quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A Amazon agradece à AR

Diz o Económico que "As livrarias vão ser proibidas de fazer descontos superiores a 10% no preço dos livros editados ou importados há menos de 18 meses, segundo o decreto de revisão da lei do preço fixo do livro publicada hoje em Diário da República."

Esta parte aqui deve ser a minha preferida:

A Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL) já reagiu com satisfação à revisão desta lei. "Enquadra-se nas medidas necessárias de preservação do sector editorial e livreiro para a sua sustentabilidade futura", diz a APEL.

Quando apareceu o automóvel, os produtores de carroças também pressionaram o governo americano para passar medidas proteccionistas. Resultou muito bem para eles. E esta medida irá resultar muito bem para as editoras portuguesas. O silver lining é que, quanto mais depressa elas forem ao ar, mais depressa os consumidores portugueses irão poupar dinheiro, mas os lucros serão exportados para o estrangeiro. Será que o pessoal das editoras portuguesas ainda não percebeu que a Amazon também edita livros? Que os preços da Amazon são ultra-competitivos? [Ainda hoje um artigo na Bloomberg dizia que a Amazon era uma das forças por detrás deste ambiente deflacionário que se vive no mundo.] Que cada vez mais pessoas têm acesso a tablets e smartphones e podem comprar livros digitalmente?

Não há ninguém na indústria que saiba o que é a análise SWOT? Já sabemos que na Assembleia da República não há. Não é por acaso que tivemos de convidar a Troika. Pois bem, deixem que eu vos ajude: estas leis não criam sustentabilidade na indústria. A indústria portuguesa é extremamente mal gerida. Veja-se a quantidade de autores que publicam e que não são pagos porque as microeditoras, tão comuns em Portugal, vão ao galheiro. Acham mesmo que a longo prazo os autores vão continuar a suportar esta situação? É claro que não.

O português é uma língua global. Um dia destes, uma mega-editora internacional aparece, dá boas condições aos autores, boa projecção mundial e rouba o negócio às editoras portuguesas. Ou então, aparece uma editora virtual, estilo etsy, só que, em vez de ser para artesãos, é para escritores, e os escritores poderão vender o seu trabalho virtualmente e directamente aos leitores de todo o mundo. A longo prazo, as editoras portuguesas irão ao ar. Eu compro arte portuguesa na etsy e na Society6, não preciso de nenhum intermediário português para a comprar...

A propósito, já leram estes textos aqui e aqui, acerca do proteccionismo que se dá às editoras de livros escolares?

2 comentários:

  1. Como editor concordo inteiramente. Esta lei, como a anterior, é completamente surreal. Vale a pena ler para conseguir umas boas gargalhadas... em regime de desconto, que aqui não se aplica o preço fixo.

    ResponderEliminar
  2. Este comentário foi removido pelo autor.

    ResponderEliminar

Não são permitidos comentários anónimos.