quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

Vassourada

Se o défice de Mário Centeno fosse a vassoura da casa dele, poderíamos imaginar uma situação em que se ia visitar Mário Centeno a casa e estava tudo sujo. Ao ver-nos torcer o nariz, Mário Centeno oferecer-nos-ia a prova de que estava tudo bem: a vassoura que tinha comprado há um ano, que raramente usava. A vassoura estava como nova, ou seja, funcionaria perto do limite máximo de eficiência. A casa estava suja, mas a vassoura bem conservada era prova mais do que suficiente de que havia grande potencial para a casa estar limpa.

Assim é a economia de Centeno: no papel conseguiu "controlar" o défice; mas reduziu a taxa de crescimento do PIB de 1,6% para 1,4%. Diz o Eco que a dívida pública em 2016 estima-se em 130,5% do PIB, um máximo histórico se acabar por ser confirmado, e acima dos 129% de 2015.

Não se preocupem: a vassoura tem potencial; a competência de Mário Centeno para a usar é que não. Deve-lhe faltar uma vassourada...

3 comentários:

  1. O Centeno varreu muito melhor do que muitos, entre os quais me conto, esperavam.
    Mas a limpeza continua ameçada pelos porcalhões dos banqueiros...
    Agora, e há mais tempo do que a nossa paciência deveria ser obrigada a suportar e os nossos bolsos a pagar.
    São raros os dias em que não aparecem mais porcarias banqueiras.

    Que este e outros governos tiveram que limpar, e nós que pagar.

    Pode, admirável Rita, explicar-me porquê? Por que não foram nem são os banqueiros obrigados a limpar as porcarias que fizeram e continuam a fazer?

    A pergunta é ingénua mas a resposta é complicada, não é?

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    Respostas
    1. A resposta não é complicada: porque os cidadãos permitem que o sistema continue.

      Repare-se que o GOP levou os EUA praticamente à bancarrota; quando o GOP voltou ao poder através de Trump, os americanos saíram para a rua a protestar. Muitos portugueses explicaram-me que os protestos não faziam sentido porque havia uns que protestavam o tratamento das mulheres, outros o ambientalismo, outros a falta de transparência do Presidente, outros o poder de Wall Street na Administração Trump, etc. Não havia uma mensagem clara porque não havia uma mensagem única, mas a verdade é que não há apenas um problema e se juntarmos toda a gente que tem razão de queixa, teremos muita força juntos.

      Em Portugal toda a gente se queixa e ninguém faz nada e os políticos podem fazer favores a banqueiros porque sabem que não haverá consequências para além de se falar muito. É ridículo dizer que o problema são os banqueiros, pois os banqueiros não existem num vácuo: o problema é termos governantes e legislaturas que permitam que os banqueiros se comportam assim.

      Mais de cinco anos após José Sócrates sair do poder ainda não temos um bom enquadramento legal da corrupção. Quantos anos já se passaram desde o caso dos submarinos?

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  2. Lamento, mas não estou totalmente de acordo consigo.

    E digo totalmente, porque há manifestações, sobretudo de natureza sindical - agora menos porque os usuais promotores estão moderados pelo apoio a este governo - e não há uma única a exigir justiça oportuna pelas porcarias feitas pelos banqueiros. Se houvesse, eu que não sou muito de embandeirar em manifestações, não faltaria.

    Quanto ao resto, adorável Rita, o problema da impunidade dos banqueiros - o malfadado moral hazard parece irradicável e agora, com Trump, tanto pior.
    Ben Bernanke, numa entrevista à Time no ano em que foi nomeado chairman da Fed, afirmava que o maior problema financeiro dos EUA é o "too big to fail" que torna os banqueiros impunes e, portanto, irresponsáveis.
    Há excepções, pois há. As tais que confirmam a regra.

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