Toda essa infraestrutura de suporte da economia está a ser desmantelada pela administração Trump e, para além disso, todo o aparatus federal que facilita negócios, como as garantias do governo federal para obtenção de seguros em zonas de risco de catátrofe, ou até de financiamento na obtenção de casa está sob ameaça. Até o pessoal dos parques naturais responsável por encontrar pessoas perdidas ou que tenham sofrido acidentes, está a ser despedido, porque não é considerado essencial.
O pessoal do Internal Revenue Service vai ser reduzido durante a época alta de processamento de impostos de rendimento. A FEMA (Federal Emergency Management Agency), que foi o calcanhar de Aquiles de George W. Bush por causa das falhas de resopsta ao furacão Katrina, também vai sofrer cortes com a época de tornados praticamente aí, e a 1 de Junho a começar a época de furacões. Na agricultura, a USAID não vai comprar as commodities americanas que servem para apoiar os países mais pobres, mas mais cortes são previstos. Depois há também o detalhe de o governo federal americano recolher e produzir dados e relatórios que medem a actividade económica e as condições reais não só nos EUA, como em outros países, sendo provável que muitos desses relatórios e dados tenham os dias contados devido aos cortes no pessoal de tantas agências.
Os meus contactos em universidades americanas, indicaram-me que as universidades e pequenas empresas ligadas a pessoal das universidades que dependem de financiamento para investigação e disseminação de informação científica já começaram a cortar pessoal e em gastos de viagens e contratação de pessoal. Na semana passada, foi anunciado que Trump vai despedir os directores do serviço postal nacional (USPS) e vai colocar o serviço sob o Departament of Commerce.
Os americanos não conseguem funcionar assim, pois é um povo que gasta imenso dinheiro em recolha e analise de dados e gestão de risco. Quando estas medidas de Trump e Musk começarem a ser sentidas em termos de incerteza, a actividade econonómica irá desacelerar e talvez até parar. Na Sexta-feira, o processo pode já ter começado: os primeiros relatórios de entidades privadas que tentam antecipar os relatórios oficiais do governo americano já indicam que a actividade econonómica está a desacelerar.
O último inquérito de actividade da S&P indica que a actividade económica expandiu mais lentamente, a um nível equiparável ao de Setembro de 2023. O inquérito das expectativas de inflação dos consumidores aceleraram para 3.5%, o nível mais alto dos últimos 30 anos. O mercado accionista fechou em queda e os bonds, que oferecem mais estabilidade, em alta (yields das treasuries baixaram, logo o seu preço aumentou). Esta semana é provável que a correcção continue, dado que Musk irá continuar a despedir funcionários públicos federais (na Sexta-feira enviou outro email a pedir que os empregados indiquem o que fazem para que seja avaliado se devem ficar no emprego), para além da retórica de entrave ao comércio internacional de Trump.
A administração também está a tentar fazer mudanças em entidades que são consideradas independentes do poder executivo, o que levanta a possibilidade de haver mudanças a nível da Reserva Federal e afectando a política monetária americana. Com os despedimentos da função pública, qualquer implementação da política fiscal está comprometida. Mesmo que daqui a semanas ou meses haja vontade de passar políticas fiscais de apoio à economia, não há como as concretizar. Aguarda-nos caos e desordem, mas pode ser que algumas pessoas consigam *finalmente* entender o papel do governo federal na economia americana.
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