quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

Pensamentos avulsos

  1. Hoje, quando vi uma foto de Pedro Nuno Santos ao lado de outra de José Luís Carneiro, acendeu-se uma lâmpada no meu cérebro: os portugueses não gostam de votar em homens com barba. Aliás, nunca houve nenhum Primeiro-Ministro ou Presidente da República barbudo. Lembram-se de quando Marcelo tinha barba? A única coisa que ganhou foi a liderança do PSD e perdeu a corrida a Presidente da Câmara de Lisboa. Ou seja, PNS pode ganhar a liderança do PS, mas não penso que irá muito mais longe.

    Pelos meus cálculos, André Ventura barbudo também não irá muito mais longe na política nacional: talvez consiga ser ministro de alguma coisa, mas mais do que isso é difícil. Claro que seria muito mais gratificante derrotá-lo em termos das ideias idiotas com que se decide projectar, mas quem não tem cão caça com gato e eu não sou esquisita.

  2. Por falar em eleições, Trump anunciou que iria ser um ditador desde o primeiro dia, caso ganhasse as eleições. Como se nós já não contássemos com uma vingançazita. Entretanto, bastantes republicanos estão interessados em que a Nikki Haley progrida nas primárias e que Chris Christie desista da corrida. Seria curioso ver se ela conseguia derrotar Trump. Também seria bom ter outra mulher candidata à Presidência.

    Note-se que Trump tem um ponto fraco: a sua guerra comercial com a China causou uma descida forte do preço das commodities agrícolas e houve bastante incerteza durante esse período, para além de perdas monetárias com a perda de volume exportado para a China. Como a maior parte do seu eleitorado está em zonas rurais, também seria interessante ver se os agicultores, sabendo agora do que a casa gasta, o iriam apoiar outra vez nas urnas.

  3. Ainda o Kissinger. Tentei ler o obituário dele no NYT e aquilo é super-comprido -- não sei se cheguei perto do fim, quando decidi adiar o exercício. Nele até se citava o Presidente Obama na revista The Atlantic:
    President Barack Obama, who was 7 years old when Mr. Kissinger first took office, was less enamored of him. Mr. Obama noted toward the end of his presidency that he had spent much of his tenure trying to repair the world that Mr. Kissinger left. He saw Mr. Kissinger’s failures as a cautionary tale.

    “We dropped more ordnance on Cambodia and Laos than on Europe in World War II,” Mr. Obama said in an interview with The Atlantic in 2016, “and yet, ultimately, Nixon withdrew, Kissinger went to Paris, and all we left behind was chaos, slaughter and authoritarian governments that finally, over time, have emerged from that hell.”

    ~ NYT, 29/11/2023

    É uma ideia simpática achar que todo o mal que os EUA fizeram se deveu apenas à proximidade de Kissinger dos vários governos americanos, mas os americanos não precisaram de Kissinger para lançar duas bombas atómicas, por exemplo, ou para invadir o Iraque. Ou seja, não há grande garantia que, se não existisse, as coisas teriam sido bem melhores. Pelo contrário, veja-se o papel de Kissinger no desenvolvimento da China. Quantas vidas não salvou e quantas pessoas não saíram da pobreza?

    O legado de Kissinger é complexo e não pode ser caracterizado de positivo ou negativo porque foi ambas as coisas, mas não se pode negar que o homem se interessava por estudar o mundo e tinha uma visão multicultural, para além de ter sido um intelectual a sério.

5 comentários:

  1. A guerra será ganha pela Rússia se, como nesta altura tudo leva a crer que sim, os EUA e a UE traírem os ucranianos.
    Uma traição em vias de gestação.
    Nos EUA, Biden não conseguirá fazer passar no Congresso o apoio militar que os ucranianos precisam e que lhes foi prometido. A União Europeia não tem poder militar para, sem os EUA, fazer decidir a guerra a favor das pretensões ucranianas de recuperar a parte do seu território ocupado pelos russos. E nós, os europeus, que afirmámos e continuamos a reafirmar continuar ao lado dos ucranianos, estamos titubeantes porque a guerra exige sacrifícios que não queremos suportar.
    Isto, se não é uma traição, é uma enormíssima vergonha.
    https://aliastu.blogspot.com/2023/12/a-conspiracao-contra-europa-parte.html

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    1. Acho o mesmo, Rui, os europeus e os americanos viraram as costas à Ucrânia: estão indiferentes à guerra. É impossível que isto não acabe mal.

      Boas festas e um abraço...

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  2. "É uma ideia simpática achar que todo o mal que os EUA fizeram se deveu apenas à proximidade de Kissinger dos vários governos americanos, (...)"

    1 - Onde esta essa "ideia simpatica" expressa na citacao transcrita?

    2 - Kissinger, (juntamente com muitos outros na administracao americana entre 1955 e 1975 pelo menos) foi responsavel por crimes de guerra e crimes contra a Humanidade no Vietname. Isto sao factos indisputaveis - basta consultar o registo historico. No campo moral, e vivessemos nos numa sociedade decente, isto seria suficiente para pessoas honestas avaliarem honestamente "o legado"... sucede que o mundo nao e decente.

    3 - E por nao ser decente, concerteza aparecem os suspeitos do costume a falar de "relacoes de poder" e "decisoes dificeis para preservar o nosso estilo de vida" ou a "a nossa cultura" - argumentos fundamentalmente xenofobos e racistas, disfarcados com uma fina camada de utilitarismo infantil para, afinal, nada mais que justificar a opressao entre Humanos.
    Alem de moralmente censuraveis, argumentos funcionalmente errados quando avaliados no campo miopicamente utilitarista que ensaiam criar.

    4 - Vejamos entao: no campo geo-estrategico, a guerra do Vietname - na qual a intervencao americana nos moldes em que foi feita de pelo menos desde1955 para a frente, nao era uma inevitabilidade e em que Kissinger teve grande responsabilidade em moldar - foi um sorvedouro de recursos e poder americano que poderiam ter sido usados de forma muito mais proveitosa noutros campos geoestrategicos muito mais importantes para os EUA - um erro de crasso em mais que um sentido - focando apenas o teatro asiatico, o grande rival americano era a URSS cuja esfera de influencia estava contida no Norte da Asia e Asia Central. O sudeste asiatico era inconsequente para a posicao hegemonica global dos EUA enquanto a China se mantivesse na sua posicao de gigante economico adormecido, conforme esteve ate ao inicio do Sec XXI.

    5 - Talvez mais significativo para as estruturas de poder realmente existentes, a guerra no Vietname, arriscou tambem uma revolta popular interna. Os EUA no final dos anos 60 principio dos 70, do sec XX estiveram nao tao distantes assim de uma revolta de moldes socialistas - isto e, no campo da politica interna saldou-se num tremendo risco, talvez o maior de sempre, em toda a historia americana desde a sua revolucao industrial de uma perca de controlo por parte das estruturas de poder realmente existentes nos EUA.

    Face a isto, classificar o legado de Kissinger como "complexo", ironicamente, cumpre bem uma certa funcao descritiva, mas nao como predicativo do objecto, meramente como adjunto adnominal: o legado de Kissinger foi um clusterfuck complexo.

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    1. "Mr. Obama noted toward the end of his presidency that he had spent much of his tenure trying to repair the world that Mr. Kissinger left." De acordo com Obama, a culpa de todo o mal que ia no mundo quando ele tomou posse é do Kissinger.

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