No meio de todo o sentimento anti-imigrante acontecem coisinhas surreais. Nnas redes sociais, num dos grupos de portugueses nos EUA, alternam-se posts anti-imigração em Portugal, posts pró-Trump, e até um post a dizer que Newark já não é tão portuguesa como antes. Em Portugal, uma amiga minha (portuguesa), envia-me mensagens para eu não me preocupar, que já acendeu um velinha à santa dela para me proteger, mas que não há problema, pois sou da "Europa", não sou "da imigração sem interesse, a dos que sabemos." É um conceito subjectivo.
Uma vez, estava numa reunião de trabalho e um (antigo) colega meu francês falou dos portugueses que tinham emigrado para França e que eram porteiros de prédios, pessoas mesmo de baixa condição, sugeria ele. Eu fiquei calada. Na equipa, eu sou a que tenho mais formação académica, falo melhor inglês do que o resto da malta, mesmo os americanos (eles estão sempre a dizer-me isso); não quer isto dizer que eu seja melhor do que os portugueses de outrora, aliás, eles são eu porque tenho familiares que foram para França nas condições que ele descreveu, mas parece que o ser português não é exactamente um imigrante com interesse para toda a gente.
Convenhamos que isto de haver pessoas de primeira e o resto é um tipo de pensamento que é transversal a muita gente em muitos países neste momento. Talvez tal tenha sempre acontecido desde que o Napoleão inventou o conceito de nacionalismo ou, se calhar, vem mais de trás, da altura do Império Romano, mas o que distingue a actualidade do que havia há uns 15 ou 20 anos é o à-vontade com que se exprimem estas ideias. Por um lado, é saudável que haja liberdade de expressão; por outro lado, estas ideias são tão sujas e nojentas que até o lava-loiças foge disto.
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