sábado, 25 de janeiro de 2014

O medo do isolamento

Nos anos 1950, o psicólogo social Solomon Asch fez a seguinte experiência: em sessões com 8 a 10 pessoas, mostrava-lhes uma folha com uma linha vertical de "referência" e com três "linhas de comparação", sendo que uma destas era exactamente igual à de referência. Os participantes tinham de observar as linhas e dizer qual das três linhas de comparação era igual à de referência. Era uma tarefa bastante simples. A seguir, noutras rondas, havia 7 a 8 pessoas (ajudantes de Asch) que escolhiam deliberadamente uma linha errada, que não correspondia portanto à linha de referência. O único sujeito não avisado do grupo, o único que não estava ao corrente, estava sentado no final da fila. O que se investigava era o que sucedia com o seu comportamento quando submetido a uma pressão unânime que contrariava a evidência dos seus sentidos. Vacilaria? Juntar-se-ia à opinião maioritária, apesar de isso contradizer por completo a sua opinião? Dos 10 sujeitos não avisados, 6 expressaram como sua a opinião da maioria. Isto significa que mesmo numa tarefa inofensiva que não afecta os seus interesses reais e cujos resultados lhes deveriam ser indiferentes a maior parte das pessoas prefere unir-se ao ponto de vista da maioria, mesmo sabendo que está errado. Um século antes, em o “O antigo regime e a revolução”, escreveu Tocqueville: “temendo mais o isolamento do que o erro, asseguravam partilhar as opiniões da maioria.”
Nos finais do século XIX, Gabriel Tarde, um sociólogo compatriota de Tocqueville, dedicou grande parte da sua obra ao estudo da tendência humana para a imitação, sublinhando a necessidade humana de mostrar-se em público de acordo com os demais. Desde então, a imitação é um tema de investigação das ciências sociais, sendo muitas vezes considerada um modo de aprendizagem. Todavia, Tocqueville e Asch chamaram a atenção para outro motivo dessa tendência humana para a imitação: o medo do isolamento e da marginalização. A nossa natureza social faz-nos temer a separação e o isolamento dos outros e, ao invés, a desejar a aceitação e o respeito do grupo. Esta tendência para a imitação e o medo do isolamento vão contra o ideal da autonomia individual. É uma imagem com a qual quase ninguém quer ser identificado, ainda que muitos possam achar que define muito bem "os outros”.

7 comentários:

  1. Zé Carlos, estas experiências e teorias são muito interessantes, mas exactamente como é que estas inutilidades servem para ajudar as empresas exportadoras? Continua a escrever posts destes, que o Pires de Lima trata-te do défice.

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    1. Ficaste traumatizado com essa da nossa direita, não? Não te queres mudar para a ala esquerda? Tinha muito mais piada quando o principal alvo desta gente era o Boaventura Sousa Santos.

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    2. Simples - evidencia a necessidade de criarmos marcas de referência para as nossas empresas vencerem nos mercados (o conceito de "marca de referência" é mais ou menos isso - um produto que cada um compra porque vê toda a gente dizer que é bom)

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  2. Se a maioria pensar como ele, ou melhor, se as pessoas pensarem que esse é a opinião da maioria, estamos bem lixados, de facto. Lá teremos de ir trabalhar para alguma secção de engarrafamento de cerveja, ou coisa que o valha

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  3. Por outro lado, pensar como os outros pensam pode ter as suas vantagens:

    http://xkcd.com/1170/

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