sábado, 5 de setembro de 2015

Lavemos as mãos II

Quando, depois de 1945, se perguntou como era possível que os aliados não tivessem sido mais enérgicos ante o Holocausto, invariavelmente a resposta era só uma. Não sabíamos.

Em 1939, refugiados judeus, se calhar chamavam-lhes migrantes, foram impedidos de atracar nos Estados Unidos e em Cuba. Muitos desses migrantes acabaram aprisionados na Alemanha, com o destino que facilmente adivinham. Bloggers de hoje escreveriam: calma lá, não culpemos os americanos, os culpados são os nazis. E teriam razão, claro.

Em 1942 continuava-se a não se saber. Quem denunciava o Holocausto, que estava a ocorrer no centro da Europa, era, simplesmente, desacreditado. Foi o caso do membro da resistência polaca Jan Karski, que, depois de ter observado in loco um campo de extermínio, denunciou o Holocausto em movimento a diversas personalidades, incluindo Roosevelt. O presidente dos Estados Unidos estava mais interessado na sorte dos cavalos polacos do que nos judeus. Um juiz do supremo tribunal norte-americano diria, mais tarde, que não acreditou nos relatos. Primo Levy, capturado pelas forças nazis em 1944, relata no seu livro Se Isto é um Homem como, no início, ainda punha a hipótese de os rumores sobre os campos de extermínio serem isso mesmo, rumores.

Nada se compara ao Holocausto. Nada. Mas, ao ver como lavamos as mãos perante a tragédia que ocorre às nossas portas, não consigo deixar de me perguntar se os aliados, há 70 anos, teriam agido de forma diferente caso soubessem. É que nós sabemos.

1 comentário:

  1. Luis está era uma tragédia anunciada
    http://www.bbc.com/news/world-middle-east-29991161

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