terça-feira, 10 de janeiro de 2017

Obama despede-se

Hoje, nos EUA, as notícias têm sido dominadas pelas sessões de confirmação dos nomeados de Donald Trump, em especial pela de Jeff Sessions, que foi nomeado para Attorney General. Outro tópico quente é que, hoje à noite, Obama fará o seu discurso de despedida (farewell address), uma prática que data de George Washington.

O discurso de despedida de George Washington, que foi um dos discursos mais famosos durante os primeiros 150 anos da República, mas entretanto tinha caído no esquecimento, apesar de ser lido anualmente no Senado, também tem andado nas notícias por várias razões, entre elas:


Podem ler o discurso de despedida de Washington aqui. O de Obama podem vê-lo aqui na Destreza, daqui a pouco: às 21:00 horas de Nova Iorque/03:00 horas de Lisboa.

A brincar, a brincar...

Apenas ordinária...

Hoje de manhã, a caminho do trabalho, calhou ouvir uma lista das histórias que iam passar no All Things Considered. Uma delas é sobre Melania Trump e uma senhora dizia "Melania Trump is an extraordinary woman. She has the body of a goddess." Afinal o que faz uma mulher extraordinária é que nasceu boazona e tem dinheiro para se manter boazona.

Imaginem-vos lá a ter sexo com Donald Trump: ser extraordinária tem esse benefício. (Ainda bem que eu sou apenas "ordinária"!)

sábado, 7 de janeiro de 2017

Quem sabe, sabe...

O Department de Homeland Security (DHS) disse que, supostamente, alguns dos nodos de saída da rede Tor (ver Projecto Tor) estavam envolvidos no hacking dos e-mails da Rússia. Os fulanos do Projecto Tor acham que isso não são provas suficientes, que a Administração Obama tem mesmo de mostrar e-mails trocados pelos russos para não haver dúvidas de que as provas existem.

E o que é que nós sabemos? Sabemos que, em 2014, a Rússia patrocinou uma competição dentro da Rússia, oferecendo $111.000 a quem quebrasse o código de encriptação do Projecto Tor. Em 2015, noticiava a Bloomberg que o projecto dos russos de quebrar o projecto não estava a correr muito bem porque ia ser mais caro do que o que se esperava. Mas agora, o DHS liga o projecto Tor com o hacking dos russos. Obama disse que os russos saberiam que os americanos sabem qualquer coisa, mas que o público em geral não saberia.

Ora, vou especular que os russos sabem a encriptação de Tor e os americanos sabem que os russos sabem. Agora, os russos também sabem que os americanos sabem que os russos sabem.

Ni hao!

Reparei agora, nas estatísticas da DdD, que há coisa de duas horas e meia tivemos um pico de interesse no blogue. O país líder de visitas hoje é a China. Há uns dias, estes picos eram oriundos da Rússia. Isto não são pessoas; são computadores a fazer buscas automáticas. Estes fenómenos são bastante recentes, começaram no dia 10 de Dezembro.



Sofisticação

No dia 15 de Dezembro de 2016, no programa de rádio da Diane Rehm, a conversa era entre Madeleine Albright, antiga Secretária de Estado de Bill Clinton, e Stephen Hadley, antigo Conselheiro de Segurança Nacional de George W. Bush (2005-2009). Ambos escreveram um relatório em que analisam o papel dos EUA no mundo. Como Albright é Democrata e Hadley é Republicano, um dos méritos do relatório é ser um esforço "bipartisan", bi-partidário, se é que isso existe em português. A certa altura da conversa (hora 10:12:18), Hadley diz o seguinte:

I think the problem, you know, the Iraq was very controversial and I think President Obama came into office with a strong conviction that he was not going to reproduce or repeat what -- the mistake he believed that President Bush made in going into Iraq. And he has tried to disengage from the Middle East and tried to stay out of the Syria conflict, has felt that there were no good options to pursue. And what we've learned is that, yes, you can make mistakes by going into a situation.

But you can also make mistakes by staying out of the situation. In this case, the failure to act in Syria has been fairly catastrophic. And, you know, it's interesting because many Republicans and Democrats were both saying the same thing in 2011 and 2012, that if Syria's not attended to, the longer it goes, the more people will die, the more it'll destabilize neighboring countries through refugee flows and terrorism and the more sectarian the conflict will become, Sunni against Shia, and the more it will open the door to al-Qaida.

Fonte: Stephen Hadlwy, The Diane Rehm Show, 15/12/2016

Desactualizado

Estava a falar com uma amiga ao telefone e calhou falar em emigração portuguesa. Como no outro dia vi uns títulos nos jornais que mencionavam emigração, decidi dar uma olhada na página do Observatório de Emigração para ver se havia dados recentes. Achei a navegação um bocado confusa, mas por sorte calhei na página que tem um relatório feito em 2014 acerca da emigração para os EUA onde, na tabela 16, se menciona a distribuição por faixa etária dos emigrantes portugueses. Notei que os dados usados nessa tabela, que até é a tabela que apresenta o relatório na página do mesmo, são da OCDE de 2001. Achei super-estranho que fossem tão antigos.

Os EUA são um país que faz um censo da população de 10 em 10 anos, ora 2014 menos 2001 são 13 anos, logo houve um censo pelo meio com dados mais recentes. Mas os americanos até fazem amostras anuais. Sendo assim, podem perfeitamente, neste momento, consultar os dados por faixa etária de 2015, ou seja, em 2014, quando o relatório foi feito, os dados da amostra de 2012 já estavam disponíveis; bastava ir à procura.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Desclassificado

Saiu hoje um relatório dos Serviços Secretos americanos acerca do papel da Rússia nas eleições presidenciais. O relatório foi desclassificado e está disponível no WashPost. O mais significativo que aconteceu hoje nem foi o relatório em si; foi o facto de Donald Trump, depois da reunião, ter admitido que a Rússia tinha feito alguma coisa.

Note-se que, hoje de manhã, segundo o NYT, três horas antes da reunião com os serviços secretos, Trump equiparava o foco na influência da Rússia a uma "caça às bruxas política" efectuada por rivais políticos desconsolados por terem perdido. Depois da reunião, a música mudou. Será que o Presidente-Eleito decidiu bater a bolinha baixinho? Não acho que seja algo que dure; mas ontem, James Wolsey, antigo director da CIA demitiu-se da equipa de transição de Trump, supostamente por causa da visão que Trump tinha para as "intelligence agencies" sobre a qual não foi consultado, o que é, no mínimo, estranho.

Apesar de tudo, sinto-me muito orgulhosa de mim própria porque nunca achei que Hillary Clinton fosse assim tão má como diziam as notícias e as pessoas com quem eu falava, ou seja, cumpri o meu papel de cidadã e defendi os interesses do país que me acolheu. Eu não sei acerca de vós, mas para mim jurar fidelidade a um país é uma coisa de muita responsabilidade e que eu levo muito a sério.

Frases famosas 62

Que grande a vontade de dizer já chega.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Pina Bausch e a dança-teatro - últimos dias da exposição em Berlim



Ando há meses para ir ver a exposição da Pina Bausch no Gropius Bau. Por sorte esta tarde o Matthias telefonou-me da cidade a avisar que ia para lá, e depois ligou outra vez a dizer que me tinha arranjado uma reserva para o warm up com um dos bailarinos ligados ao Tanztheater Pina Bausch. De modo que eu deixei-me da procrastinação do costume e fui para o centro a toda a velocidade (enfim, à velocidade a que a neve e o gelo permitem). E voltei para casa a pensar que sou muito palerma: estava a preparar-me para perder esta exposição, perdi os workshops (estão esgotadíssimos) e ia perder também estes warm ups. 

 
 (fonte)

A exposição é boa, e o Lichtburg (o velho cinema de Wuppertal onde a companhia ensaia) que recriaram no pátio do Martin Gropius Bau é um espaço fenomenal. No coração da exposição, esse é o local onde as pessoas se apropriam da dança, ou a dança se apropria das pessoas, em workshops, warm ups e ensaios profissionais.
Hoje estive em dois warm ups, ambos com o Kenji Takagi. O bailarino  pega em 35 pessoas de todas as idades e com níveis muito diferentes de experiência de dança, e em 45 minutos põe-nas capazes de se escutar a si próprias, de deixar que o corpo as exprima, e de improvisar com todos os outros uma dança surpreendentemente bela.

Já anotei o horário dos próximos warm ups. Provavelmente vou passar lá o sábado inteiro: maravilhada.



Warm-up zur Ausstellung, mit Kenji Takagi
Fr., 6.1., 11, 12 Uhr
Sa., 7.1., 11, 12, 14, 16, 17 Uhr
So., 8.1., 11, 12, 14, 16, 17 Uhr
Mo., 9.1., 11, 12, 14, 16, 17 Uhr

Esqueci-me de aprender...

A app da blogger foi eliminada da App Store da Google no ano passado, mas como ainda a tenho, nem reparei. Ultimamente, a app já não funciona mesmo nada bem e os rascunhos dos meus posts desaparecem quando a app faz um crash no meu iPhone, que é para aí 70% das vezes. Como eu sou completamente viciada em tirar fotos, preciso muito que esta coisa funcione. Não me digam para deixar de usar iPhone porque eu tenho mais de $1000 investidos em música e filmes no iTunes e o dinheiro é caro.

A modos que ando um bocado chateada com isto, tão chateada que me arrependo de não ter aprendido mais russo. Andei a aprender pajalsta, poka, privyet, khorosho, ya tebya lyublyu -- tudo coisas muito educadas, que dão a impressão que eu sou uma rapariga muito mais simpática do que o que sou, mas não aprendi a dizer "Vai-te foder, Sergey Brin!"

O atraso português



Na sequência do meu artigo no DN esta semana sobre o atraso português, encontrei alguns argumentos que merecem uma reflexão e consideração.

(1) Não há atraso português porque estamos entre os 25/30 países mais desenvolvidos do mundo. Uma questão de referência geopolítica. O dito atraso sempre foi equacionado no contexto europeu. Talvez, mais recentemente, no contexto da OCDE. Assim sendo, entende-se por atraso a distância que nos separa das economias e sociedades mais ricas da Europa e do Mundo.

(2) Divergências sobre quando começou esse atraso. Remeto para o excelente artigo do Nuno Palma.

(3) O assunto não é novo. Pois não. Citando-me, “Se há tema que tem apaixonado os intelectuais portugueses nos últimos duzentos anos é o atraso português. Pelo menos desde o Marquês de Pombal, que o dito atraso é tema de reflexão nos círculos intelectuais do pensamento nacional e entre os mais variados responsáveis políticos.”

(4) Não explico qual a causa do persistente atraso. Pois não. Porque não haverá uma só causa, mas sim uma confluência de causas. Dos Vencidos da Vida a Antero de Quental, só para mencionar alguns, todos discutiram isso mesmo. No dito artigo cito muitas das causas identificadas. Não penso que nenhuma das causas "tradicionais" seja totalmente falsa. Algumas estão agora fora de moda –“a religião católica e a influência da Igreja”-, algumas evoluíram –“a pobreza dos recursos naturais disponíveis”-, mas todas elas “têm sempre algo de verdade”.

(5) A única tese que rejeito é a “excepcionalidade portuguesa”. Não há nada genético que explique o atraso português. Neste tema, remeto aliás para o artigo seguinte do Nuno Palma.

(6) Consequentemente, a natureza extrativa das instituições portuguesas não é intrínseca ao ser português. Todas as elites são endogâmicas pela própria dinâmica de apropriação privada dos benefícios públicos. Existem, depois, fatores que limitam ou impedem a endogamia e forçam a exogamia. Nomeadamente a concorrência entre grupos para ascender às elites. Em Portugal, simplesmente, os freios são fortes e os contrafreios são fracos; a dinâmica não é suficientemente sólida para romper a endogamia.

(7) A homogeneidade cultural, linguística e demográfica dos portugueses tem muitas vantagens. Mas uma desvantagem é favorecer a persistência de elites endogâmicas. Isso é claríssimo no tratamento dado à diáspora. Ou mesmo ao estrangeirado. O processo de cooptação está amplamente documentado, quer historicamente, quer na sociedade atual. Já para não falar de como as elites de Lisboa olham para as elites do Porto. E vice-versa. Tema também amplamente documentado, quer historicamente, quer na sociedade atual.

(8)  Nos últimos 50 anos, aceitou-se que o atraso português era devido à falta de escolarização e educação dos portugueses. Isso sim podemos, já, rejeitar como causa primordial. Avançámos muitíssimo. O atraso persistiu. Estou tentado a dizer que a falta de escolarização e educação durante o século XX seria bem mais uma consequência, e não uma causa, do atraso.

(9) Precisamos de soluções. Pois precisamos. Mas se elas fossem simples, se pudessem ser facilmente transplantadas, o atraso já teria sido superado. As causas não são simples, as soluções ainda menos. Evidentemente que o atraso não é um fado. Mas romper com instituições extrativas e elites endogâmicas não se faz por decreto. Ou em legislaturas de quatro anos.

(10) Como dizia a leitora mais certeira, isto é tudo conversa de café. E é mesmo. Conversa de café, tertúlias e Vencidos da Vida. Foi assim há 150 anos, vai continuar assim. Porque a discussão intelectual passou dos cafés para as redes sociais! Será mais democrática… mas será mais produtiva?

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Criaturas metafísicas 100

1.      Os livros acumulam-se nas mesas-de-cabeceira porque o tempo é escasso, isto sabemos sobre ele e isto sabia sobre ele Agostinho que sobre ele dizia não saber nada.

domingo, 1 de janeiro de 2017

Negociar com negociadores

Recebi, há umas semanas, um email do A. com uma PDF em anexo. Fiquei logo em estado de alerta porque ele nunca me envia e-mails e a primeira reacção de uma pessoa que pensa sempre o pior -- eu -- é: "O computador do moço tem um virus e eu não vou abrir nada que ele me manda!". Perguntei o que era aquilo à L., que me diz que é um teste de personalidade, que ele enviou a um montão de gente para as pessoas se "auto-conhecerem". Ah, já tinha percebido! Que seca, então... Não pensei mais no caso e prossegui com a minha vida.

Cheguei!

Pessoal, cheguei a 2017. So far, so good, mas já ameacei o Ano Novo. Ah, e estou a passar o ano rodeada de pessoal da Rússia. Não percebo quase nada do que eles dizem, mas a comida é boa. Depois, mostro...

Happy New Year, dolls!!!