"In one of several genial interviews, Dunne asks Didion about an indelible scene toward the end of her Haight-Ashbury essay—which, as any student who has ever taken a course in literary nonfiction knows, culminates with the writer’s encounter with a five-year-old girl, Susan, whose mother has given her LSD. Didion finds Susan sitting on a living-room floor, reading a comic book and dressed in a peacoat. “She keeps licking her lips in concentration and the only off thing about her is that she’s wearing white lipstick,” Didion writes. Dunne asks Didion what it was like, as a journalist, to be faced with a small child who was tripping. Didion, who is sitting on the couch in her living room, dressed in a gray cashmere sweater with a fine gold chain around her neck and fine gold hair framing her face, begins. “Well, it was . . .” She pauses, casts her eyes down, thinking, blinking, and a viewer mentally answers the question on her behalf: Well, it was appalling. I wanted to call an ambulance. I wanted to call the police. I wanted to help. I wanted to weep. I wanted to get the hell out of there and get home to my own two-year-old daughter, and protect her from the present and the future. After seven long seconds, Didion raises her chin and meets Dunne’s eye. “Let me tell you, it was gold,” she says. The ghost of a smile creeps across her face, and her eyes gleam. “You live for moments like that, if you’re doing a piece. Good or bad.”
Fonte: The New Yorker, 27/10/2017
Um blogue de tip@s que percebem montes de Economia, Estatística, História, Filosofia, Cinema, Roupa Interior Feminina, Literatura, Laser Alexandrite, Religião, Pontes, Educação, Direito e Constituições. Numa palavra, holísticos.
terça-feira, 30 de janeiro de 2018
Ouro puro
domingo, 28 de janeiro de 2018
Malandragem!
Ele há muita malandragem no mundo: então a senhora que me veio entregar o pacote não tinha nada que estar a trabalhar a estas horas e que companhia tão mal-gerida, que demora menos de uma semana a entregar uma coisa ao cliente — o pacote veio de Las Vegas, no Nevada, que fica a mais de 2300 Km de mim, ou seja, são mais de 21 horas de carro, mais tempo para dormir, refeições, etc. Em Portugal, que é um país pequenito, mas mais eficiente e civilizado, demoraria muito mais tempo.
(Des)igualdades
Já agora, acho que todos os portugueses deviam assinar um compromisso dizendo que, daqui para diante, só terão acidentes e ficarão doentes durante o horário normal de trabalho. Ao final de Sexta-feira, os doentes hospitalizados terão de ir para casa e só regressar ao hospital na Segunda-feira de manhã. Ah, e nada de frequentar transportes públicos, centros comerciais, cinemas, museus, restaurantes, cafés, etc. ao fim-de-semana porque toda a gente tem o direito a desfrutar de tempo com a família.
sábado, 27 de janeiro de 2018
Engolir a pílula
sexta-feira, 26 de janeiro de 2018
Contra a democracia
quinta-feira, 25 de janeiro de 2018
Alternativas
Surpreendeu-me que, no meio de tanta gente, quase todos fossem brancos e predominantemente homens. Uma das formas de sermos desculpados do "dever de ser jurado" (traduzo assim "jury duty") é ter ao nosso cuidado uma criança de 12 anos ou mais nova, logo este critério deve excluir muitas mulheres. Eu devia ser a mulher mais jovem que lá estava e, para minha surpresa, fui a única seleccionada para participar no julgamento.
Como nunca tinha sido chamada para uma coisa destas, para mim foi uma experiência educativa, que ainda estou a processar. Recordei-me de um episódio que me aconteceu há uns anos, em que um colega meu, ao falar da evolução dos preços de uma commodity disse que havia três alternativas: ou o preço subia, ou descia, ou ficava na mesma, logo 33,3% para cada lado. Quando ele disse aquilo, tive uma reacção visceral imediata porque a probabilidade de um preço ficar na mesma de um dia para o outro é quase nula, logo os 100% são quase na totalidade divididos entre ou vai para baixo ou vai para cima. Mas aquele erro é muito comum...
Agora que penso nas escolhas do veredicto, pergunto-me que impacto terá na forma como as pessoas processam as suas alternativas. No caso da multa, os veredictos possíveis eram "guilty" ou "not guilty", mas o "guilty" tinha também a possibilidade de escolha de uma multa que ia de um mínimo de $1 a um máximo de $200. Quando o advogado de defesa instruiu o júri, disse-nos que perante a lei nós tínhamos de presumir inocência, logo qualquer dúvida devia dar um veredicto de "not guilty". Só que não é bem o caso porque o veredicto tinha de ser unânime, logo todos os jurados tinham de reconhecer ter uma dúvida para concluir "not guilty".
O caso era insignificante: uma multa por conduzir a 70 milhas por hora, numa área em que o limite está assinalado como sendo 60. No Texas, não há limite de velocidade máxima, mas temos de conduzir a uma velocidade que não é “unreasonable and imprudent under the circumstance then existing”. Se está assinalado um limite, entra em consideração a questão de limites de velocidade "prima facie", em que velocidades acima desse limite podem não ser prudentes ou razoáveis -- ou seja, é necessário avaliar as condições.
No julgamento, tivemos oportunidade de ver o vídeo da polícia em que a pessoa acusada ultrapassa os 70 mph por uns segundos e é parada pela polícia. Na minha opinião, não achei a velocidade perigosa, aliás estava tudo a conduzir a mais de 60 mph, quase a 70 mph, inclusive um camião, que penso colocar um risco maior, mas a minha dúvida, que era partilhada por outra pessoa, não foi suficiente para absolver porque há quem ache que 70 mph é o limite de perigoso. Dizia eu aos meus colegas que havia um carro à frente que ia mais rápido do que o da pessoa acusada, logo a velocidade da pessoa acusada inseria-se no argumento de "flow of traffic", só que me responderam que esse carro ia muito mais à frente e estava mais longe da polícia e alguém cometer uma violação e safar-se não serve de desculpa para safar quem é apanhado.
Tenho a ligeira sensação de que o meu papel de refilona não serviu a justiça; apenas serviu para minimizar a injustiça. O meu opositor principal disse-me que, se eu aceitasse dar um veredicto de "guilty", ele aceitaria dar uma multa de $1. Pensei nas alternativas: a pessoa ia a tribunal outra vez e corria o risco de ser culpada e ter uma multa maior ou não ia a tribunal e pagava a multa, que é mais de $1. Aceitei mudar o meu veredicto em troca da multa mínima. No final, o homem que me opôs perguntou-me o que eu fazia: sou economista.
Um outro senhor, muito mais discreto do que eu e que também estava disposto a dar o veredicto de "not guilty", veio ter comigo no final e disse que aquilo era o melhor que podíamos ter feito dada a composição do júri e sugeriu que déssemos os $6 que cada um recebeu em troca do nosso serviço à pessoa acusada e que lhe disséssemos "We're sorry, but this is the best that we could do under the circumstances". Assim fizemos e entregámos os $12.
Mas continuo insatisfeita e com vontade de refilar: estou a avaliar as minhas alternativas...
A morte da perícia
Contos zen para crianças boas 80
segunda-feira, 22 de janeiro de 2018
Um mal bastante disseminado e democratizado
Madoff diz várias vezes que o problema é a ganância das pessoas. Ele próprio recomendava aos seus clientes que não investissem mais de metade do seu dinheiro nos seus fundos. Mas os clientes não resistiam. Queriam mais e mais, e depois muitos ficaram a arder, sem nada. Isto não iliba nem desculpa Madoff, claro. Mas é um problema que muitas vezes nos esquecemos ou preferimos ignorar. Preferimos atribuir a culpa toda aos Madoffes deste mundo – ele bem se queixa, com alguma razão, que foi transformado no bode expiatório de todo o sistema. Estes vigaristas aproveitam-se das fraquezas humanas, e uma delas é a ganância, um mal bastante disseminado e democratizado. Infelizmente.
domingo, 21 de janeiro de 2018
Uma ideia, não uma raça
Ontem, na Marcha das Mulheres, em Houston, o Mayor da cidade, Sylvester Turner, um homem democrata e negro, afirmou o mesmo no seu discurso. Houston é a cidade com mais diversidade dos EUA: uma em cada quatro pessoas nasceu noutro país e os residentes de Houston falam mais de 140 línguas. "A causa é justa", disse, acerca da motivação da Marcha das Mulheres, mas diversidade é apenas uma condição necessária, não é uma condição suficiente para honrar os valores mais altos pelos quais marchamos. Também é necessário que haja inclusão, alertou o Mayor, que todos tenham representação democrática: que haja maior diversidade nos candidatos, no voto, e na eleição e nomeação de pessoas. É importante que todos os residentes encontrem uma forma de participar na construção do futuro da cidade para que o processo de inclusão seja aprofundado. Nesse aspecto, apresentou Houston como um farol para o resto do país: o futuro dos EUA é tornar-se ainda mais diverso e inclusivo, não há como parar este movimento e quem o opuser estará do lado errado da história.
Quem olha para a Marcha das Mulheres e acha que para os americanos é suficiente que haja mais mulheres no governo não compreende a natureza dos EUA. A causa da Marcha das Mulheres é elucidativa: procuram-se candidatos, homens e mulheres, de raças e etnias diferentes, de orientação sexual diferente, de estratos sociais diferentes, etc. Ser mulher não é suficiente. Aliás, é essa uma crítica que se faz à Casa Branca de Trump: não há diversidade étnica, nem racial, nem socio-económica. Omarosa Manigault-Newman, uma mulher negra assessora de Trump na Casa Branca, que era uma linha de defesa contra esta crítica, demitiu-se recentemente. Em fotografias oficiais, o Presidente Trump rodeia-se de mais homens, quase todos brancos, em contraste com as fotos da Administração Obama -- a equipa de Trump contem mais homens do que as equipas dos últimos seis presidentes.
A 20 de Março irão realizar-se as eleições primárias para as mid-terms de 2018, nos EUA. Nessa altura, poderemos avaliar se a mensagem de diversidade e inclusão está a ganhar força.
sexta-feira, 19 de janeiro de 2018
Oposição construtiva
"Oposição construtiva" dito por António Costa parece-me um oxímoro, pois, do ponto de vista dele, algo construtivo não pode ser oposto ao que ele quer e algo oposto não pode ser construtivo. Senão, vejamos: se a oposição de Rui Rio é vista como construtiva por António Costa, significa que o Governo está a fazer alguma coisa que precisa de ter oposição e se esta oposição é construtiva, então a coisa que está a ser feita não deve ser muito boa. Nesse caso, se a coisa não é boa por que é que António Costa a defende?
Mas se ele acredita em "oposição construtiva", certamente que a praticou quando Pedro Passos Coelho era Primeiro-Ministro, logo seria importante que algum jornal ou TV nos fizesse uma revisão do que é "oposição construtiva" segundo António Costa enquanto líder da oposição. Recordo-me que, quando António Costa subiu ao poder, ninguém percebeu o que iria ser um governo dele.
Faz, no entanto, sentido falar-se em "oposição construtiva" do ponto de vista dos cidadãos. Pessoalmente, prefiro situações em que todos os partidos são fortes e têm pessoas competentes que consigam articular os diferentes pontos de vista do eleitorado. É lógico que é impossível agradar a toda a gente, mas haver forças opostas significa que o país seguiria um caminho mais regrado, em que os excessos são improváveis.
Espero que Rui Rio consiga aumentar a qualidade do debate político em Portugal. A primeira tarefa é controlar a mensagem do PSD, um partido que passa demasiado tempo a lavar roupa suja em público e descura o estudo e a proposta de políticas alternativas. Não é suficiente estar na oposição para se fazer oposição. É preciso conhecer o país e o mundo em que nos inserimos, identificar riscos e oportunidades, e ter planos de curto e de longo prazo. A curto prazo, é preciso compreender os pontos fracos da política proposta pelo governo e oferecer alternativas, mas deixem-se do pseudo-liberalismo esquizofrénico e do moralismo anacrónico a que nos habituaram.
Uma forma fácil de ser alternativa ao PS é melhorar a qualidade dos deputados do PSD: diversidade etária, de género, de percurso profissional, etc. Invistam em pessoas com valor que sejam bons líderes hoje, mas que também possam liderar no futuro, em vez de andarem a fabricar pessoas como Miguel Relvas. E liberalizem os votos da bancada do PSD no Parlamento: deixem que os deputados votem com a sua consciência -- note-se que é necessário que tenham consciência -- e incentivem o contacto dos deputados com o eleitorado. Com a Internet não é assim tão difícil e caro de fazer. O PSD precisa de demonstrar que está no Parlamento para servir o povo que representa e não para tratar da vidinha dos do costume.
quinta-feira, 18 de janeiro de 2018
Domingo: Power to the Polls
Tal como no ano passado, irá haver uma marcha principal, desta vez em Las Vegas, Nevada, que foi o local do tiroteio que matou 58 pessoas e feriu mais de 500, em 2017, e outras marchas de solidariedade por todo o mundo. Portugal não tem nenhuma marcha registada, mas um de vós pode organizar uma no sítio onde vive. Se o fizerem, não se esqueçam de registar o evento na página oficial do Power to the Polls.
domingo, 14 de janeiro de 2018
Óptimos
São quase 950 Km pela rota mais curta; mas nos EUA distâncias assim são normalmente medidas em termos de horas. Se não há trânsito em Houston e em Memphis e não há muitas obras na auto-estrada, consigo fazer o percurso em cerca de pouco mais de 10 horas, incluindo paragens para meter gasolina e comer, mas só posso comer fast food. Se comer uma refeição completa, e eu gosto sempre de parar pelo menos uma vez no Cacker Barrel durante as minhas roadtrips, demoro mais uma meia-hora, pelo menos.
No Domingo passado, quando regressei a Houston, completei o percurso em 9 horas e 53 minutos, o meu melhor tempo. Saí de Memphis depois das 13 horas e parei para verificar a pressão dos pneus. Pensei em almoçar dentro da cidade, mas como já era tarde e ainda estava cheia do pequeno-almoço tardio que tomei em casa de uma amiga, achei melhor fazer-me à estrada. Não resisti, no entanto, a descer a Poplar Av. até à baixa, em vez de adoptar uma das circulares. Demora mais, mas é uma das minhas ruas preferidas porque atravessa a cidade.
Talvez tenha sido um erro não ter almoçado porque, entre Memphis e Little Rock, não há quase nenhum sítio de jeito onde parar. Enquanto ruminava a sensatez da minha decisão, vi a saída para Palestine, AR, população 681, no census de 2010, e decidi parar, encher o depósito do carro e comer. Dentro do Love's -- a bomba de gasolina --, havia pouca escolha, mas resignei-me em comer no Chester's Chicken, cujo menu estudei durante vários minutos.
Há quem escolha comida pelo preço, mas eu costumo escolher pelas calorias e, como no Natal comi doces a mais e fiquei bastante doente, também tentei escolher algo que não tivesse muito trigo. Decidi que dois panados de frango, cole slaw, e uma taça de fruta seriam um bom almoço. Cole slaw é uma salada de couve branca crua cortada em julienne, cenoura, e um molho (normalmente vinaigrette ou maionese).
Quando chegou a minha vez, fiz o pedido: "two chicken tenders, cole slaw, and a fruit bowl", ao que o rapaz, que era magro e desenvolto, falando com um sotaque do sul pronunciado, respondeu "three-piece meal or six-piece?" Repeti "two chicken tenders, cole slaw, and a fruit bowl" e ele repete a mesma coisa "three-piece meal or six-piece?" e diz que não vou poder comprar "two chicken tenders". Olho outra vez para o menu e está lá o preço individual dos itens: volto a pedir e ele volta a recusar-se.
Desisto e digo "three-piece meal" -- pronto, lá se vão as calorias para o galheiro e ainda por cima a refeição traz um "biscuit", que é um pão de buttermilk, com 400 calorias, apenas um terço das minhas calorias diárias... O empregado explica-se "I'm not trying to be difficult, but you can get everything you want in a meal and it's cheaper. I'm just trying to save you money." O homem que está atrás de mim na fila comenta o empregado ser obstinado. Digo-lhe que o dinheiro é meu e tenho o direito de gastar como me apetecer, mas de nada vale. Pago a refeição, agarro na comida e vou sentar-me numa mesa.
Na TV, falam do ritual do chá no Reino Unido; no alti-falante anunciam quando os duches estão livres para os camionistas. Não comi tudo; guardei parte para o jantar e foi por isso que demorei menos de 10 horas a conduzir de Memphis a Houston. Nem sempre o cliente tem razão. De vez em quando, há um puto esperto que acha que sabe optimizar o consumo dos outros e acaba poupando-lhes tempo...
sexta-feira, 12 de janeiro de 2018
Fall in love
“Fall in love with some activity, and do it! Nobody ever figures out what life is all about, and it doesn't matter. Explore the world. Nearly everything is really interesting if you go into it deeply enough. Work as hard and as much as you want to on the things you like to do the best. Don't think about what you want to be, but what you want to do. Keep up some kind of a minimum with other things so that society doesn't stop you from doing anything at all.”
― Richard Feynman