Um blogue de tip@s que percebem montes de Economia, Estatística, História, Filosofia, Cinema, Roupa Interior Feminina, Literatura, Laser Alexandrite, Religião, Pontes, Educação, Direito e Constituições. Numa palavra, holísticos.
sexta-feira, 27 de março de 2020
Notícias do nosso Serviço Nacional de Saúde
quarta-feira, 25 de março de 2020
Apontamento para memória futura
domingo, 22 de março de 2020
1918 revisitado
Portugal também foi atingido e alguns locais perderam 10% da sua população. No Reino Unido, o virus começou a atacar em Janeiro de 1918, com o primeiro surto, que foi o menos grave, acalmou no verão, e regressou num segundo surto, o mais letal de todos, em Outubro de 1918; depois houve um terceiro surto de mortalidade intermédia em Fevereiro de 1919. Leiam a Wikipédia, que é grátis, se faz favor. Eu tive a sorte de, há mais de 10 anos, quando vivia no Arkansas, conhecer um senhora octogenária, cujo pai, que era francês, quase morreu neste surto. A esposa é que se recusou a abandoná-lo numa sala enorme cheia de doentes à espera da morte e cuidou dele.
Não me recordo de ter aprendido sobre a pandemia de 1918 na escola em Portugal; perguntei hoje a uma colega do secundário e faculdade e ela não sabia o que era, o que eu acho estranho dado o período que atravessamos. Talvez tenha a ver com o número de pessoas em Portugal que vão à rádio e televisão e dizem que a situação actual não tem precedente. Quem diz coisas destas não devia ter tempo de antena e muito menos devia aparecer em painéis de discussão da pandemia actual. Convidem médicos e especialistas, mas não convidem burros, que não sabem usar a Internet, nem têm um pingo de curiosidade para ler a imprensa actual.
O mundo não começou quando nascemos e, na escola, apesar de não nos terem ensinado sobre a pandemia de 1918, ensinaram-nos sobre a peste negra, por exemplo. E mais recentemente, tivemos bastantes casos de doenças que podiam ter corrido pior, como o SARS, MERS, Ebola, H1N1, e outras melhor, como o HIV/SIDA, que foi mesmo declarada uma pandemia e que já matou mais de 32 milhões de pessoas. Durante os anos 8o e 90, o período negro do SIDA, nas televisões portuguesas eram convidados especialistas. Uma curiosidade: ainda me recordo de alguém num programa da RTP, onde estavam médicos, acusar o Primeiro-Ministro da altura, Cavaco Silva, de não saber o que era o SIDA, quando a filha dele era investigadora na área. A propósito, já convidaram a Patrícia Cavaco-Silva para comentar a pandemia? Ela é mesmo especialista.
Um outro enviesamento cognitivo dos actuais "pseudo-especialistas" que aparecem na comunicação social portuguesa é acharem que se das outras vezes os especialistas não acertaram, desta também não acertam. Só que a ausência de uma pandemia não é sinal de falhanço, mas sim de sucesso. É por as autoridades se prepararem para o pior, que se podem precaver contra esse risco, e o conseguem controlar para que não atinja grandes proporções. Nos últimos anos, os EUA não viram valor nenhum em preparar-se para riscos deste tipo, aliás o Presidente Trump desmantelou a equipa que estudava os riscos de uma pandemia e actuava assim que aparecia algo que causava alarme; e também cortou a despesa com os Centers for Disease Control. Perante este falhanço dos EUA, a União Europeia, que é a outra super-potência económica, não fez nada para ocupar este vazio. Para além da UE não ter um esforço coordenado entre os países, as políticas que cada um segue para controlar o contágio são nacionais, quando o problema é supra-nacional.
Não se preocupem. Depois deste falhanço colossal, em que, se o pessoal não abrir o olho, se estima que iremos ter mais de uma centena de milhões de mortos, os fracos falecerão, e a próxima epidemia não será tão letal. Um falhanço dos verdadeiros especialistas, portanto.
quarta-feira, 18 de março de 2020
Um Modelo Necessário
É um modelo que calcula a probabilidade de alguém estar infectado dadas certas características. São capazes de reconhecer que isto é um modelo de variável dependente limitada, pois esta toma o valor de 0 ou 1 para indicar se o resultado do teste do virus para certo individuo é negativo ou não. É mesmo isso que vocês estão a pensar: uma variável binomial.
Dados necessários:
- Uma base de dados com as caracteríticas dos indivíduos que fizeram o teste e o respectivo resultado
- Resultado do teste, que pode ser definido como 0 para negativo e 1 para positivo
- Idade da pessoa
- Sexo
- Fumador ou não
- Conjunto de variáveis indicativas dos sintomas, como temperatura da pessoa, presença de tosse, dificuldade em respirar, etc.
- Conjunto de variáveis com condições pré-existentes, como diabetes, doença cardiovascular, pressão arterial alta, doenças do aparelho respiratório, cancro, etc.
- Outras variáveis que os médicos achem pertinentes
- Estes modelos podem ser estimados através de regressão logística ou Probit
- A probabilidade de alguém com certas características ter um teste positivo
O ideal seria ter um sistema informático em que quem atende o telefone do SNS 24 (ou outros profissionais de saúde que atendam pacientes) enfia os dados das variáveis independentes no sistema e o sistema calcula se a pessoa deve ser submetida ao teste, se a probabilidade for acima de um certo limite.
Outra maneira menos precisa seria fazer o ranking dos factores que contribuem para a pessoa estar infectada e decidir com base na presença desses factores no indivíduo, por exemplo, alguém que exiba os cinco factores mais importantes deve ser testado.
Um outro uso para um modelo deste tipo seria fazer triagem do pessoal médico que se quer a lidar com pacientes do coronavírus. Basta seleccionar médicos, enfermeiros, etc., que tenham as características que contribuem menos para o risco de infecção.
Se alguém conseguisse construír isto em menos de quatro dias, salvaria a vida a muita gente. Vá lá, uma semana já era muito bom. Como diz o LA-C, estamos em guerra contra o coronavírus.
Vou tentar dormir para continuar a minha guerra contra o vírus porque tenho uma doença auto-imunitária que aumenta o meu risco.
sábado, 14 de março de 2020
Finalmente, acção!
Haja líderes à altura!
terça-feira, 10 de março de 2020
Amanhã, um tuíte não é demais...
Todos os dias, a Itália conta as suas vítimas, todos os dias, informa o mundo de quantas pessoas morreram, de quantas ficaram doentes. Na revista Time, indicam que por cada milhão de cidadãos, a Itália testou 638 pessoas; não é tanto como na Coreia do Sul, onde testaram 1100 pessoas por cada milhão, mas é um esforço gigante. E dois médicos italianos escreveram uma carta à comunidade internacional a relatar as lições que aprenderam para que os outros se preparem e não tenham de enfrentar esta batalha enorme sem conhecimento prévio. É a Itália, aquele país que nós achamos meio avariado porque elegeu o Berlusconi, mas estão a tentar tudo por tudo.
A minha preocupação é que tenho a certeza que Portugal não está a testar um número suficiente de pessoas para controlar o contágio. A minha amiga diz-me para não me esquecer que a Itália é um país envelhecido, que a idade média dos falecidos por causa do COVID-19 é 81 anos. Isto faz-me lembrar que o meu ex-cunhado, num Natal, me deu um livro intitulado "One Year in the Village of Eternity", sobre a longevidade dos residentes de Campodimele, em Itália, que nunca cheguei a ler. Talvez esta seja a minha dica.
Portugal também é envelhecido e fui ver a distribuição etária dos países: Portugal tem 21,5% da população com 65 anos ou mais; os italianos têm 23%; a Coreia do Sul tem 14%. A Coreia do Sul tem 7478 casos e 53 fatalidades; a Itália tem 9572 casos e 463 fatalidades. O número de casos em Itália aumentou 1300 hoje. Portugal tem 30 casos, mas o Público dizia que se estava à espera dos resultados dos testes de mais 47 pessoas, ao mesmo tempo que dizia que a primeira paciente tinha infectado 10--o suficiente para eu começar a fazer suposições. A primeira paciente veio de Itália, suponho que num avião, suponho que o avião tinha mais de 47 passageiros e, suponho também, que depois foi usado para transportar outros tantos, mas não antes de ser limpo, suponho outra vez, por uma equipa de várias pessoas. Acho 47 pouco, pronto.
O cidadão mais importante, que não sabe estar quieto para que não pensemos que morreu é o nosso Presidente da República que lá arranjou maneira de ser testado. Amanhã, para podermos estar mais descansados, o PR devia repetir o teste e o Primeiro Ministro devia mais uma vez dar-lhe os parabéns. Sim, porque a banda no Titanic também tocou até ao fim e mais vale morrer civilizadamente: não podendo haver selfies, restam-nos os tuítes de parabéns.
domingo, 8 de março de 2020
A ler/ver
A Coreia do Sul testa 10 mil pessoas por dia e parece ser o país que tem mais controle sob a situação, mas o vírus está tão espalhado pelo planeta que as coisas estão bastante feias. Por exemplo, o SARS, por ser um vírus que provocava sintomas mais violentos e não era contagioso logo no início, foi controlado mais rapidamente e só causou pouco mais de 8 mil casos. O MERS desde 2012 apenas causou cerca de 2500 casos em todo o mundo.
Há quem ache que se está a exagerar porque nas pandemias anteriores mais recentes não acabou por morrer muita gente. Nos últimos 100 anos, os humanos têm sido bastante eficazes a aumentar a sua sobrevivência e a desenvolver tratamentos que reduzem a mortalidade. Mas não pensem que isto dura para sempre.
Uma população envelhecida não é tão resistente e, para além disso, haver muita gente que sobrevive não quer dizer que todos são fortes. Os virus e bactérias evoluem muito mais rapidamente do que nós; para além disso, sabemos da história, que é muito mais longa do que uma vida humans, que o normal é haver pandemias de vez em quando. Como diz o povo, tantas vezes o cântaro vai à fonte, que um dia lá fica a asa.
Aqui ficam algumas fontes que são bastante informativas:
- Uma entrevista do Fresh Air, emitida em 5 de Fevereiro, acerca de onde vêm estes vírus e da sua maior frequência.
- Uma app da Johns Hopkins que acompanha a contagem de vítimas
- Uma peça da revista Time sobre a estratégia falhada dos EUA
- Uma lição de história acerca da gripe de 1918 e de como a corrupção na cidade de Philadelphia contribuiu para piorar a situação
- Uma entrevista no programa Science Friday a dois investigadores de virus
- Uma entrevista a um epidemiologista de Harvard, que tem projecções bastante assustadoras
- Uma entrevista do NYT sobre a matemática de contágio
- A peça de opinião do Ricardo Reis sobre os erros que as pessoas cometem ao interpretar probabilidades
A lotaria
Dos 21 casos identificados em Portugal, quinze foram registados na região Norte, um na região Centro e cinco em Lisboa e Vale do Tejo. Trata-se de 15 homens e seis mulheres. Entre os doentes confirmados há dois rapazes e uma rapariga com idades entre os 10 e os 19 anos.
Quarenta e sete casos aguardam ainda resultado laboratorial e, neste momento, 412 pessoas estão a ser vigiadas pelas autoridades de saúde, mais de 200 ligadas ao mesmo caso.
Fonte: Público, 7-Março-2020
Depois da idiotice da quarentena inconstitucional, acham as mentes brilhantes portuguesas que uns 47 testes e 412 pessoas sob vigilância é suficiente para gerir a situação. Bem diz o Mário Centeno que não haverá efeito negativo no orçamento. Deve estar a contar com a morte de muitos reformados.
Daqui a cinco semanas vamos ver como se saem.