quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Finalmente diferente

O Julian foi hoje ao check-up anual e, pela primeira vez desde que começou a pandemia, o veterinário estava com máscara. As auxiliares também estavam, à excepção de uma, mas notava-se que as máscaras não eram usadas com grande rigor. Eu lá estava com a minha máscara, como tenho feito desde o início. Às vezes pergunto-me se estas pessoas já tomaram a vacina. Seria um hipócrita se não tivessem tomado, já que passam a vida a vacinar cães.

Mas a adopção da máscara agora indica que há qualquer coisa a mudar, apesar de ser por ordem do condado. Antes também houve alturas em que era obrigatório e pouco caso faziam. Parece que aos poucos as coisas entram nos eixos.

quarta-feira, 29 de setembro de 2021

Concordámos em discordar à vezes

Na minha reunião semanal com as minhas amigas de Houston, uma delas perguntou o que achávamos da terceira dose e se iríamos tomar. A questão não é tão pertinente para mim, que sou a mais nova e que não estaria afectada a curto prazo, dado que apenas aconselharam os mais idosos e de maior risco a levar. Mesmo assim, dei a minha opinião e acho imoral estar a dar terceiras doses nos EUA, quando os países mais pobres nem uma dose têm para toda a gente. Por sorte, eu tinha lido uma peça de opinião no NYT em que se falava da forma vergonhosa como os países mais ricos se têm comportado no acesso às vacinas e mencionei algumas das coisas que li.

Instead, as the Duke scientist Gavin Yamey told The Lancet, “rich countries behaved worse than anyone’s worst nightmare.” They bypassed Covax — either completely or by slow-walking their financial contributions — cut multiple deals directly with vaccine manufacturers and bought up many more shots than they would need, long before any had been authorized for use. As a result, not only did Covax never amass the purchasing power at the heart of its plan, but also by the time the initiative secured enough funds to start buying shots, it was at the end of a long queue.

De nada valeram estes argumentos para persuadir a minha amiga, dado que nos EUA não há falta de vacinas, foi a lógica dela. Ela ainda disse que era a favor de se partilhar a receita das vacinas para que os países pobres as pudessem fabricar. Só que os países pobres não só não têm as fábricas, como não têm a mão-de-obra porque uma das coisas que os países ricos fazem bem é captar a mão-de-obra qualificada dos pobres. Foi nessa altura que ela avançou o argumento dos contribuintes americanos pagarem impostos logo têm direito a que o governo lhes forneça vacinas.

Discordo na teoria, mas não subscrevo na prática, dado que na minha vida pessoal não sou apologética da pobreza franciscana, e muito menos vivo assim. Como dizia a minha amiga, sou contribuinte pagante e não pago assim tão pouco, mesmo assim, a não ser que me digam que as doses que já tomei não oferecem protecção nenhuma, irei evitar tomar a terceira dose.

O sabor amargo da terceira dose, que o Biden já foi tomar -- conflito de interesse! -- não me sai da boca porque isto de salvar os ricos e deixar morrer os pobres é digno do século XIX, não do XXI, e é mais um pontinho que marco contra o Biden. Até o Bush se preocupou em ajudar os países de África a combater o vírus do SIDA, logo como é que o Biden tem desculpa para agir assim?

terça-feira, 28 de setembro de 2021

Preparem-se agora

A frequência de notícias sobre a falta de gás natural na Europa intensifica-se e crê-se que o problema poder-se-á espalhar à América do Sul, Ásia, etc.

Desde a Administração Obama, mais precisamente em Maio de 2011, que os EUA se tornaram exportadores líquidos de gás natural por causa do "fracking" (usando água), uma tecnologia que remonta a 1947 e que começou a ser mais estudada durante a Admininstração Bush I, mas que só com o Obama atingiu o seu potencial. Se calhar, até se recordam de ocasiões esporádicas em que houve preços negativos de gás natural, quando havia excesso de oferta, sem que houvesse como transportar tanto produto. Este ano não deve ser assim.

Como é que os americanos se tornaram exportadores de produtos derivados do petróleo? Por causa das crises do preço do petróleo na década de 1970. O Presidente Jimmy Carter foi o primeiro a contemplar a ideia de os americanos se tornarem independentes em energia. Os presidentes que se seguiram começaram a trabalhar nas políticas de diversificação de produção: fracking, biodiesel e etanol, e energias renováveis. Só demorou uns 35 anos, que é menos de uma ditadura em Portugal.

Há muita gente ainda a celebrar os resultados das autárquicas, mas se o inverno for muito frio, os novos autarcas poderão ter em mãos uma situação catastófica poucos meses após assumirem funções, logo há que precaver-se. Há que fazer um levantamento dos pontos mais fracos de cada autarquia o quanto antes e depois delinear um plano para lidar com os problemas antes que eles apareçam. O governo central tem de coordenar os esforços e fazer triagem de recursos. É mesmo preciso haver plano B porque ainda nem nos livrámos da pandemia.

Não pensem que terão tempo de esperar que a UE acuda Portugal porque a UE vai estar de mãos cheias. Sabemos que a Europa envia dinheiro se morrer muita gente, mas dá mau aspecto deixar morrer as pessoas só para se ter mais uma bazuca.

sábado, 25 de setembro de 2021

Texas vs. Portugal

Continuando com a nossa pequena obsessão com o aborto no Texas, há pelo menos um médico que desobedeceu à lei do Texas e depois escreveu uma peça de opinião no WashPost sobre a sua desobediência. "Desobediência" é o título do filme sobre o Aristides de Sousa Mendes, cuja história tive oportunidade de conhecer precisamente no Texas, no Museu do Holocausto, em Houston. Surpreendentemente, os livros de história portugueses não ma ensinaram, nem sequer os meus professores, provavelmente porque a sociedade portuguesa quer-se bem-comportada, o que dá jeito quando é preciso ir tomar as vacinas. A história do Aristides de Sousa Mendes devia ser conteúdo obrigatório nas escolas. Felizmente, os americanos já são empacotados com o gene da desobediência: speak truth to power e do the right thing, como se diz cá na terra. Sendo assim, há organizações não-lucrativas nos EUA que ajudam as mulheres necessitadas a ter abortos, se assim o quiserem, mas não é o melhor que se pode fazer e temos de continuar a salvaguardar os direitos destas pessoas.

O conhecimento mínimo que se deve ter dos EUA é que são uma imensa manta de retalhos, dado que há competição por poder entre o governo federal, o governo dos estados, e o governo local (cidades e condados). Para além disso, a Comunicação Social, o chamado quarto poder, é muito poderosa e tão eficaz que andam portugueses a fazer campanha contra o Texas nas redes sociais. Finalmente, a sociedade civil americana é muito activa e por isso anda tudo frequentemente à batatada. O próprio Texas é um estado muito heterogéneo: há sítios muito progressivos, bem mais progressivos do que Portugal, por exemplo, e outros bastante conservadores.

Como dizia a Ruth Bader Ginsberg, "Real change, enduring change, happens one step at a time," o que é ainda mais pungente nos EUA onde, para se mudar alguma coisa, é preciso muito esforço dada a fragmentação do poder. A realidade é que as coisas mudam e, quando mudam, já foram sujeitas a tanto escrutínio e a tantos desafios que é difícil desfazer o que já foi feito. Há décadas que se tenta repelir Roe vs. Wade, a decisão do Supremo Tribunal que concede às mulheres o direito ao aborto, e o caso ainda sobrevive, apesar do suspense contínuo.

Decidi fazer uma pesquisa acerca do aborto em Portugal e a situação não é assim tão diferente de muitos sítios na América, inclusive o Texas. Resume-se assim, de acordo com o abstracto de um estudo do Miguel Areosa Feio, publicado em 2021, no Sociologia: Problemas e Práticas:

A despenalização do aborto previu eliminar os abortos clandestinos, embora ainda existam barreiras ao aborto seguro que afetam mais as mulheres desfavorecidas: objeção de consciência, prazos demasiado curtos para o procedimento, períodos de reflexão obrigatórios ou a estigmatização. Foi investigada a relação entre a formulação legislativa e a sua implementação, sendo que eventuais discrepâncias atestam a falência parcial dos seus objetivos. Foram analisados os dados quantitativos da DGS e qualitativos provenientes de entrevistas e focus group com especialistas e profissionais de saúde. As evidências produziram orientações para debates futuros.
No artigo mesmo, esta parte é de salientar:
Em Portugal existem hospitais em que a generalidade dos profissionais de saúde habilitados para a realização de IG declararam objeção de consciência (Chavkin, Leitman e Polin, 2013), aspeto que se concretiza nas regiões de Lisboa e Vale do Tejo, Açores, Alentejo e nos distritos de Castelo Branco e Guarda por constrangimentos no funcionamento das consultas (DGS, 2016, 2018, 2019; Stifani, Vilar e Vicente, 2018). Nestes casos, o procedimento passa pelo encaminhamento para serviços privados, o que, na grande maioria das situações acontece para o centro da cidade de Lisboa, independentemente da zona de residência da mulher, numa manifesta iniquidade na garantia plena do direito à saúde em situações de aborto.
Esta é a realidade portuguesa, o que me leva a pensar nas mulheres portuguesas a quem a lei portuguesa falha e que vêem a campanha que se faz em Portugal para mudar o Texas -- ou será para enxovalhar? Como é que estas mulheres se sentem ignoradas em Portugal? Mais vale emigrar para o Texas, ao menos todo mundo civilizado anda a defender os direitos de quem lá está.

quinta-feira, 23 de setembro de 2021

Os cães ladram...

E a caravana passa. Comentava a Ana no último post que não fazia sentido emigrar para os EUA porque os americanos chicoteavam os emigrantes do Haiti na fronteira e tinham outras cenas. Ninguém foi chicoteado, mas houve um guarda que lançou uma corda pelo ar num gesto que não é admissível. Os Texanos são efectivamente marados e há que manter a reputação de serem cowboys, mas o certo é que entre ir para o Haiti e para os EUA, as pessoas preferem os EUA--obviamente! E entre Portugal e os EUA, também é EUA: basta ver o número de refugiados que vem para os EUA comparado com o que vai para Portugal, mesmo fazendo o ajuste pelo tamanho da população.

Como dizia a minha empregada que é das Honduras, a qualidade de vida aqui é muito melhor do que nos países de onde estas pessoas vêm, apesar de se suspeitar que muitos destes emigrantes estivessem em outros países da América Latina e aproveitaram a mudança de regime de imigração para os cidadãos do Haiti por causa do terramoto para tentar entrar.

Há um ponto curioso que as pessoas parecem não compreender: quem define os valores da sociedade ocidental hoje em dia são os americanos. O que as pessoas valorizam é o que alguns americanos valorizam. As grandes questões actuais têm todas o marketing americano: o aquecimento global, o movimento MeToo, os direitos da comunidade LGBTQ, o multiculturalismo, o racismo, a violência, etc. Tudo isso é discutido na praça pública porque os media americanos fazem cobertura dessas questões. O facto de ser discutido em praça pública quer dizer que não é consensual, mas é preciso avançar estas causas e os EUA são um bom laboratório de questões sociais para o resto do mundo.

Finalmente, parem de dizer que o aborto é ilegal nos EUA: o aborto é permitido desde 1973, mas com restrições e as restições variam de estado para estado. O que está em causa é as restrições serem demasiado apertadas em alguns sítios, mas isso não significa que a sociedade americana é atrasada. Até 2007, Portugal tinha restrições ao aborto muito mais apertadas do que os americanos, logo os portugueses não estão mais avançados do que os americanos.

quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Vai abrir

Passou um bocado despercebida, mas a administração Biden anunciou na Segunda-feira que vai suspender as restrições de entrada nos EUA a pessoas da UE (e do Reino Unido) que estejam vacinadas. O plano é normalizar as coisas em Novembro, o que, suponho, dá algum tempo para avaliar como a Europa se ajusta à rentrée em termos de pandemia.

Estou bastante curiosa para ver como é que os portugueses vão reagir a isto, dado que no início da pandemia vi muitas pessoas a pedir informações nos grupos do Facebook acerca de como emigrar para os EUA. Perante tanta insistência em obter informação, a minha hipótese é que muitos irão sair -- ou então já saíram para outras paragens.

O desemprego americano recuperou bastante desde o início da pandemia: chegou a estar quase nos 15% e agora encontra-se em 5,2%. Há um enorme desajuste no mercado de trabalho que está a fazer pressionar os salários mais baixos para aumentarem porque não há muitos trabalhadores interessados nos empregos disponíveis, nem os patrões conseguem encontrar empregados com qualificações que desejam, ou seja, os emigrantes terão bastantes oportunidades.

A União Europeia não está a recuperar tão rápido como se deseja. Só para se ter uma ideia, de acordo com uma publicação da União Europeia, em que usaram preços correntes convertidos para euros para calcular a porção do PIB mundial que cabia aos EUA e à UE, e passo a citar o original:

In 2018, the United States accounted for a 24.0 % share of the world’s GDP. Although the United States’ share in 2018 was 0.9 percentage points less than it had been in 2008, it moved ahead of the EU-27 whose share fell from 25.6 % in 2008 to 18.6 % in 2018. Note these relative shares are based on current price series in euro terms, reflecting market exchange rates.

Se usarmos os números do Banco Mundial, com as séries ajustadas pela paridade do poder de compra e a preços constantes em dólares internacionais de 2017, em 2008, a UE detinha 19,12% do PIB mundial; em 2019, estava em 15,25%; e em 2020, estima-se ter estado em 14,8%.

É uma tempestade perfeita.

segunda-feira, 20 de setembro de 2021

Húbris outra vez

Se não me falha, já vamos na terceira vez em que deitamos foguetes antes do tempo: primeiro, a pandemia não chegava a Portugal porque os portugueses eram geneticamente superiores; segundo, Portugal não ia ter muitos casos porque os portugueses eram pessoas que sabiam o que tinha de ser feito; terceiro, vencemos a guerra contra o vírus porque Portugal é o melhor do mundo a vacinar. Caminhamos para outro embate com a realidade porque ainda não aprendemos a lição.

Em primeiro lugar, há a qualidade dos dados. As vacinas são uma contagem efectiva, enquanto que os números da população são estimativas, logo estimativas têm erros. O erro mais óbvio é que os dados preliminares do censo da população de 2021 indicam que a população portuguesa é de 10.347.892, mas a estimativa oficial da população é de 10.297.081 em 2020, de acordo com o INE; mas se forem ver o que o Worldometers usa, por exemplo, encontram 10.160.514. Ou seja, no cálculo da percentagem da população vacinada, parece que o denominador usado é inferior ao real, logo a percentagem da população vacinada é superior ao real--não se espantem se começarem a ver percentagens superiores a 100%.

Mesmo a contagem das vacinas é problemática: o processo de vacinação já se arrasta há nove meses, logo nesse período, é natural que pessoas vacinadas tivessem morrido de outras causas, mas não tenham sido retiradas da contagem. Na proporção de vacinados por faixa etária, também haverá pessoas que agora estão numa faixa etária alta, mas que foram vacinadas numa faixa etária inferior -- é que em 9 meses, alguns que tinham 64 anos, passam a ter 65, por exemplo. Como eu dizia, não se espantem se começarem a ver percentagens superiores a 100%.

O esforço de vacinação não é apenas português porque houve residentes que se foram vacinar ao estrangeiro -- até vieram aos EUA, imaginem -- porque Portugal estava atrasado nas vacinas. Depois chegaram a Portugal e inscreveram a sua vacinação no respectivo centro de saúde. Parte dos emigrantes que viajaram a Portugal durante este verão fizeram isto porque mostrar o certificado de vacina é mais prático do que andar a fazer testes Covid para poder ir de um lado para o outro.

Um outro problema é que numa população envelhecida, a vacina não é tão eficaz e a população portuguesa é das mais envelhecidas do mundo. Depois combina-se isto com o facto de Portugal ter casas mal-preparadas para o Inverno, logo as pessoas passam frio, vivem com humidade, bolores, carunchos, etc., o que enfraquece o sistema imunitário.

Os preços da energia também contribuem para a falta de conforto das casas, dado que Portugal tem energia das mais caras da Europa, o que é agravado pelo fraco poder de compra dos portugueses. Há menos de duas semanas, João Galamba afirmou que o governo não descartava preços mais altos de electricidade para 2022. Na semana passada e em resposta à subida do preço do gás natural, a Espanha anunciou medidas de emergência para reduzir os custos de energia para os consumidores espanhóis.

Finalmente, temos de considerar que a pobreza aumentou com a pandemia, logo vai haver gente a passar fome para além de frio; ser vacinado não vai adiantar grande coisa quando não se tem energia para lutar contra uma infecção.

domingo, 19 de setembro de 2021

O fim

Fiquei acordada até às duas da manhã para terminar de ver A Cozinheira de Castamar. O início da série foi bom, mas tem algumas coisas que me incomodaram um bocado, pois não desenvolve bem as personagens secundárias, que depois irão ser bastante importantes para a história. Mereciam ter uns arcos mais detalhados. Para o fim, acabam por compensar essa falha e as coisas tornam-se mais complexas e dinâmicas. 

Não sei se o fim é credível, pois parece mais sonho do que a realidade das personagens principais. Talvez seja indicação que estão a contar seguir a série. A Netflix diz que é a primeira época, o que pode indicar que possa haver uma segunda, mas a série não foi desenvolvida originalmente por eles. 

Ainda não encontrei nenhuma produção portuguesa no catálogo de séries da Netflix, apesar de já ter visto filmes de países mais pequenos, como da República da Geórgia (The Trader e My Happy Family), que tem menos de 4 milhões de habitantes -- achei ambos fascinantes. Aliás o My Happy Family é capaz de ser um dos meus filmes preferidos.   

sexta-feira, 17 de setembro de 2021

Franhol

Desde há uns meses para cá que me tem apetecido praticar o meu francês que anda pelas ruas da amargura. Ainda não me resignei a ler, mas cheguei a comprar um livro audio da Marguerite Duras, que ainda não terminei. No outro dia, lembrei-me de perguntar à minha antiga professora de francês, que também é bastante minha amiga, se seria aconselhável arranjar uma explicadora online, pois encontrei uma plataforma que oferece esse serviço e tem vários preços, mas por $40/hora já se faz a festa. Sugeriu-me que usasse o Duolingo e também podia ver uma série francesa na Netflix, que era parecida com o Twin Peaks, que ela sabe que eu adoro.

Comecei a ver a dita série e mal conseguia entender uma palavra. Aquele pessoal parece que engole as palavras--dava jeito uma personagem tipo o Gordon do Twin Peaks, que gritava e falava devagar para toda a gente o compreender. O pior era a história, pois aquilo é bastante assustador e eu já não tenho 18 ou 19 anos. Além disso, o Twin Peaks tinha bastante sentido de humor e a estética era mesmo do outro mundo. A série francesa peca em ambas essas frentes. Desisti.

Ataquei a série Valéria, que tinha começado a ver há alguns meses, mas não me tinha entusiasmado no primeiro episódio. Desta vez persisti e acabei por gostar muito. Para além de ter muita graça, até  tem o benefício de se ouvir calão. E depois passa-se em Madrid, o que acho uma mais-valia porque gostaria muito de voltar a visitar, desde que vi algumas gravuras do Goya quando estive em Miami, FL, em Dezembro de 2019.

O espanhol até nem é uma língua muito feia e percebi mais dos diálogos da Valéria do que dos da Zone Blanche, a tal série francesa. Já me disseram que se passarmos um mês em Espanha, saímos de lá a falar espanhol, o que também me alicia muito. Andava assim um bocado indecisa entre o espanhol e o francês, mas não me impediu de começar a ver outra série espanhola, La Cocinera de Castamar, de que também estou a gostar muito. E a Netflix já me deu mais recomendações de coisas espanholas.

Hoje voltei a atacar o francês: decidi ouvir o podcast "Change Ma Vie". Não é que me interesse muito sobre o tema de mudar de vida -- eu, que me farto de mudar! -- mas a Clotilde Dusoulier foi das primeiras bloguers que segui por causa do seu Chocolate &  Zucchini, logo tenho um fraquinho por ela.

No podcast, que compreendi para aí 85% ou mais, ela fala da importância de sonhar e de nos darmos permissão de desejar mais e melhor para podermos ter uma vida auto-realizada. Nos dias de hoje é muito difícil pensar e querer uma vida plena e, para além disso, muitas vezes quando se planeia tudo, acabamos por não valorizar outras oportunidades que vão surgindo. Ou seja, compreendi o que foi dito, mas não compreendi de todo ser tão detalhado na forma como se planeia a vida. 

Ainda não consegui decidir-me entre o francês e o espanhol, mas se calhar o melhor é enveredar por podcasts em francês e séries em espanhol.


quinta-feira, 16 de setembro de 2021

P'rá-Frentex

O Gavin Newsom, governador da California, safou-se da tentativa de o destitiur do cargo. E não só se safou, como teve resultados muito bons, logo temos aqui, quase certamente, um futuro candidato às Presidenciais americanas pelos Democratas. Como candidato não adianta nada ao partido, pois a Califórnia já vota Democrata com ou sem ele. Se ele for o candidato, não voto nele. Com o Biden tive de engolir o sapo por causa do Trump, mas só me sacrifico uma vez. No NYT, o Charles M. Blow, um comentador negro, diz que os Democratas estão a falhar aos homens negros. Não tenho simpatia nenhuma, pois já tivemos um presidente negro, o que nunca tivemos foi uma presidente. E, ainda por cima, há mais mulheres do que homens negros, logo se isto é falhar aos negros, que diremos nós do que estão a fazer às mulheres... Felizmente, no meu outro país, que é über-progressivo, brevemente iremos ter uma Presidente e uma Primeira-Ministra. Os portugueses são assim: p'rá-frentex.

quarta-feira, 15 de setembro de 2021

Orientação

A minha empregada que veio das Honduras recebeu recentemente a irmã mais os seus dois filhos, logo há três crianças lá em casa com 12 anos ou menos. A mais velha ainda não foi para a escola porque ainda têm de ir tratar da papelada. Perguntei se os meninos gostavam de viver aqui e ela disse que sim, estavam todos muito felizes, era outra qualidade de vida e a educação era melhor.

Ela tem uma filha com uns problemas de saúde, que ficou recentemente uns quatro dias no hospital e depois foi transferida para o St. Jude. No St. Jude, que é um hospital para crianças com cancro, as famílias não pagam pelos cuidados médicos, dado que o hospital é financiado através de doações. Explicava-me ela todas estas reviravoltas de saúde, mas metade ficou por entender porque falava muito rapidamente e eu não quis interromper o entusiasmo.

No entanto, não parececia nada preocupada, nem sequer falou nos custos do hospital, mas também não lhe perguntei se tinha seguro de saúde. Em algumas cidades, há apoios para os imigrantes ilegais terem acesso a seguro de saúde a custo reduzido.

Os EUA são um país muito engraçado. Muitos imigrantes ilegais, mesmo não falando inglês, conseguem orientar-se relativamente bem e alguns até pagam impostos sobre o rendimento. Já certos americanos, apesar da vantagem de terem nascido e crescido no país, têm a vida de pantanas, como foi o caso do canalizador e da sua esposa.

terça-feira, 14 de setembro de 2021

Histórias

À conta da morte de Jorge Sampaio, mais uma vez tive de levar com a lição habitual: não se pode dizer mal dos mortos e se eu digo mal dos deificados portugueses, falam-me dos americanos problemáticos. Por exemplo, o Clinton teve affairs, logo é mauzito porque nunca nenhum político português faria tal coisa, subentendo. O Bush filho também é um caso bicudo porque invadiu "um país milenar." Na verdade, ele invadiu dois países e nenhum deles era milenar.

Há uma enorme hipocrisia da parte dos portugueses: ao mesmo tempo que se orgulham de terem sido um país de conquistadores, como cantam os Da Vinci, e de terem metido o nariz em todo o lado, nem queriam dar independência às colónias, acham de mau tom as incursões dos americanos. Não é que os americanos tenham tido razão em iniciar as guerras, mas achar-se moralmente superior é muito fajuto.

Quanto ao Bush II, que fez muita asneira e foi um péssimo presidente, tem o mérito de se ter arrependido e de, após ter saído da Presidência, se ter dedicado à causa dos veteranos, mas também tinha uma enorme dívida para com estas pessoas. Talvez quando morra, os portugueses digam bem dele porque está na moda. O pior é o Salazar, que está mortinho da Silva, e agora não se pode dizer mal dos mortos...

segunda-feira, 13 de setembro de 2021

Normal, também

A Administração Biden decidiu impôr um mandato de vacinas que abrange as empresas que têm mais de 100 empregados. A justificação é segurança no local de trabalho, ou seja, é abrangido pelo OSHA (Occupational Safety and Health Act), assinado pelo Nixon em 1970. Note-se que em Portugal, quem teve Covid só precisa de uma dose de vacina para ser considerado vacinado, mas nos EUA alguém que tenha recuperado de Covid tem de completar o número de doses normal, o que atrasa o processo de vacinação.

Muitos políticos republicanos fazem campanha contra as vacinas, ao mesmo tempo que se vacinam, mas é normal em todo o lado que os políticos digam uma coisa e façam outra. Do lado das empresas, muitas já tinham imposto regras restritivas porque têm medo de processos em tribunal, se as pessoas ficarem doentes no local de trabalho. Com a ordem do Biden, dá para se culpar o governo, em vez de se passar pelo mau da fita. Normal, também.

domingo, 12 de setembro de 2021

Vinte anos

Este ano, celebra-se os 20 anos dos actos de terrorismo de 11/9/2001, mas nota-se que o tom da conversa mudou. Nos jornais e revistas, há artigos a discordar da chamada Guerra ao Terrorismo. Cometeram-se abusos e injustiças e o fiasco da saída do Afeganistão serviu para trazer todas as atrocidades mais uma vez à baila. Depois, a maioria dos americanos discorda do que foi feito.

Acho lamentável que o Biden tenha usado esta data para motivos políticos, dado que o plano era sair do Afeganistão antes de 11 de Setembro, custasse o que custasse, e nem sequer teve o cuidado de sair de cabeça erguida, saiu às três pancadas, arricascando a vida de muita gente.

Mas a realidade é mais complicada, pois os americanos não saíram completamente: a política oficial é que saiu, mas a verdade é que há várias organizações de fins não-lucrativos que ainda estão a tentar tirar refugiados do Afeganistão e muitas pessoas sentem-se moralmente obrigadas a cuidar de quem nos ajudou. É salutar ver a sociedade civil a divergir do governo, como se assistíssemos ao país a acordar de um longo pesadelo.

sábado, 11 de setembro de 2021

A propaganda

Morreu Jorge Sampaio, logo foi elevado a um dos melhores Presidentes da República. Não foi. Foi um presidente medíocre que meteu Sócrates à frente do país com carta branca para se endividar e já sabemos onde a República foi parar. Depois temos o outro génio das contas à portuguesa, o actual Primeiro Ministro que diz que Portugal resistiu bem à crise da pandemia porque está a crescer acima da média. Portugal foi dos países que mais sofreu, pois não só perdeu em PIB que caiu acima da média, apesar de ser bastante raquítico à partida, perdeu também em vidas. Obviamente que a qualidade de vida e morte dos portugueses interessa pouco ao PM; mas, pronto, dá jeito que os reformados morram mais depressa, assim nem é preciso cativar a despesa. Deus cativa-lhes a vida e fica tudo equilibrado como que milagrosamente.

quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Metidos num picle

Como se diz na América, we're in a pickle. Estamos prestes a atingir o nível máximo de dívida, logo o Congresso precisa de agir. Mais valia não haver teto da dívida, se é para ter estas crises com todos os presidentes que tomam posse. Tanto Obama como Trump tiveram direito a "government shutdowns", que são uma grande chatice para quem faz análise de dados. Depois, o Biden é um incompetente, logo não vai ser uma coisa bonita de se ver.

Ou seja, este Presidente vai durar um termo e desgastar a imagem do Partido Democrata, o que dá grande vantagem a um candidato republicano. Pelo sim, pelo não, o Trump continua a recolher doacções para a sua causa.

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

A má história

A New Yorker desta semana tem um longo artigo sobre o Afeganistão que é extremamente crítico da intervenção americana. Os erros precedem Bush II e continuaram com Obama; chamar-lhe erros é favor porque são mesmo atrocidades. Sendo assim, a má execução do Biden é perfeitamente previsível, pois tem sido uma litania de más escolhas e coisas mal-feitas. Faz-me pensar nos relatos que vemos nos livros de história em que as coisas são apresentadas como se tivessem lógica e tivessem acontecido da melhor forma. Espero que esse ponto de vista esteja em vias de extinção.

terça-feira, 7 de setembro de 2021

Nada a fazer

A telenovela da torneira tornou-se numa saga do teto quando houve uma pequena inundação cá em casa por causa do ar condicionado e de um dos canos ter ficado entupido, o que levou a que o teto tenha ficado danificado. O canalizador ofereceu-se para reparar o teto e eu concordei, mas foi um enorme erro. A carrinha do homem avariou, o carro que a esposa comprou por $1000 é uma porcaria e também avaria amíude. Foram comprar material e o carro foi assaltado, já é o segundo assalto que têm num curto espaço de meses. Ficaram sem telefone, sem documentos, etc. porque deixaram tudo no carro quando foram à loja. Não percebo como é que não entendem o conceito de telemóvel.

No final da semana passada dei-lhes $575 para comprar os materiais para o teto, mas não compraram tudo e ficaram sem dinheiro--já gastaram $1000 a reparar o carro. Tive de avançar $300 + $100 + $125 da parte de trabalho porque estão sempre sem dinheiro, apesar de, no total, eu já lhes ter dado mais de $3000 pelos vários trabalhos que já fizeram nas últimas duas semanas e também tiveram outros clientes. Depois combinam e aparecem atrasados, têm de sair por 10 minutos e só regressam passadas três horas, ou seja, passei o Domingo e o feriado sem ir a lado nenhum porque não sei quando aparecem.

Quando me pediram os $125 fiquei bastante chateada e disse-lhes que não era banco. Com os outros, uma pessoa paga no fim tudo de uma vez e não tem de andar com estas complicações de horários. Isto confunde-me imenso porque como é que eu conto as horas que ele trabalhou se eles está sempre a entrar e a sair.

Depois uma pessoa dá uma oportunidade pensando que os está a ajudar e eles pegam no dinheiro e enterram-se ainda mais comprando um carro que devia estar na sucata. Como é que se arranja maneira de orientar estas pessoas? É que isto é que alimenta a pobreza endémica americana, as péssimas escolhas. Por muitas oportunidades que o país tenha e tem bastantes, se as pessoas ecolhem mal, não há grande coisa a fazer.

segunda-feira, 6 de setembro de 2021

Dejá Vu

Quem conhece a história dos EUA, recorda-se certamente do conflito entre o poder dos estados e o poder federal durante o Movimento dos Direitos Civis, em que alguns estados resistiam em eliminar a segregação entre brancos e negros. Desse tempo saíram bastantes episódios icónicos para a história americana que vão desde casos em tribunal, manifestações, intervenção do governo federal para escoltar alunos negros que estavam matriculados em escolas de brancos, etc. Daí saiu o Civil Rights Act de 1964 e a Affirmative Action. Penso que o mesmo acontecerá com a questão do aborto.

A maioria dos americanos é a favor, mas há certos estados que insistem em limitar o acesso -- muitos americanos também são a favor de restrições a acesso. Não há legislação federal que garanta o acesso ao aborto e até agora o que garante é a decisão do SCOTUS em Roe vs. Wade. Ou seja, há bastante trabalho que pode ser feito do ponto de vista legislativo e da parte do governo federal, à semelhança do que aconteceu com o Civil Rights Movement e parece que a administração Biden se compromenteu a avançar a causa. Veremos se tem imaginação para tal.

sábado, 4 de setembro de 2021

Don't mess with Texas

O SCOTUS decidiu deixar em vigor uma lei do Texas que proibe o aborto após as seis semanas. O Justice Roberts, que é o meu contorcionista preferido, decidiu votar pela minoria. A modos que está tudo furioso, mas pela minha parte acho que este é o melhor resultado. Não é que eu seja a favor da lei do Texas, mas já é um bocado cansativo ter de depender do SCOTUS para defender este direito. Está na hora da sociedade civil se mexer e despachar alguns destes legisladores. É preciso fazer campanha contra eles e tirá-los do poleiro. Nesse aspecto, o reinado de Trump serviu para alguma coisa: incentivar a sociedade civil a ser mais vocal acerca do que realmente querem.

sexta-feira, 3 de setembro de 2021

Ida em Nova Iorque

A depressão tropical Ida matou pelo menos 43 pessoas na zona Nordeste dos EUA, umas histórias muitos tristes, com pessoas a morrer afogadas em apartamentos que ficavam em caves, outras em carros apanhados em ruas com água. Há dois dias tinha matado seis quando passou pela Louisiana e Mississippi, deixando cenas de destruição completa. Mesmo assim, dada a densidade populacional da zona afectada, podia ter sido bem pior. A governadora de Nova Iorque tomou posse há pouco mais de uma semana e já foi catapultada para uma tragédia deste calibre.

Estas últimas semanas, com as tempestades e a crise no Afeganistão, quase que dava para pensar que tínhamos saído da pandemia, mas é capaz de ser apenas um curto interregno.

quinta-feira, 2 de setembro de 2021

Uma família

Um amigo meu enviou-me uma notícia de Portugal sobre a família do intérprete que auxiliava os militares portugueses no Afeganistão e que foi deixada para trás. Achei mal, obviamente. Não percebo a dificuldade de trazer uma família, ou será que a pessoa tinha um harém? Mesmo se tivesse, até dava jeito para reforçar a população portuguesa, logo devia ser uma coisa de alta prioridade.

Alguém sabe o que anda a fazer o pessoal do Ministério dos Negócios Estrangeiros? Nem ajudam refugiados, nem actualizam as páginas dos consulados/embaixadas. Ainda têm informação acerca do lançamento da Presidência portuguesa da UE, como se tivesse sido alguma coisa de jeito. Só gastaram dinheiro mal gasto e deram má publicidade ao país.

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

O marketing

Espalhada pela comunicação social de hoje, a notícia de que tinha acabado a guerra do Afeganistão, mas claro que é puro marketing. Faz-me impressão não haver mais sobriedade depois da porcaria que fizeram. Agora o verniz está estalado e as coisas não parecem ir correr bem para esta Administração. A economia já atingiu o pico, o investimento em infraestrutura vai criar sérios problemas na economia porque não há mão-de-obra suficiente, a pandemia ainda vai demorar mais um ano ou dois, e daqui para a frente iremos ser brindados com as consequências da má execução da saída do Afeganistão. Os democratas vão sair desta administração enfraquecidos, mas antes irão ter bastantes derrotas nas eleições do próximo ano. É a vida e eles bem merecem deitar-se na cama que fizeram.