Na sequência do meu artigo no DN esta semana sobre o atraso
português, encontrei alguns argumentos que merecem uma reflexão e consideração.
(1) Não há atraso português porque estamos entre os 25/30 países mais
desenvolvidos do mundo. Uma questão de referência geopolítica. O dito atraso
sempre foi equacionado no contexto europeu. Talvez, mais recentemente, no
contexto da OCDE. Assim sendo, entende-se por atraso a distância que nos separa
das economias e sociedades mais ricas da Europa e do Mundo.
(2) Divergências sobre quando começou esse atraso. Remeto para o excelente
artigo do Nuno
Palma.
(3) O assunto não é novo. Pois não. Citando-me, “Se há tema que tem
apaixonado os intelectuais portugueses nos últimos duzentos anos é o atraso
português. Pelo menos desde o Marquês de Pombal, que o dito atraso é tema de
reflexão nos círculos intelectuais do pensamento nacional e entre os mais
variados responsáveis políticos.”
(4) Não explico qual a causa do persistente atraso. Pois não. Porque não haverá
uma só causa, mas sim uma confluência de causas. Dos Vencidos da Vida a Antero
de Quental, só para mencionar alguns, todos discutiram isso mesmo. No dito artigo
cito muitas das causas identificadas. Não penso que nenhuma das causas "tradicionais" seja totalmente falsa.
Algumas estão agora fora de moda –“a religião católica e a influência da Igreja”-,
algumas evoluíram –“a pobreza dos recursos naturais disponíveis”-, mas todas
elas “têm sempre algo de verdade”.
(5) A única tese que rejeito é a “excepcionalidade
portuguesa”. Não há nada genético que explique o atraso português. Neste tema,
remeto aliás para o artigo seguinte do Nuno
Palma.
(6) Consequentemente, a natureza extrativa das instituições portuguesas não
é intrínseca
ao ser português. Todas as elites são endogâmicas pela própria dinâmica de apropriação
privada dos benefícios públicos. Existem, depois, fatores que limitam ou
impedem a endogamia e forçam a exogamia. Nomeadamente a concorrência entre
grupos para ascender às elites. Em Portugal, simplesmente, os freios são fortes
e os contrafreios são fracos; a dinâmica não é suficientemente sólida para
romper a endogamia.
(7) A homogeneidade cultural, linguística e demográfica dos portugueses tem
muitas vantagens. Mas uma desvantagem é favorecer a persistência de elites endogâmicas.
Isso é claríssimo no tratamento dado à diáspora. Ou mesmo ao estrangeirado. O
processo de cooptação está amplamente documentado, quer historicamente, quer na
sociedade atual. Já para não falar de como as elites de Lisboa olham para as
elites do Porto. E vice-versa. Tema também amplamente documentado, quer
historicamente, quer na sociedade atual.
(8) Nos últimos 50 anos, aceitou-se
que o atraso português era devido à falta de escolarização e educação dos
portugueses. Isso sim podemos, já, rejeitar como causa primordial. Avançámos muitíssimo.
O atraso persistiu. Estou tentado a dizer que a falta de escolarização e educação
durante o século XX seria bem mais uma consequência, e não uma causa, do
atraso.
(9) Precisamos de soluções. Pois precisamos. Mas se elas fossem simples, se
pudessem ser facilmente transplantadas, o atraso já teria sido superado. As
causas não são simples, as soluções ainda menos. Evidentemente que o atraso não
é um fado. Mas romper com instituições extrativas e elites endogâmicas não se
faz por decreto. Ou em legislaturas de quatro anos.
(10) Como dizia a leitora mais certeira, isto é tudo conversa de café. E é
mesmo. Conversa de café, tertúlias e Vencidos da Vida. Foi assim há 150 anos,
vai continuar assim. Porque a discussão intelectual passou dos cafés para as
redes sociais! Será mais democrática… mas será mais produtiva?