sábado, 8 de julho de 2023

A produtividade da função pública

Há uma semana, depois de várias tentativas, consegui submeter a minha declaração de IRS. Foi azar estar doente e ter adiado para o último dia e a AT decidir sugerir que eu precisava de uma chave digital, o que me destrambelhou por completo, quando me bastava a palavra-chave de acesso à conta da Autoridade Tributária, como tem sido em anos anteriores, para além de que Sextas-feiras são um dos dias mais ocupados no meu trabalho e eu trabalho até às 17 horas, que são 23 horas aí. Desde 2008 que cumpro as minhas obrigações fiscais a tempo e horas em Portugal e fico chateada quando falho nestas coisas.

Consegui, mas como fiquei frustrada com tudo isto, já passava mais de três horas do final do prazo em Portugal. O que fiz nessas mais de três horas? A minha prioridade naquela altura era assoar o nariz frequentemente; depois escrevi às pessoas da chave digital a pedir informações acerca de como proceder; escrevi aqui; claro que isultei o Costa e o Marcelito; e, finalmente, tentei andar às voltas na página da AT a ver se conseguia submeter a coisa até que consegui. Aqui está o meu comprovativo.

Imediatamente após enviar o pedido de esclarecimento (a vossa madrugada de 1 de Julho), recebo um e-mail acerca do meu "ticket" da Agência para a Modernização Administrativa a dizer que me iriam responder "o mais brevemente possível". (Acho piada a esta agência de boys e girls porque a modernização administrativa era uma coisa do Engenheiro Guterres que deu aso à criação das lojas dos cidadão. Mas pronto, estamos na idade da reciclagem, logo porquê ter políticas novas quando as velhas dão para o gasto?)

Recebi então uma resposta de uma menina -- ou senhora -- da Agência para a Modernização Administrativa no dia 5 de Julho, a informar-me que deveria enviar pedido de esclarecimento à Autoridade Tributária: telefonar para um número apesar de eu estar fora de Portugal, ou o e-balcão. Vinha assinado por uma alguém porque é preciso alguém para enviar este tipo de e-mails enlatados. Quando a Inteligência Artificial estiver a 100% conto com esta funcionária ficar desempregada e os contribuintes lusos pouparem uns trocos.

Hoje recebo um e-mail do meu procurador fiscal a informar-me que tenho de pagar uma coima de 25 euros por ter excedido o prazo de entrega da declaração de IRS. O aviso da coima foi enviado pelo correio para casa dele, depois ele abriu, tirou uma foto e enviou-me com um e-mail simpático a dizer que eu me tinha esquecido das Finanças, mas as Finanças não se tinham esquecido de mim. Tudo isto numa semana. Quem disse que os portugueses não sabem ser eficientes?

Esta mesclagem de tecnologias de comunicação não deixa de ser fascinante. E ter de pedir a coima imediatamente, se bem que pelo correio, em vez de a adicionar à conta de IRS e poupar uma impressão em papel, o trabalho de fazer a dita impressão e a enviar por correio, mais o selo, diz-me que o nosso Costinha precisa muito de dinheiro. Isso ou aquela história do Centeno dizer que ia poupar nos desperdícios quando o PS ainda andava a fazer campanha era tudo tanga. Ou o Centeno é incompetente, mas isso já sabíamos.

5 comentários:

  1. Não era necessário a chave móvel, a chave móvel é uma das formas de fazer login, no mesmo sitio, tem a possibilidade de fazer login, com nif e senha do portal das finanças, só que devia estar nervosa e não viu.

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    1. Já agora poderá pedir a dispensa da coima, por já ter regularizado a situação e não ter ocorrido prejuízo para o estado, nos termos do n.º 2 do art.º 29 do RGIT.

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    2. Olá Sérgio! Agradeço a dica, que desconhecia. Em Portugal, sinto-me um bocado extra-terrestre porque o sistema já me é tão alheio.

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  2. Mesmo longe continua a ser bem portuguesa, "deixar para último dia assuntos a tratar" li que estava doente... , as melhoras para essa doença que a imobilizou durante tantos dias. Coitado do ESTADO todos lhe batem, esquecendo que o ESTADO somos todos nós.
    Helena/Cascais

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    1. Não sei se atrasar-me um ano em tantos, ainda por cima estando doente, e ainda por cima com a página da AT a pedir-me algo que não se aplicava a mim e que efectivamente me atrasou, me classifica nessa noção de "bem portuguesa". Penso que você tem uma péssima ideia dos portugueses, até porque os americanos, por exemplo, deixam os impostos para último e muitos até pedem extensão do prazo, o que eu costumo fazer.

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