção. Almocei uma salada de verduras e atum grelhado, que acompanhei com um copo de vinho branco e que ficou por $34.20, depois da gorjeta, obviamente.
Depois fomos à Magazine St. porque estávamos curiosas para ver o que tinha para oferecer a Art & Eyes, uma loja de armações para óculos que tem uma seleção super-interessante, se bem que cara. Felizmente, não encontrei nada que me tentasse. Visitámos também uma loja de velharias, onde encontrei um jogo de chá de cerâmica portuguesa que me tentou (custava $65), mas a que resisti--mas olhem que a minha amiga quando o viu, veio logo dizer-me que era a minha cara. (Isto de eu treinar as minhas amigas americanas a apreciarem o que é português é muito problemático.) Acabei por só comprar talheres de servir dourados, uma colher e um garfo, que tinha toda a intenção de comprar se tivesse a oportunidade: paguei, em dinheiro, pouco menos de $11 por ambos.
Ao final do dia, passámos no Whole Foods para comprar comida para o meu pequeno-almoço e almoço do resto da semana, dado que ia trabalhar de Terça- a Quinta-feira e parte de Sexta. Isto do trabalho remoto dá para ser feito em qualquer sítio com Internet--viva a modernidade. As minhas compras ficaram em $119.12, mas descuidei-me e levei fruta a mais. E também deu jeito ter um hotel que tem kitchenette no quarto. Quando regressámos ao hotel, levámos uma garrafa de vinho para a varanda e terminámos o feriado relaxadamente. No Pontchartrain, uma equipa trabalhava num filme adaptado de um romance da Anne Rice, mas não sei se era para TV ou cinema.