quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Fugas

Depois da tempestade de Natal e da minha consequente fuga de água, quando passeava o cão pela vizinhança caía na tentação da auto-comiseração. Olhava para as casas dos vizinhos e não via nenhuma fuga de água e perguntava ao universo o porquê de me ter saído aquela lotaria. Lá para o fim pensei que, se era para acontecer a alguém, pronto, eu faria paz com o universo e aceitaria a minha sina, até porque eu tinha meios de pagar o custo. A semana passada tivemos outra tempestade. Nevou, depois ficou tudo cheio de gelo, e desta vez não tive nenhuma fuga de água, mas também deixei uma torneira a pingar durante uma noite.

Quando o tempo melhorou, retomei os passeios com o Julian (o meu cão) e notei, há três dias, que uma vizinha possivelmente tem uma fuga de água. Afinal acontece aos outros e, se calhar, eu já tinha visto outras coisas destas antes, mas não sabia identificar. No primeiro dia em que a vi, passei e andei porque pensei que a vizinha notasse e tratasse do assunto. Ontem e hoje toquei à campainha para a avisar, mas ninguém atendeu. E se calhar ela ainda não deu conta porque chega à casa depois de escurecer. Isto está a pesar-me imenso porque começo a pensar no custo das contas de água e esgotamento, se ela não trata do problema, para além do desperdício de água. Amanhã tenho de deixar uma nota no correio.

Uma história gira aconteceu com esta vizinha que, poucos dias depois de se mudar para a casa, me apanhou a passear o cão e perguntou se era ele que fazia caca na relva dela -- foi logo na primeira vez que falou para mim. Ora, eu apanho sempre a caca do meu cão, aliás, é ilegal não apanhar e nós até temos caixotes de lixo equipado com dispensadores de sacos para apanhar os detritos dos cães espalhados pela vizinhança, cortesia da Home Owner's Association, à qual nós pagamos, claro (eu pago $162 trimestralmente). Para além disso, eu levo sempre sacos comigo, tanto no dispensador da trela, como na minha carteira. Os vizinhos até me perguntam a razão de eu passear com carteira. Aliás, uma vez fui às compras e uma senhora estava atrapalhada com o seu cão no parque de estacionamento porque não tinha um saco para apanhar o lixo e eu dei-lhe um rolo.

Adiante; lá disse à vizinha que não, não era o meu cão e, se fosse, eu teria apanhado a caca dele porque apanho sempre. Qual a parte engraçada disto? É que eu tinha comprado uma garrafa de vinho e um cartão postal para dar as boas-vindas à vizinha e depois já não dei boas-vindas nenhumas e bebi eu o vinho. É a vida, tal como a minha fuga de água e agora a dela.

1 comentário:

  1. "tinha comprado uma garrafa de vinho e um cartão postal para dar as boas-vindas à vizinha e depois já não dei boas-vindas nenhumas e bebi eu o vinho."

    - Ri a bom rir quando me lembrei da história similar de um dos meus melhores vizinhos de sempre: "bebi eu o vinho, porque a uma pessoa assim poderia fazer-lhe mal".

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